Folha de S. Paulo, 22/6/1967
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A Bragantina, introduzida em São Paulo a partir da estação de Campo Limpo em 1884, levava inicialmente trens até a estação de Bragança Paulista, um município que naquela época tinha muito mais importância para o Estado do que tem hoje.
Folha de S. Paulo, 22/6/1967
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Situado na divisa com Minas Gerais, era relativamente próximo à capital paulista. Porém, com a ferrovia saindo da São Paulo Railway quase junto a Jundiaí, obrigava os viajantes que queriam fazer uma volta de cerca de 120 quilômetros, fora a baldeação (eram ferrovias de diferentes donos e com bitolas diferentes - a Bragantina era métrica e a SPR, de 1,60m), viagem esta que, em linha reta, ou mesmo com as estradas da época, tinham cerca de 80 quiilômetros, passando pela zona norte da Capital.
Folha de S. Paulo, 22/6/1967
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Em 1903, a Bragantina foi comprada pela São Paulo Railway, como uma medida para tentar (e conseguir) barrar as intenções da Mogiana de construir a linha que ligaria Amparo a Santos. Isto não fez com que a empresa inglesa igualasse a bitola ou melhorasse a via, mas por outro lado, acabou fazendo a estrada ser prolongada de Taboão a Vargem (cidade encostada à fronteira mineira). A estação de Taboão, que tinha o nome de Bragança, mudou para o de Taboão e foi construída uma nova para a cidade, mais próxima ao centro do muncípio. Além disso, construiu-se um ramal que saía de Caetetuba a Piracaia, passando por Atibaia. Isto tudo foi consolidado em 1913 e 1914.
Folha de S. Paulo, 20/6/1967
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Em 1946, a SPR foi entregue ao Governo Federal e a Bragantina foi comprada pelo Estado de São Paulo e posta sob administração indireta da Sorocabana. A partir daí, a ferrovia, cheia de curvas e com os mesmos defeitos do seu início, começou a baixar seu movimento de forma que a tornaria rapidamente deficitária.
Folha de S. Paulo, 19/6/1967
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A conclusão do trecho paulista da rodovia Fernão Dias no início dos anos 1960, passando ao lado de Bragança Paulista, acabou esvaziando demais as cargas e os passageiros da já octogenária Bragantina.
Folha de S. Paulo, 18/6/1967
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O governo, através da imprensa, desde o final dos anos 1950, sempre deixava bem claro que o final de operação da Bragantina era apenas uma questão de tempo.
Finalmente, em janeiro de 1967, o ramal de Piracaia foi desativado. Quatro meses depois, em maio, o trecho entre Bragança e Vargem foi extinto. O restante (Campo Limpo-Bragança) foi suprimido apenas um mês depois. O curioso foi a atitude do governo de fazer um plebiscito na cidade perguntando a preferência da população, que disse "não" à supressão. Mesmo assim, o governo fechou a linha e apenas alguns dias depois.
Folha de S. Paulo, 18/6/1967
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Como a maioria das ferrovias brasileiras, ela deveria ter sido modernizada com o passar do tempo. Não o foi. Hoje o que se vê são estradas de rodagem lotadas de caminhões, ônibus e automóveis e que levam para os mesmos lugares para onde o trem ia: a via Anhanguera, a estrada Velha de Campinas e a Fernão Dias, que liga a capital a Atibaia, Bragança e Belo Horizonte.
A Folha de S. Paulo, em suas edições entre os dias 18 e 22 de junho de 1967, publicou uma série de reportagens acompanhando o final das viagens e a decepção dos bragantinos, tanto dos usuários quanto dos ferroviários. Apesar da qualidade baixa das fotografias, que aqui foram reproduzidas, podem se ver imagens da época. Os locais não foram identificados pelo jornal. Apenas há uma cena externa da estação de Bragança que se sabe que é lá, pois o dístico do prédio é mostrado. Era um prédio de 1913. Foi derrubado logo depois. Ficava mais ou menos no centro da cidade.
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sábado, 22 de novembro de 2014
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
INAUGURAÇÃO DA PONTE DA CIDADE UNIVERSITÁRIA: MAIO DE 1967
Convite da Prefeitura para a inauguração da ponte. Folha de S. Paulo, 20/5/1967
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Eu me lembro que meu pai deixou de trabalhar no Instituto de Química, que ficava na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras na alameda Glette, na esquina com a rua Guaianazes , na esquina diagonal em relação ao Pakácio dos Campos Elísios, por volta de 1966.
