terça-feira, 29 de abril de 2014

GREVES FERROVIÁRIAS (E OUTRAS)

 Folha de S. Paulo, 2/9/63: greve no porto de Santos
Greves são uma constante aqui no nosso querido Brasil. Desde que me conheço por gente, ouço falar em greves. No início, eu era a favor dos mocinhos - os "pobres e explorados" empregados das empresas. Aos poucos, você começa a perceber coisas que não fazem sentido, ou que fazem, dependendo de quem as interpreta.

Lembrando em minha memória e lendo livros e velhos jornais percebo que as greves cresceram de uma forma abusiva após a Segunda Grande Guerra. Esta coincidiu com o período chamado "Estado Novo" de Getúlio Vargas no Brasil. O fim do Estado Novo foi o começo das greves. A democracia chegou e brasileiros confundiam - ainda confundem - democracia com anarquia.
Folha de S. Paulo,2/10/63: greve nas ferrovias paulistas
A disputa entre patrões e empregados sempre existiu e, pelo visto, sempre existirá. As greves somente não existem quando algum governo afrouxa a corda. Quando ele aperta, elas praticamente desaparecem. Isso foi o que aconteceu durante o regime militar (1964-1985). Só que não durou o período todo, por que Geisel começou a afrouxar a corda e, principalmente durante o período do Figueiredo, um general que não nasceu para ser ditador, a corda afrouxou de novo.
Folha de S. Paulo,5/9/63: greve na Santa Casa de S. Paulo
Quando os militares saíram, os presidentes afrouxaram. As greves bancárias e em empresas públicas, além de também ocorrerem em empresas privadas, causaram enormes prejuízos ao país. Por mais gananciosos que sejam os banqueiros - o Brasil é o campeão mundial dos juros altos e dos lucros dos bancos - dando certa razão aos empregados para pleitear aumentos de salários (o Itaú acaba de anunciar um lucro de 2,5 bilhão de reais em 2013), esses mesmos banqueiros não querem diminuir sua margem de lucros, o que melhoraria a situação de empregados e ajudaria o país em financiamentos de obras. E isso não vai mudar.
Folha de S. Paulo,15/10/63: greve dos professores
As greves na Petrobrás, por exemplo, levam a aumentos nos preços dos produtos e consequentemente à inflação. Dizer que o preço dos combustíveis está baixo em relação aos preços de outros países não quer dize nada, porque ninguém sabe a real estrutura dos preços na empresa. O que quero dizer? Que uma greve bancária, na Petrobrás ou em outras empresas não significam necessariamente aumento de preços. Porém, justificam-nos, mesmo que falsamente - e isso acaba repassado para o público e o círculo vicioso se fecha.

Há greves que acabaram com a indústria em regiões ricas. São Bernardo pode ser considerada uma delas. A indústria automobilística se concentrca lá e em São Caetano - com o aumento das greves, muitas linhas de montagem desapareceram da cidade, embora as fábricas originais ainda se mantenham por lá. Mas e a Brastemp, por exemplo? Foi-se.
Folha de S. Paulo,27/9/63: greve banc'ria
E as ferrovias - ah, agora chegou o ponto crucial. As greves nas ferrovias existiam desde o começo so século passado, mas pioraram muito entre 1946 e 1964. Em empresas que estavam em período de decadência pelos motivos já apresentados em outros artigos neste blog, ela era veneno. Mas continuavam, todos os anos. Os jornais falam de greves todos os anos nesse período. Transportes paravam, prejudicando o povo, mas dando poder para os ônibus e para os caminhões. As ferrovias, já não priorizadas pelo governo, já dono de todas elas (a última a ser encampada foi a Companhia Paulista, em 1961, e exatamente por causa de uma greve canibal), aumentava os salários e reduzi a qualidade dos servi;cos. Deu no que deu.

Seria interessante ler mais sobre as greves ferrovi;aris, mas é um assunto que para mim acaba se resumindo ao que são as greves hoje em dia e eram também naquele tempo - a arrogância dos proprietários das empresas e o desejo de ganhar cada vez mais poder, inclusive político, dos chefes dos sindicatos - porque a esmagadora parte dos funcionários somente se ferrava, como ainda se ferra.
Folha de S. Paulo,29/10/63: greve nas industrias de Sõ Paulo
No fim das contas, é difícil avaliar greves, pois não se pode de forma alguma confiar nos dirigentes das empresa e dos sindicatos. Todos mentem em seu próprio proveito.

Enquanto isso, o prejuízo à economia brasileira e à sua infraestrutura são enormes. E, como temos tido governos incompetentes há anos e anos, nada se resolve, tudo somente piora. A maioria das greves termina sem punição alguma a sindicatos ou empresas: é a chamada "greve sem risco". Os dias parados são sempre pagos, Os piquetes são constantes - quem não quer aderir à greve não consegue trabalhar, impedido pelos grevistas.E, pior: é ilegal fazer greves em empresas estatais, principalmente nas que afetam diretamente a vida das pessoas - lei não respeitada por grevistas e por governos.

As manchetes deste artigo são todas da Folha de S. Paulo de 1963. Tempos de governo fraco - João Goulart, aquele mesmo que os petistas hoje endeusam. A verdade, no entanto, é que Jango foi um dos piores governantes da história deste país e mereceu sua queda.

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