terça-feira, 29 de junho de 2010
LOBOS ESFAIMADOS
É incrível. Faz pelo menos quarenta anos que eu presto atenção, em algumas épocas com maior intensidade, em outras com menor, às notícias econômicas do Brasil. Desde a época do Delfim Netto, para ser mais exato. Hoje (ou terá sido ontem?) a pérola foi do ministro Mantega, que diz que crescimento maior que 5,5 por cento ao ano é prejudicial ao País.
Não sou economista, longe disso. Portanto, realmente, não posso analisar os cálculos que o Ministério da Fazenda, as empresas, os bancos, o Banco Central e outros fazem. Mas — pô! — está na cara que tudo que parece bom causa inflação ou prejuízos ao país. Como aquele ditado que diz que "tudo que é bom faz mal à saúde ou engorda".
Durante todos esses quarenta anos, descobri pelas declarações de nossos ministros, Presidentes e políticos em geral que tudo causa inflação: crescimento, depressão, correção monetária, aumentar salário, crescer pouco, crescer muito, muita produção, pouca produção, aumentar tarifas, abaixar tarifas, aumentar juros, abaixar juros etc. etc. etc.
Será que esses caras realmente entendem do riscado? Ou entendem tanto quanto eu, um químico, pequeno empresário, pesquisador histórico e, às vezes, escritor? São todos banqueiros ou relacionados com bancos. Durante todos esses anos, os bancos brasileiros fizeram lucros altíssimos — para não dizer vergonhosos. A inflação comendo solta, a índices estratosféricos, ou a 4 por cento ao ano, e os bancos com lucros escandalosos. Claro, sempre dando aumentos de salários baixíssimos em relação à inflação e demitindo funcionários a torto e a direito, especialmente quando se deram as diversas fusões entre eles que já acompanhamos há anos.
Será que os ministros e políticos trabalham para os bancos e não para o povo? Será que os bancos dão aumentos baixíssimos para seus funcionários porque estariam preocupados com o aumento da inflação? A primeira parece provável. A segunda, bastante improvável. Mas os políticos negarão a primeira pergunta e os banqueiros responderão afirmativamente à segunda.
Minha experiência de vida mostra que ambos mentem. Agora, não podemos crescer como a China porque a infraestrutura não dará conta. Pode até ser — mas, então, vamos crescer quando? Quando será que os juros vão baixar, se há 40 anos eles não baixam a níveis internacionais? Sempre a resposta é "na hora que for aconselhável fazer isso". Quando será aconselhável? Daqui a cem anos? Será que o país existirá daqui a cem anos? Por que somente o Brasil tem juros vergonhosos, tanto quanto os lucros bancários? Será somente coincidência?
Para quem perguntar e pensar isso lendo o que escrevi, digo: não, não sou comunista nem sou fã de partidos de esquerda. Aliás, não sou fã de partido algum — mesmo porque partidos, pelo menos pela definição da palavra nos dicionários, não existem no Brasil.
Marcadores:
Brasil,
Delfim Netto,
Economia,
inflação,
Ministério da Fazenda
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Olá Sr. Ralph, boa noite.
ResponderExcluirO que mais dói, é ter homens que dirigem nossa economia atual, os mesmos que criticaram Roberto Campos e Delfim Netto: fazem e pensam iguais. Será que os dois primeiros estavam certos ou será que quem entra no cargo tem que jogar de uma maneira apenas?
Para quem viveu, ainda que de raspão, a efervescência de 1968, viu tantos jovens abandonando carreiras promissoras para tentar moldar o futuro pela arriscada via da luta armada, acompanhou a luta pela imposição do socialismo... é terrível ver a acachapante rendição dos antigos revolucionários às benesses do poder sob as bençãos do capitalismo total liberto do espantalho da antiga URSS. Oswald de Andrade é que tinha razão quando terminou a peça "O Rei da Vela" com o capitalista americano no Brasil exclamando "Oh! good business!". Quem diria, a Guerra Fria foi vencida com cuecas cheias de dólares.
ResponderExcluirNa verdade, Gorni, nao há surpresa nisso. A essencia do ser humano, depois de velho e experiente, é perceber que socialismo é uma utopia. Quem diz que continua mesmo envelhecendo, mente. E isso ocorre porque ele vai se acostumando às coisas boas da vida, como dinheiro, tv, viagens, etc e não aceita mais o socialismo, porque neste, ele nao tem isso...
ResponderExcluirPara completar: hoje em dia, tanto faz quem é o ministro da fazenda. Eu, você, o ex-banqueiro ou o caipira do interior descalço e sem dinheiro. Todos vão simplesmente dizer "sim senhor" aos banqueiros que mandam no ministro - seja ele quer for. Quem não fizer reverencia, vai pra rua. Simples como isso.
ResponderExcluirBom, Ralph, até dá pra entender porque os velhos se tornam conservadores (aliás, estou me tornando especialista nisso, por experiência própria...). Mas o que é realmente desanimador é ver jovens deixando de questionar a situação atual e assumindo gostosamente o, vá lá, "status quo". O que me deixa curioso... o que será que tornou a geração jovem do final dos anos 60-início dos 70 tão contestadora? De toda forma, aquela época me pareceu bem mais criativa e questionadora, em todas as esferas da vida, do que a que vivemos a partir dos anos 80. É como se tivesse havido uma rendição geral ao conservadorismo, inclusive entre os jovens, particularmente depois do acachapante colapso soviético.
ResponderExcluirÉ, Gorni, isso mesmo. E depois, quando uma vez eu falei de "capitalismo selvagem pós-derrubada do muro de Berlim", teve gente que disse que eu estava falando besteira...
ResponderExcluirBesteira nada. Para mim, pelo menos, é a mais pura realidade: livres do espectro do comunismo subversivo, rompeu-se o relativo equilíbrio na relação capital x trabalho que predominou ao longo do século XX. Os capitalistas estão com as mãos livres para remover do seu sistema as poucas vantagens pró-trabalhador que foram concedidas (no Brasil, principalmente por Vargas) para aquietar as massas.
ResponderExcluirO que eu poderia dizer a não ser MUITO OBRIGADO
ResponderExcluirSr. Ralph.Sou uma mineira apaixonada pela sua
terra, que infelizmente nunca mais teve a oportunidade de voltar a minha terra natal, sem muita habilidade tentei encontrar alguma fotografia de ORION,confesso que chorei quando vi a velha estação onde tantas vezes brinquei com meus irmãos quando meninos
que saudade e que tristeza.
Ana Maria da Silva Bastos 53 ano Rio de Janeiro
,
Ana Maria, acho que o seu comentário não se refere ao que está escrito acima. Ele se refere afinal a qual postagem minha? Grato
ResponderExcluirhttp://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_mg_linhacentro/fotos/orion051.jpg
ResponderExcluirSenhor Ralfh eu me referi a fotografia desta reportagem, citada a cima.