terça-feira, 8 de junho de 2010

NORDESTE SEM TRENS

Estação de Paquevira, no sul de Pernambuco, em 1977 - foto revista VEJA

Em 15 de março de 1977, diversos trens de passageiros que mal e mal se aguentavam no Nordeste foram desativados. A desculpa: "economia de combustível". Claro, nas locomotivas diesel. No ramal de Camocim, CE, a população se sentou sobre os trilhos para protestar. Não adiantou. Não somente o trem foi mesmo eliminado, como também nesse ramal específico, os trilhos foram logo arrancados. Nem para carga ele servia: o porto de Camocim, de peso econômico muito grande no Ceará do século XIX, já estava decadentíssimo então.

As populações pobres que tinham trens vagabundíssimos sofreram. Vejam quem, segundo a revista VEJA da época, reclamava "em nome deles": Renan Calheiros, então secretário da Prefeitura de Murici, Alagoas. Lá, todos os trens foram eliminados nesse dia, com exceção dos de subúrbio entre Lourenço de Albuquerque e Maceió, que subsistem até hoje. Ele contestava o fato de que as rodovias substituiriam os trens, alegando que elas estavam longe de ser boas. É provável.

Esses trens do nordeste, então muito ruins, deixavam, numa comparação, os trens paulistas da época, também já decadentes e nas mãos da Fepasa - a ferrovia que, segundo alguns, foi "criada para acabar com todas elas" - parecerem verdadeiros trens de luxo.

Nesse dia, acabaram com as linhas de longa distância em Alagoas, com o ramal de Camocim, com as linhas na Paraíba, no Rio Grande do Norte e com muitas em Pernambuco - algumas sobreviveram até os anos 1980. Isso, se a relação que a revista listou na sua edição de 23 de março de 1977 estava correta.

O material de muitas delas, inclusive rodante, foi para as linhas do subúrbio em Recife, que era altamente deficiente. Teriam estes trens ganhado grande coisa? Provavelmente trocaram seis por meia-dúzia. Dez anos depois, Recife teria seu metrô, construído sobre as linhas da Great Western na região metropolitana de Recife. As linhas de subúrbio que não foram engolidas pelo bom metrô acabaram aos poucos e sofriam na época da safra de açúcar: as usinas congestionavam as linhas para o porto, de forma que os trens de passageiros tinham de parar nessa época.

Desde o final dos anos 1950, vinha se processando no Brasil inteiro o fim dos trens de passageiros, por um motivo ou outro. Em 1991, havia pouquíssimas linhas operacionais da RFFSA; no final de 1996, nenhuma. Sobraram os trens da Fepasa em São Paulo, que acabaram em lamentável esquecimento, dirigidos pela Ferroban, por coincidência em outro dia 15 de março - de 2001. Ficaram só os trens da Vale e o do Amapá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário