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sábado, 26 de maio de 2012

UMA VIDA NA SAUDOSA COMPANHIA PAULISTA

A vida de um ferroviário da Companhia Paulista de Estradas de Ferro foi registrada num caderno, tipo carteira profissional. Trata-se de Victor Ceron, aquele que foi chefe de estação em Loreto, Araras, nos anos 1930 e 1940.
Acontece que, antes, ele passou por diversas estações da mesma ferrovia. Foram treze anos antes de ele assumir a chefia em Loreto. As anotações todas estão mostradas aqui: local, datas, salários... tudo com um carimbo que, pelo cisto, teve o mesmo modelo durante os quase trinta anos de serviços prestados por Victor.
E embora tudo fosse muito simples, era também de uma beleza singela: carimbos redondos em papéis amarelados pelo tempo...
O dono deste precioso acervo é Vinicius Pereira, que gentilmente cedeu-me o material escaneado.

sábado, 12 de maio de 2012

BELEZAS PERDIDAS 2: LORETO, CIA. PAULISTA, ARARAS

O título deste artigo poderia ter sido "Quando Araras era mais gentil"... ou com "Loreto" no ligar de Araras. Estou nisto parafraseando o blog de Martin Jayo, "Quando a cidade era mais gentil", referindo-se a São Paulo.

Deveríamos ter o direito de manter nossas memórias vivas para sempre. Um universo paralelo particular para onde sempre poderíamos entrar quando quiséssemos, para reviver momentos inesquecíveis. Teríamos uma chave só para nós. Hoje em dia, seria talvez uma senha.

Um lugar onde poderíamos conversar com as pessoas daquela época, pessoas que conhecemos e que hoje não estão mais vivas, ou não são como eram, ou ver locais que já não existem mais. Nesta caso específico não seria o meu caso. Jamais conheci o bairro e a estação de Loreto quando a estação funcionava, quando ainda havia um trem passando por ali, quando ainda havia uma linha férrea.

Loreto fica em Araras. Era a primeira estação após a central da cidade, sentido Leme. Foi desativada em 1976. Em 1996, ainda cheguei a ver os trilhos debaixo do mato e a plataforma da estação e do armazém demolidos havia anos. Um ano depois e os trilhos desapareceram. Dois anos depois, escrevi ali o episódio de João e a Máquina de Disney, publicado neste blog há pouco tempo.

Além da família Mello, de João, viveram ali outras famílias, como a Ceron. Vinícius enviou-me fotografias maravilhosas do local. que incitam minha imaginação a ir para o universo paralelo particular dele, do tipo "memórias o que não vivi". Ele, na fotografia abaixo, mostra a família do chefe da estação, seu bisavô, o Sr. Victor Ceron: "Em ordem da esquerda para a direita na primeira linha - Sylvia Forster Ceron (Esposa de Victor Ceron, Chefe da Estação de Loreto); Desconhecida; Gustavo Ceron (Filho do Chefe); Alice de Melo; Lucila de Melo. Na segunda linha - Ambas desconhecidas. Na terceira linha - Yoko Motoashi; Mercedes Ceron (Filha do Chefe da Estação - Minha avó) - Foto tirada no quintal da casa do chefe da estação - Tirada em 28/06/1947". Lindíssima fotografia, muito característica dessa época. Lembram as do post Belezas Perdidas, três anos atrás...
Na foto no topo, Vitor Ceron, o chefe, como dois de seus filhos, Gustavo e Mercedes. Como se vê, criava-se galinhas em Loreto. Hoje tudo isso desapareceu, segundo me disseram, existe ali um loteamento que destruiu toda a área do antigo pátio da Companhia Paulista. As galinhas foram literalmente atropeladas pelo "pogresso".

Não há mais bicicletas.
Não há mais placas na linha (que linha?)
Não há mais bastões de staff (para que?)

terça-feira, 17 de abril de 2012

JOÃO E A MÁQUINA DE DISNEY

A estação de Loreto nos anos 1970. Tinha, então, 72 anos de idade. Foto Plinio da Silva Telles

Quando eu estive pela primeira vez em Loreto em 1996, já era tarde demais. O lugar já estava abandonado, e a estação havia sido demolida. O mato cobria toda a área, somente os trilhos ainda deixavam rastros do que um dia foi o ramal ferroviário de Descalvado. Eu fiquei decepcionado, pois as indicações que eu tinha de pessoal da cidade de Araras me levavam a crer que ela ainda estava por ali: somente sobrava junto aos trilhos um prédio pequeno, antigo, que depois descobri ter sido a escolinha da vila.

Continuei tentando obter mais informações sobre a estação. Pouco tempo depois, por intermédio de um amigo comum lá de Araras, eu conheci o João. Ele foi muito gentil e contou-me que nasceu e viveu muitos anos em Loreto, tendo, ao final, me cedido duas fotos antigas da estação, uma delas com a locomotiva chegando, vindo de Araras. A foto, sem data, dava a impressão de ter sido tirada por volta dos anos 1920 – uma suposição, apenas. Era bonito o prédio. O beiral do telhado era de madeira trabalhada e havia várias árvores ao redor. João me mostrou também fotografias das festas que todos os anos se realizavam na vila, em volta da igreja. Realmente, havia muitas pessoas, que, se não eram dali mesmo da vila, vinham de fora, em trens especiais cedidos pela Paulista. Era um tempo que todos procuravam se ajudar, afinal, ali, muita gente era empregado da companhia.