O Instituto havia sido transferido para a Cidade Universitária por essa época. Ele foi junto, claro. Porém, para chegar à Cidade Universitária, ainda semi-vazia nessa época, havia de se cruzar ou a ponte da Eusébio Matoso ou a do Jaguaré (a velha, em arco e estreita). A ponte da Cidade Universitária somente foi aberta em 29 de maio de 1967, data que eu somente pude confirmar (eu me lembro da alegria de meu pai em ter a ida facilitada para lá com essa ponte, mas não da data), pesquisando na Folha de S. Paulo, onde achei o convite pesquisando há poucos dias.
Pela fotografia, embora de péssima reprodução, dá para ver que a ponte é reta em relação à avenida Imperial (hoje tem o nome de Avenida Professor Manoel José Chaves), que vinha da Praça Pan-Americana, centro do bairro do Alto de Pinheiros, vista no canto esquerdo inferior da foto e com asfalto novo (a ponte era concretada), e seguia do outro lado pela rua Alvarenga, também claramente recém-asfaltada, seguindo e cruzando lá no "alto" da foto a avenida Vital Brazil.No canto direito da foto, o esbranquiçado mostra uma entrada da Cidade Universitária ainda vazia de prédios e grama.
O rio Pinheiros vê-se claramente em seu canal; à esquerda da ponte, pode ser vista uma outra ponte, em arco, mas que carrega a adutora do rio Cotia. Ainda está lá, da mesma forma, hoje.
Sem conseguir ver, já existia, na margem esquerda, a linha da Sorocabana (hoje da CPTM), jpa funcionando havia dez anos. Eu me recordo, mas ainda tenho sérias dúvidas se a memória não me trai, que em 1971, quando fui estudar na Cidade Universitária e cruzava a ponte todos os dias, de ver a pequenina estação da Cidade Universitária, um pequenino prédio à direita da ponte, para quem vinha da praça Pan-Americana. Na foto, pode-se ver pelo menos uma possível construção nesse ponto. Seria o prediozinho a que me refiro?
Finalmente: a Marginal do Pinheiros em 1967 ainda não existia nesse ponto. Se pudesse dirigir por ela, era uma rua em terra batida, sem delimitações. As laterais à avenida em pista dupla da avenida Imperial são hoje os acessos de e para a ponte "nova" e que hoje são ligados à Marginal Direita do Pinheiros, também chamada de Nações Unidas. Essa "praça" hoje se chama Praça Arcipreste Anselmo de Oliveira.
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Eu me lembro que meu pai deixou de trabalhar no Instituto de Química, que ficava na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras na alameda Glette, na esquina com a rua Guaianazes , na esquina diagonal em relação ao Pakácio dos Campos Elísios, por volta de 1966.
O Instituto havia sido transferido para a Cidade Universitária por essa época. Ele foi junto, claro. Porém, para chegar à Cidade Universitária, ainda semi-vazia nessa época, havia de se cruzar ou a ponte da Eusébio Matoso ou a do Jaguaré (a velha, em arco e estreita). A ponte da Cidade Universitária somente foi aberta em 29 de maio de 1967, data que eu somente pude confirmar (eu me lembro da alegria de meu pai em ter a ida facilitada para lá com essa ponte, mas não da data), pesquisando na Folha de S. Paulo, onde achei o convite pesquisando há poucos dias.
Pela fotografia, embora de péssima reprodução, dá para ver que a ponte é reta em relação à avenida Imperial (hoje tem o nome de Avenida Professor Manoel José Chaves), que vinha da Praça Pan-Americana, centro do bairro do Alto de Pinheiros, vista no canto esquerdo inferior da foto e com asfalto novo (a ponte era concretada), e seguia do outro lado pela rua Alvarenga, também claramente recém-asfaltada, seguindo e cruzando lá no "alto" da foto a avenida Vital Brazil.No canto direito da foto, o esbranquiçado mostra uma entrada da Cidade Universitária ainda vazia de prédios e grama.
O rio Pinheiros vê-se claramente em seu canal; à esquerda da ponte, pode ser vista uma outra ponte, em arco, mas que carrega a adutora do rio Cotia. Ainda está lá, da mesma forma, hoje.
Sem conseguir ver, já existia, na margem esquerda, a linha da Sorocabana (hoje da CPTM), jpa funcionando havia dez anos. Eu me recordo, mas ainda tenho sérias dúvidas se a memória não me trai, que em 1971, quando fui estudar na Cidade Universitária e cruzava a ponte todos os dias, de ver a pequenina estação da Cidade Universitária, um pequenino prédio à direita da ponte, para quem vinha da praça Pan-Americana. Na foto, pode-se ver pelo menos uma possível construção nesse ponto. Seria o prediozinho a que me refiro?
Finalmente: a Marginal do Pinheiros em 1967 ainda não existia nesse ponto. Se pudesse dirigir por ela, era uma rua em terra batida, sem delimitações. As laterais à avenida em pista dupla da avenida Imperial são hoje os acessos de e para a ponte "nova" e que hoje são ligados à Marginal Direita do Pinheiros, também chamada de Nações Unidas. Essa "praça" hoje se chama Praça Arcipreste Anselmo de Oliveira.
sábado, 25 de outubro de 2014
O PRIMEIRO APITO DE TREM DE BRASILIA
Folha de S. Paulo, 11/3/1967
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Eu mesmo em outras postagens neste blog já comentei de pelo menos um "primeiro trem a Brasilia", ainda na década de 1950, assim considerados, mas que eram, na verdade, trens que seguiam de São Paulo e do Rio de Janeiro para a futura capital federal (inaugurada em 1960) até a cidade de Anápolis, para depois seus passageiros seguirem para a capital por ônibus especiais.
Era a época do ufanismo pela construção de uma nova capital para o país e valia tudo.
Hpuve pel menos três desses trens esporádicos entre 1958 e 1967. Possivelmente, mais alguns.
Porém, o primeiro trem que chegou a Brasília realmente apitou - fizeram questão que fosse por locomotiva a vapor, numa época (março de 1967) em que vaporosas eram já obsoletas e praticamente somente eram usadas mesmo como máquinas de manobras em pátios ferroviários.
Os políticos de 1967 achavam que a Capital devia ouvir o famoso e antiquado, mas simbólico apito a vapor e, no dia 15 de março desse ano, fizeram partir uma composição de Pires do Rio à estação de Bernardo Saião, na entrada da capital (a estação principal de Brasília somente seria construída anos mais tarde, mais à frente) puxada por uma locomotiva a vapor.
Não era somente a solenidade para o primeiro trem em Brasília, mas também a inauguração do ramal Pires do Rio-Brasilia. No dia 10 de março, a solenidade com honras militares já estava decidida. O trem deveria chegar e apitar às 13 horas do dia 15 na esplanada de Bernardo Saião, depois de um desfile militar do Comando Militar de Brasilia e da 11a Região Militar. O Batalhão Ferroviário, que construiu o ramal, também seria homenageado.
Era este também o dia da posse do Presidente Costa e Silva. No dia 15, a composição saiu aparentemente no horário marcado para chegar às 14 horas - e não às 13 -, mas chegou com atraso de quatro horas em Bernardo Saião. A composição saiu de Pires do Rio e levou 15 horas para rodar os 245 quilômetros do ramal, rodando à velocidade de 18 km/hora. O trem deveria chegar às 13 horas; às16 horas, os curiosos que afluíram à estação já haviam começado a debandar, sem esperança de ouvir o apito. As próprias autoridades já haviam deixado o local meia hora antes.
Pelas 17 horas, circulavam boatos de que teria havido um descarrilamento ou que partes da estrada haviam sido destruídas pela chuva. Logo depois, aviões da FAB que haviam sobrevoado a linha deram a notícia que haviam visto 10 pequenos vagões parados a cerca de 60 quilômetros da capital, mas sem saber o motivo. Somente às 18 horas ouviu-se ao longe um apito. Logo depois chegou o trem com dez vagões, com quarenta pessoas a bordo, entre os quais o ministro da Viação (hoje, seria dos Transportes), o marechal Juarez Tavora. Os poucos curiosos que se mantiveram no local viram então o pipocar de fogos de artifício festejando o acontecimento.
Folha de S. Paulo, 15/3/1967
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Curiosidades: o ramal foi inaugurado, mas ainda não estava totalmente pronto. Somente foi entregue ao tráfego contínuo tempos depois, em 1968. Durante esta viagem, que, apesar de comemorativa, era experimental, ainda se viam operários aju stando trilhos no trecho. O trem que partiu de Pires do Rio não andou mais do que 88 quilômetros. Era uma composição aparentemente a diesel, e os passageiros foram então transferidos para automotrizes que, perto do final do percurso, passaram para os dez vagões vistos pela FAB (na verdade, carros, pois vagões são cargueiros). A cinco quilômetros de Bernardo Saião, finalmente se engatou uma locomotiva a vapor, que era do Batalhão Ferroviário, para terminar a viagem. A locomotiva a vapor, transportada até ali por caminhão para ser colocada nos trilhos.
Esta história foi extraída de uma reportagem do dia 15 de março de 1967 do jornal Folha de S. Paulo e é sujeita a enganos. Mas a farsa existiu. E houve, realmente, diversos descarrilamentos que eram arrumados às pressas por operários do Batalhão para que o trem pudesse prosseguir. Este o motivo do enorme atraso. Os trilhos ainda não estavam convenientemente fixados. Foi tudo uma encenação para atender aos desejos de Juarez Tavora.
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terça-feira, 14 de outubro de 2014
A TURMA DO BUND´S II: O CAPITÃO AMÉRICA
Numa postagem de 2011, contei a história da turma do Bund´s, um de meus personagens de minha infância nas histórias em quadrinhos que eu desenhava.
Então, mais de três anos depois disso, encontrei todas as minhas publicações dos anos de 1960 a 1970 que sobreviveram nos meus bagulhos. Elas foram escritas e desenhadas por este "gênio" entre seus (meus) oito e dezoito anos.
Capa de O Picapau número 52 (1967)
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Em 1967, resolvi desenhar uma sátira do Capitão América, aquele, da Marvel. Na edição número 52 da revista O Picapau (a turma do Bund´s saía nesta publicação, sempre com a tiragem limitada a uma edição apenas), a capa mostrava o Capitão América lutando contra o Super-Sujeira, seu inimigo mortal.
No final da revista, ele derrota o vilão e, na última página, faço uma reportagem histórica sobre os outros Capitães - coisa que nem o Stan Lee, criador do original, fez - mostrando os Capitães dos outros continentes: o Capitão Europa, que era um francês; o Capitão Asia, que era um chinês comunista e gostava do Mato-Tse-Tung; o Capitão África, que era de uma das tribos negras do continente (não consegui identificar qual); o Capitão Oceania, que era do Hawai (o Hawai é da Oceania ou da América?) e o Capitão Antartica, que era um pinguim.
Pedaço da página final da aventura e as incríveis fotos então inéditas dos outros Capitães pelo mundo
.
A capa e a página com as versões mundiais do Capitão estão publicadas nesta página. Uma raridade!
E houve também outras revistas posteriores que publicaram histórias do Homem de Lata, do Arqueiro Roxo, do Hurko e do Nomar, o Principe Submarino (ilustre personagem da Marvel que já desapareceu, mas, na versão deles, era Namor e não Nomar. Achei Nomar mais apropriado para o herói).
Então, mais de três anos depois disso, encontrei todas as minhas publicações dos anos de 1960 a 1970 que sobreviveram nos meus bagulhos. Elas foram escritas e desenhadas por este "gênio" entre seus (meus) oito e dezoito anos.
Capa de O Picapau número 52 (1967)
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Em 1967, resolvi desenhar uma sátira do Capitão América, aquele, da Marvel. Na edição número 52 da revista O Picapau (a turma do Bund´s saía nesta publicação, sempre com a tiragem limitada a uma edição apenas), a capa mostrava o Capitão América lutando contra o Super-Sujeira, seu inimigo mortal.
No final da revista, ele derrota o vilão e, na última página, faço uma reportagem histórica sobre os outros Capitães - coisa que nem o Stan Lee, criador do original, fez - mostrando os Capitães dos outros continentes: o Capitão Europa, que era um francês; o Capitão Asia, que era um chinês comunista e gostava do Mato-Tse-Tung; o Capitão África, que era de uma das tribos negras do continente (não consegui identificar qual); o Capitão Oceania, que era do Hawai (o Hawai é da Oceania ou da América?) e o Capitão Antartica, que era um pinguim.
Pedaço da página final da aventura e as incríveis fotos então inéditas dos outros Capitães pelo mundo
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A capa e a página com as versões mundiais do Capitão estão publicadas nesta página. Uma raridade!
E houve também outras revistas posteriores que publicaram histórias do Homem de Lata, do Arqueiro Roxo, do Hurko e do Nomar, o Principe Submarino (ilustre personagem da Marvel que já desapareceu, mas, na versão deles, era Namor e não Nomar. Achei Nomar mais apropriado para o herói).
