sexta-feira, 1 de maio de 2015

OH MEU DEUS - O TREM NÃO CHEGOU!

A foto tem uma má reprodução, mas mostra o volume de águas no Salto de Avanhandava, que, aliás, nem existe mais hoje, no Alto Tietê
.

Incrível, mas essa expressão foi dita ou pensada inúmeras vezes durante muitos anos em diversas cidades brasileiras - hoje, em muitas delas, nem trilhos existem e muitos habitantes nem sabem que um dia sua cidade dependeu praticamente inteiramente do trem.

Por exemplo, as cidades do Sul de Minas, Tres Corações, Brasopolis, Itajubá e outras tinham problemas com os péssimos serviços, reclamando constantemente da Rede de Viação Sul-Mineira e da . F. Sapucaí, duas antecessoras da Rede Mineira de Viação, na década de 1910. As cargas não eram recolhidas, mercadorias não chegavam, passageiros atrasavam seus compromissos, porque as rodovias eram não mais do que picadas melhoradas, automóveis e ônibus eram raridades e eram as máquinas a vapor que determinavam o progresso das cidades.

Em 1929, uma enorme enchente no Estado de São Paulo, quando choveu como nunca nos meses de janeiro e fevereiro e deixou diversas cidades sem transporte e com os mesmos problemas citados nos casos das cidades minieras.

Convém ressaltar que me referi apenas a dois casos isolados em épocas diferentes escolhidas por acaso. O tempo ruim, greves, os problemas mecânicos que ocorriam com as ferrovias que não eram muito sérias, eram acontecimentos relativamente comuns.

Isso foi mudando. Quando a Segunda Guerra Mundial acabou, as ferrovias rapidamente perderam seu quase-monopólio. Em 1946, por exemplo, uma reportagem da época falava sobre a cidade de Espírito Santo do Pinhal, na fronteira de São Paulo com Minas Gerais, atendida por um curto ramal da Mogiana que saía de Mogi-Guaçu. A reportagem sugeria que os visitantes se utilizassem de "duas ëxcelentes jardineiras" e "não dos "vagarosos trens" do ramal. A partir dos anos 1960, trens raramente eram citados pelos jornais como meios de transporte para as cidades paulistas - embora o último trem de passageiros paulista de longa distância tenha corrido em março de 2001 - a esta altura, pouca gente sequer sabia que ele ainda existia.

Como exemplo, em 1929, o jornal O Estado de S. Paulo de 9 de fevereiro mostrava que mais estava sofrendo eram as cidades atendidas pela Sorocabana. Em Faxina (hoje Itapeva), "a E. F. Sorocabana ainda não tem horário certo, chegando os trens aqui com grande atraso. Sente-se a falta dos trens de carga, estando a praça um tanto desfalcada dos principais generos alimentícios." Neste ramal, o de Itararé, houve quedas de barreiras sobre a linha em três pontos diferentes. A linha-tronco (São Paulo-Presidente Epitácio) sofreu pelo menos sete quedas de barreiras e um deslizamento de aterro. "Em consequencia destes estragos na linha os trens NO-1 e N-1 estão retidos em Piramboia e os PO-1 e P-1 em Laranjal. Foram  suprimidos os trens PO-2 e N-2, de Botucatu a São Paulo; o P-5, de São João (hoje São João Novo) a Sorocaba; o NS-1 de São João a Mailasky (Este um percurso bastante curto); os trens N-1, NO-1, N-2 e NO-2 entre Botucatu e São Paulo; os trens PY-5 e 6 entre Piracicaba e São Pedro; os MY-5 e 6 entre Costa Pinto (estes dois últimos na linha da antiga Ytuana).

Em Pontal, "até a Paulista chega com atraso" (...) a correnteza arrastou uma ponte de automóveis sobre o rio Mogy-Guassu. Os automoveis são agora despachados por estrada de ferro." Esta cidade era atendida tanto por linhas da Paulista quanto da Mogiana.

Era assim, um dia os trens reinaram. Faz tempo...

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