quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A CONSTRUÇÃO DA ESTRADA DE RODAGEM SÃO PAULO-MATO GROSSO (1922)

Chegada da comitiva em Itu (1922) aguarda a chegada das autoridades da cidade

Em maio de 1922, foi aberta a Estrada de Rodagem São Paulo-Mato Grosso. Ou, pelo menos, o trecho São Paulo-Itu. A estrada passou a ser chamada indistintamente pelo nome acima como também por Estrada Nova de Itu. A velha era a antiquíssima Estrada de Itu, ou Estrada Velha de Itu, ou ainda Estrada Real de Itu, dos quais alguns vários trechos ainda existem hoje em dia, alguns em péssimo estado.

A Rondon, que ainda não tinha este nome - creio que o ganhou após a morte do Marechal Rondon, em 1959 - passava, como era comum na época, por dentro das cidades. Afinal, o movimento de automóveis era pequeno e os prefeitos comentavam que "era interessante que os autos passassem pelo centro das cidades para poderem ver as maravilhas de cada uma delas".

Trecho não identificado da rodovia no dia de sua inauguração em 1922

O trecho aberto em 1922 era no início - ou seja, o trecho Pinheiros-Barueri - na verdade uma retificação da estrada velha. A atual Corifeu de Azevedo Marques, que continua com o nome de Autonomistas (em Osasco), Rui Barbosa (Carapicuíba) e Anhanguera (Barueri) era o leito da estrada velha e basicamente continuaria como leito da nova. Houve apenas retificações na altura do Instituto Butantan (o trecho ali abandonado em 1922 ainda existe em parte, sem asfalto e quase intransitável) e do Parque Continental (onde o leito original era a rua Emílio Carlos). Dali até a estação de Barueri era praticamente o mesmo de séculos.

A partir da estação de Barueri a estrada velha seguia paralela à linha da Sorocabana (hoje CPTM), sem cruzar a linha; esta somente iria ser cruzada pela estrada antiga lá em Jandira. A nova cruzava a linha em Barueri, subia o morro e entrava por onde hoje é a Estrada dos Romeiros até Santana de Parnaíba, onde também entrava ao lado da Igreja Matriz, passava pelas ruas tricentenárias e saía lá na frente no caminho para Pirapora.

Passando também por dentro desta cidade e depois pela de Cabreúva, desembocava no centro de Itu. Apenas alguns anos depois o trecho além de Itu seria construído, seguindo progressivamente até atingir o rio Paraná na divisa do Mato Grosso.

Construção da nova ponte sobre o Tietê em Pirapora do Bom Jesus (1991) na variante da rodovia construída na cidade nesse ano

Com o tempo, a estrada ganhou o nome de Marechal Rondon. Até por volta de 1980, ela seguia por onde está descrito. Porém, em algum ponto, convencionou-se chamar a Marechal Rondon começando na via Anhanguera, em Jundiaí, e a estrada Jundiaí-Itu ficou com o nome. O trecho Barueri-Itu ficou parcialmente com o nome de Estrada dos Romeiros até Pirapora.

Em 1922, em Parnaíba, a estrada que cruzava o município de Barueri a Pirapora, na época distritos de Parnaíba, teve de sofrer retificações em relação a alguns trechos da estrada anterior. Todo o trecho da Cruz Preta que segue paralelo ao córrego da Cachoeira foi aberto para esta nova estrada; a anterior passava pela área ao lado do córrego do Lageado e pela pedreira que até hoje existe ali.

A ponte metálica da estrada original (1922) em Pirapora foi construída bem antes disso (1880) e retirada (1991) para ser abandonada num depósito de ferro-velho

Em 1982, já com muito mais tráfego de automóveis, ônibus e caminhões, uma variante foi aberta pela Prefeitura de Parnaíba ao longo do morro da Igreja Matriz costeando o rio Tietê, pois esse tráfego estava causando rachaduras na estrutura da velha igreja. Como consequência, os carros deixaram de entrar pelo centro da cidade para cruzar a sede do município, situação que persiste até hoje, para sorte do casario tombado pelo Condephaat.

Ponte velha de madeira inaugurada com a rodovia em 1922 - foi substituída por uma de concreto nos anos 1940 - e na foto menor trecho não identificado da estrada , também em 1922

Nas fotografias, alguns trechos da estrada na época de sua inauguração, registrados pela Revista da Semana de 13 de maio de 1922. A inauguração foi feita em carreata pelo então Presidente do Etado Washington Luiz Pereira de Souza.

8 comentários:

  1. Antes da Castello Branco os ônibus para Bauru e a Alta Paulista seguiam de SP para Jundiahy e então para a Marechal Rondon via Itú. Creio que era mais rápido (e, talvez, mais curto) seguir essa rota do que pegar a Marechal Rondon desde o seu início. Afinal, a Anhanguera era uma estrada mais moderna e em pista dupla.

    Era terrível ter de atravessar as cidades - perdia-se muito tempo nisso, e eram várias. Será que ainda é assim?

    Os ônibus abandonaram a Anhanguera depois do surgimento da Castello Branco, mais moderna ainda e com traçado mais adequado para se pegar a Marechal Rondon. À medida que a Castello foi sendo prolongada, cada vez mais a Marechal Rondon foi sendo abandonada.

    Hoje a rota padrão para Bauru consiste em deixar a Castello logo após a travessia da Serra de Botucatu, pegar uma interligação e então a Marechal Rondon. Só que seu traçado parece ser bem melhor que no passado, sem contar o fato de que ela tem pista dupla. O problema são os muitos pedágios que encarecem a viagem.

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  2. Ola Ralph

    No início dos anos 50 (criança ainda) a fámilia
    costumava "viajar" para lugares próximos a Botucatu na carroceria de um pequeno caminhão
    Ford 1931 do meu tio Armando....várias vezes
    "rodamos" pela estrada que mais tarde seria
    a Marechal Rondon...era de terra com cascalho..
    a garotada se referia a ela como a estrada que ia para São Paulo.....

    Daniel Gentili

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  3. O trecho da estrada entre Cabreúva e Itú é atualmente a "Estrada Parque APA Rio Tietê", administrada pela ONG "SOS Mata Atlântica".
    Carlos R Almeida

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  4. Muito interessante seu texto. Você tambem comenta brevemente sobre a Antiga Estrada Real de Itu que dela realmente ainda existem alguns trechos. Em Itapevi ela existe no bairro de Ambuitá (um pequeno trecho) e tambem em Jandira. Em Itapevi recentemente na construção da Eurofarma, foram encontradas as margens daquela estrada evidencias arqueologicas do período colonial (Primeiros anos) e anteriores (material indígenas bem anterior ao período colonial). Hoje estao sob a guarda do Iphan. Li alguns textos mencionando que essas Antigas Estradas Reais foram construidas em cima de caminhos indígenas já existentes anteriormente.

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  5. Bom dia, aqui na região de Lençóis Paulista, temos uma via que segue em paralelo a Marechal Rondon, que é conhecida como a "dupla". Moradores mais antigos dizem que era esta a via usada antes da Rondon como conhecemos hoje. Seria a mesma estrada deste poste?

    Daniel Lima

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    1. Daniel, eu realmente não sei. A construção da Rondon levou anos. Em alguns pontos foram aproveitados trechos já existentes na época e em outros não. Por exemplo, aqui em Parnaiba eu sei quais foram e quais nao foram lendo atas da camara municipal. Já em São Paulo foram mapas antigos que mostraram os trechos que sim e os trechos que não. Em elnçois pode haver essa possibilidade, mas teria que ver nessas fontes - se é que elas existem. Abraços

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  6. Aqui em Lençóis Paulista em meio a zona rural uma estrada conhecida como a "dupla" corre em paralelo a Rondon. Segundo antigos moradores da região esta seria a estrada usada para os trajetos Agudos / Lençóis / São Manuel / Botucatu / SP nos tempos "pré" Marechal Rondon. Seria esta a mesma estrada a que você se refere neste post?

    Daniel Lima

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  7. Daniel, sou de Lençóis e não me recordo de alguma estrada paralela.

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