Menos de dois anos depois, os trilhos se foram, vendidos para levantar dinheiro para pagar as dívidas da então moribunda Fepasa. Consegui uma foto de 1986, que mostrava a estação, já no mais completo abandono. A demolição veio depois disso, portanto. Mas aquela foto da estação com a locomotiva me impressionou, e eu perguntei à minha irmã, que é pintora, se ela pintaria um quadro a partir da foto. Ela disse que uma prima nossa seria mais indicada para isso, e algum tempo depois, a Célia – esse era seu nome – me mandou o quadro, desenhado a carvão, muito bonito. O desenho ainda ficou um bom tempo guardado, até que, alguns meses atrás, resolvi emoldurá-lo.

Foi aí que minha irmã me disse que havia um outro quadro, quase igual – na verdade, um esboço feito pela Célia e que não havia lhe agradado, tendo ela o deixado de lado. Ele era um quadro um pouco mais simples, pois não havia sido acabado. Logo depois, eu fui até Araras e dei este último, também emoldurado, para o João. Ele pareceu gostar muito dele. Mostrou-me, no quadro, o local em que mais tarde a casa em que viveu seria construída. Duas semanas depois, novamente em Araras, fui outra vez visitá-lo, quando ele comentou que havia gostado demais do quadro. De repente, ele se levantou e me pediu que fosse com ele até Loreto, tendo ele levado junto a sua máquina fotográfica. Loreto era perto, uns cinco minutos de carro. Chegamos e descemos.

Desolação total, como já sabíamos. Ele me mostrou a igreja, fechada, e voltou a falar das festas, que não se realizam mais, há cerca de trinta anos. A escolinha, fechada e abandonada, os dormentes, ainda no lugar, sem os trilhos. Da estação e do armazém, somente restaram o piso e a plataforma. Ele tomou a máquina e tirou uma foto, do mesmo ponto do qual aquela do quadro havia sido tirada. Entramos na área onde um dia esteve o armazém, e João parecia ver os sacos de açúcar que ele e os amigos galgavam quando crianças, para ficarem deitados sobre eles e, lá do alto, observarem o carregamento dos vagões.

A sua casa, na frente da entrada da estação, havia sido vendida e estava agora bastante descaracterizada e já sem o velho pomar. Aliás, fora a casa, a escolinha e a igreja, pouca coisa restou do outrora movimentado vilarejo. O João estava bastante emocionado, mas nada disso era novidade para ele, que costuma às vezes passar por ali. Na verdade, havia algo que ele nunca havia percebido: que a plataforma ainda estava lá, coberta pelo mato, pois estas, de pedra, raramente são demolidas. Foi aí que eu me lembrei de uma história do Mickey, de Walt Disney, que eu li quando criança, há quase quarenta anos: o ratinho havia conseguido uma máquina fotográfica que tirava fotos do passado, desde que ela utilizasse um filme especial. No fim, depois de várias fotos, o filme acabou e não havia outro. Em Loreto, João tinha o filme – suas memórias – mas não tinha aquela máquina. Entramos no carro e fomos embora com nossas lembranças.

Isto já foi há pelo menos dez, onze anos. Hoje, sei que a área de Loreto, por onde passavem os trilhos e havia as plataformas da estação e do armazém, a escolinha, tudo foi arrasado para ser feito um loteamento residencial. Nem parece que, um dia, trens passaram por ali.

quinta-feira, 1 de março de 2012

AS FERROVIAS EXISTIRAM, SIM E NÃO SÃO LENDAS!

Uma coletânea de fotos (bem, não exatamente coletânea: são somente seis) ferroviárias tiradas ao acaso na minha coleção... deve desperta saudades em quem conheceu e tristeza em quem não conheceu. O carro acima, fabricado em 1897, pertenceu à Companhia Paulista e estava assim, há cerca de seis anos, num sítio em Tutoia, Araraquara, quando o fotografei. Mais tarde, foi vendido e um senhor o reformou, mantendo-o em um sítio em Santa Cruz das Palmeiras.
O virador acima, de bitola larga, está (ou estava) em Porto Ferreira, no pátio da estação ferroviária, quando o achei.

A placa de baldeação estava no chão da estação abandonada em Passagem, Pitangueiras, SP. Hoje, está em Jaboticabal.
A estação de Loreto serviu de cenário em 1947 para o filme "Luar do Sertão". Alguém assistiu: A foto foi tirada numa dessas filmagens nesse ano. A estação foi demolida há mais de quinze anos, hoje não sobra nem a plataforma.
Outra placa de baldeação, esta mantida em seu lugar, em Campos Salles, antiga bitola métrica da Paulista, ramal de Agudos. Nesta estação se baldeava para o ramal de Barra Bonita.
Esta velha bilheteria está na estação de Hammond, perdida no meio do mato em Guariba, SP. Há mais de quarenta anos que não se vende mais bilhete algum ali.