sábado, 19 de abril de 2014

O VALOR DA INFORMAÇÃO

Os carros incendiados - fotografia Folha de S. Paulo
Há alguns dias achei numa edição do jornal Folha de S. Paulo do dia 12 de julho de 1963 uma notícia sobre um incêndio numa litorina da Central do Brasil.

Realmente, não era uma litorina, mas sim um TUE - Trem-unidade elétrico que funcionava na linha de subúrbios da Central do Brasil entre a estação de Roosevelt, em São Paulo, e a de Mogi das Cruzes, linha atualmente feita pela CPTM.

O fogo consumiu dois carros (segundo o jornal, "vagões" da composição). E foi publicada uma foto de um deles. Apesar de a qualidade da fotografia reproduzida na Intenet ser bem ruim, foi boa o suficiente para um especialista em carros, vagões e locomotivas identificá-la e fazer o que ele chamou de "descoberta". Isso aconteceu porque postei a foto e parte da reportagem no Facebook.

Estas pessoas costumam fazer a listagem de material rodante de algumas ferrovias brasileiras, de forma a catalogarem todo, se possível, o material que rodou por nossas linhas, em determinadas épocas ou por toda a história de certas ferrovias.
Os carros antes do incêndio - acervo Hugo Caramuru

Pode parecer estranho a muita gente esta catalogação. O fato, porém, é que ela seria muito difícil até para alguém que a houvesse feito desde o início de operações de determinadas linhas acompanhando o dia a dia dessas movimentações - compra, venda e baixa de equipamentos. Imagine fazer isto anos depois de a ferrovia ter desaparecido, como a Central.

E mais: qual seria a importância disso? Um mero passatempo? Não, não apenas isso. Esta listagem ajuda - e muito - a contar a história das ferrovias nacionais em mais detalhes, pois pode identificar datas e épocas de determinadas fotografias ou histórias reais acontecidas, mas das quais se perderam as datas. Aliás, nunca vi povo como o brasileiro para fotografar ou copiar fotografias e histórias sem qualquer menção de data. Uma foto sem data e sem local pode diminuir em até 90% a importância de uma fotografia ou de um relato.

Neste caso, vejam o que Hugo - que respondeu a mensagem com a foto e a reportagem - comenta: "Esta foto vem me esclarecer uma dúvida que me surgiu a respeito do ano de 1963. Aliás, foi nesse próprio ano: eu morava no Rio de Janeiro e lá surgiu um TUE meio incomum formado pelos carros ER1021-E21-ER1006. Eu ficava pensando: 'cadê os demais , E6 e ER6?' Em 1964, este carro ER1006 foi pintado e reintegrado aos seu irmãos, ficando então: ER6-E6-ER1006. Bem, e aí? Aí que o TUE 6 era de São Paulo (único com aquela calha no teto - não comum nos TUEs série 100). Aqui está ele, nesta foto que você postou, e o motivo de terem sido totalmente reformados apenas os carros ER6 e E6 (Motor)". Em seguida, Hugo enviou-me uma fotografia do carro ainda inteiro.

Pode parecer muito cheio de dados técnicos que pouca gente conhece, mas poderá ser importante para outras pesquisas na mesma área.

Somente para terminar, o acidente deu-se no bairro da Roseira, próximo à estação de Ferraz de Vasconcellos. Um curto-circuito o causou quase às duas horas da tarde do dia 11 de julho, com cerca de passageiros que conseguiram escapar ilesos graças ao alarma dado pelo maquinista da composição.

Um comentário:

  1. Na Central entre Roosevelt e Mogi, "litorina" era um TUE que não parava nas estações intermediárias entre Itaquera e Roosevelt. Inicialmente eram a TUE 100 de assentos acolchoados, e depois TUE 400, e faziam Itaquera - Roosevelt em apenas 25 minutos . Tarifa um pouco maus caro que o subúrbio comum.

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