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quarta-feira, 21 de março de 2012
VERÃO DE 1968

O lançamento do livro que meu filho Alexandre escreveu sobre a conquista do primeiro título brasileiro do São Paulo Futebol Clube em 1977 (bom, o fim do campeonato foi no verão de 1978) me fez lembrar do tempo em que eu era realmente fanático por futebol, nos anos 1960. São-paulino por herança de família, cheguei a assistir a boa parte do jogo que decidiu o título do São Paulo em 1957 (o paulista, numa época em que o Campeonato Paulista era um senhor campeonato e não essa caricatura de hoje), quando, em dezembro daquele ano, ele decidiu num jogo contra o Corinthians. O SPFC venceu por 3 a 1. O jogo passou direto pela televisão! Assisti no escritório da casa de meus pais junto com um bando de gente.
O fato, porém, era que eu não ligava a mínima para futebol nesse tempo. Afinal eu tinha acabado de completar seis anos de idade. Somente cinco anos depois, vendo os outros ouvir pelos radinhos de pilha a Copa do Mundo de 1962, eu dei início ao meu fanatismo. O problema é que, nessa época, o São Paulo tinha um time ridículo e raramente fazia uma boa campanha nos campeonatos. Mas eu acompanhava tudo, pelos jornais, pela televisão e pelo rádio. E pelas revistas especializadas.
Em 1963 e em 1966, com um time melhorzinho, o time embalou no primeiro turno, mas no segundo, acabou por despencar na tabela e perder o título. Em 1967, porém, o time embalou e conseguiu chegar junto com o poderosíssimo Santos de Pelé na última rodada. Decidiu-se o campeonato com um jogo extra (não havia esse negócio de saldo de gols etc.) e o Santos, claro, ganhou. Fez dois a zero logo no comecinho do jogo e o cozinhou até o final, quando o São Paulo fez um gol.
Se alguém a um determinado momento for escrever um livro sobre este campeonato específico, vai ler sobre uma querela que surgiu nas últimas rodadas devido a um jogo do Santos contra o Comercial, em Ribeirão Preto. O Santos perdia por 1 a 0 até os 40 minutos do segundo tempo. Era um sábado à noite. Aí, o Pelé recebeu a bola completamente impedido, olhou para trás, viu que o juiz não apitou nada, deu um sorriso, seguiu sozinho com a bola e fez o gol. O jogo acabou naquele momento, empatado, devido às muitas reclamações do time do Comercial, ameaçado pelo rebaixamento e à expulsão de alguns jogadores.
Como o Santos e o São Paulo corriam praticamente juntos desde o início do campeonato, cada ponto perdido por um ou outro era uma tragédia para o adversário. Nos dias seguintes a imprensa em geral falava que o jogo deveria ser anulado, ou que os pontos deveriam ser tirados do Comercial, ou do Santos etc., e começaram falando que o poder do Santos na Federação era muito grande e que ele jamais perderia esse ponto que ganhou no jogo.
Enquanto isso corria, os jogos continuavam e, no dia da rodada final, o São Paulo, que tinha um ponto a mais que o Santos, jogaria contra o Corinthians. Enquanto os jornais diziam que o São Paulo seria campeão se ganhasse, ao mesmo tempo afirmavam que o Santos, que tinha um jogo fácil e deveria ganhar (não me lembro contra quem) acabaria por "certamente" ganhar o ponto perdido contra o Comercial, prevendo que o campeonato demoraria meses ou anos para se conhecer seu campeão, devido à morosidade da justiça esportiva.
O fato foi que o Corinthians, depois de estar perdendo por 1 a 0, empatou o jogo no final. São Paulo e Santos terminaram empatados em pontos perdidos (era assim que se contavam os pontos) e teriam que decidir o campeonato, mas o Santos dizia que já era o campeão, pois ganharia o ponto perdido na justiça.
No dia seguinte, no entanto, o Santos retirou o pedido para ganhar o ponto. Claramente, ele sabia o time que tinha e previa que a final seria uma baba, como realmente o foi. Demorou mais três anos para o São Paulo ser campeão paulista, treze anos depois daquele ano de 1957. O meu fanatismo pelo futebol sobreviveu até logo depois disso. Hoje ainda gosto de futebol, mas de uma forma muito mais "light".
Ah, e o "verão de 1968" do título? Foi meio forçado, uma alusão àquela belíssima música do Pink Floyd do LP Atom Heart Mother, de 1972. É fato que o jogo decisivo de 1967 foi disputado no primeiro dia do verão de 1968 (21 de dezembro). É interessante também citar que todas as memórias que escrevi aqui vieram das minhas lembranças da época e não de alguma pesquisa que eu tenha feito. Lembro também que durante algum tempo os jornais foram tornando a história do jogo contra o Comercial e como isso afetou o título desse ano bem diferente do que realmente aconteceu na época.
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