quarta-feira, 27 de maio de 2015
LUIZ ANTONIO, SP
Lateral da ex-estação de Luiz Antonio em maio de 2015 (Foto Ralph M. Giesbrecht)
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A cidade de Luiz Antonio, hoje um município entre os municípios de São Simão e de Guatapará, tem hoje cerca de 11 mil habitantes. Nasceu como povoação em 1887 com o nome de Vila Jataí. A ferrovia ali chegou em 1910 com a Mogiana, no ramal de Jataí e de Piraju - depois simplificado para ramal de Jataí - que em 1913 ligou São Simão a Ribeirão Preto como se fosse uma espécie de variante para "proteger" a zona privilegiada da Mogiana contra a Paulista, cuja linha corria então paralelamente ao rio Mogi-Guassu nessa região.
Em 1961, esse ramal, um dos mais deficitários da Mogiana, foi desativado em parte, entre as estações de São Simão e de Monteiros. Sobrou o trecho Ribeirão Preto-Monteiros, que, unidos ao ramal de Monteiros (Monteiros-Guatapará), tornou-se o ramal de Guatapará, que fechou finalmente em 1976.
Abrem-se os muros:a ex- estação de Luiz Antonio em maio de 2015 (Foto Ralph M. Giesbrecht)
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Luiz Antonio, que ganhou esse nome para substituir o antigo "Vila Jataí" (Luiz Antonio Junqueira foi fazendeiro em Jataí. A estação tinha este nome) em 1937, ficou de fora da linha em 1961. O então ainda bairro rural de São Simão ainda era muito pequeno e perdeu o trem.
Havia cinco estações na região que, em 1959, foi desmembrada de São Simão para formar o município: Santa Elisa, Luiz Antonio (ex-Jataí), Gironda, Tatuca e Capão da Cruz. Dessas, a única que sobrou em pé foi a de Luiz Antonio. As outras três foram demolidas e é difícil de se localizar o seu local exato hoje em dia, pois nem as plataformas sobraram. Curiosamente, os atuais moradores mal se lembram da estação que está em pé: lembram-se mesmo é da estação de Gironda, que ficava mais à frente no ramal.
A ex-estação de Luiz Antonio está hoje próxima ao atual centro da cidade, mas murada, servindo como depósito da Prefeitura. Ainda conserva suas características (pelo menos externamente) dos tempos da Mogiana e, pelo feitio, deve ter sido uma estação com o armazém acoplado.
A cidade acabou crescendo, depois do arrancamento da linha e do pátio, sobre estes. Tanto que, dentro da cidade, pelo menos, é impossível visualizar o trajeto da antiga linha. O casario da cidade é relativamente novo em geral, tendo eu percebido, em minha visita a ela na última semana (depois de um interregno de 17 anos), pouquíssimas casas que já deviam existir no tempo da ferrovia.
Em suma: para meus padrões, uma cidade totalmente sem graça, com uma ex-estação sendo preservada como um depósito murado.
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Muito bem Ralph, vc é um historiador nato.
ResponderExcluirNo Estadão de 11.03.1916 há uma carta, na seção Queixas e Reclamações, reclamando muito do ramal de Jataí:
ResponderExcluir"Moradores da zona servida pelo ramal do Jatahy, da Companhia Mogyana, queixam-se do pessimo serviço dos trens mixtos daquella estrada.
Em materia de conforto, limpeza e pontualidade, o serviço desta estrada naquelle trecho, é o que se pode chamar de péssimo. Se não vejamos:
O trem M39, que vem de manhan de S.Simão, chega invariavelmente atrasado nas estações. Os carros são muito velhos, sujos, e de ha muito deveriam ser radicalmente reparados nas officinas. As rodas já ficaram quadradas com tanto uso, parecendo que resolveram a quadradura do circulo, e tão estragadas estão que deveriam ser torneadas de novo, incommodando muito os passageiros com solavancos e ruido infernal. Os assentos vêm cobertos de pó vermelho, porque a estrada ainda não está empedrada, a não ser em pequenos trechos, e o passageiro que quizer sentar-se, tem de sujeitar-se a limpar o seu logar com as capas do assento. Esse recurso, porém, nem sempre se pode ter, porque o guarda, vendo-o, não consente fazel-o. Além disso, quem precisar lavar as mãos, ou já não encontrará mais água no lavatório ou não poderá se utilisar da toalha, de tão immunda está. Isto, porém, não é nada, em relação ao maior dos abusos, à chegada dos trens, que geralmente se compõe de um grande número de vagões carregados de lenha e madeira. O carro de primeira é o último, na cauda do trem, e, por esse motivo, não tem o direito de chegar à plataforma da estação: esse privilégio só pertence ao carro de bagagens e encommendas, para que o chefe da estação possa, com toda a commodidade pessoal, fazer a conferência das bagagens e encommendas.
Muitas vezes acontece também que a ordem é dada para que o trem estacione de modo que o carro de segunda classe, o penúltimo, participe dessa regalia, chegando à plataforma para que esses passageiros possam tomar café, que o chefe da estação, expões à venda.
Entretanto, os passageiros de primeira classe têm de sujeitar-se a patinhar na lama, quando chove, ou expor-se ao sol para poder subir, com mil difficuldades, levando crianças, malas e embrulhos, ao carro de primeira classe, cujo estribo, muito alto e quasi inaccessível, exige muita agilidade e destreza para galgar. Imagine-se esse exercício para uma senhora de certa edade!! Para descer a difficuldade é a mesma, e mais de uma vez senhoras respeitáveis e de certa edade, têm escorregado e cahido na lama, correndo o risco de maguar-se expondo-se a esses vexames!!
Em geral os guardas desses trens são pouco delicados, riem-se ostensivamente quando ouvem as queixas dos passageiros, sacodem os hombros em signal de pouco caso, principalmente um hespanhol que, na conferencia de bilhetes, dá-se ao direito de jogar baforadas de fumaça do cigarro à cara dos passageiros. Ainda não é tudo: Já tem acontecido que este trem, chegando a Ribeirão Preto com atraso, como de costume, e achando a plataforma ocupada pelo trem M6, que vae a Casa Branca, faz a parada fora da plataforma, no meio de trens de carga, resultando dahi uma balburdia, uma confusão medonha, alem do serio perigo para os passageiros. É um abuso inqualificável. Se o serviço do trem M39 é feito por esta forma, o trem M40 que sae às 14 e 10 para S. Simão, ainda é um pouco peor, porque, ficando em Ribeirão Preto, exposto ao sol fora do abrigo, desde às 10 e 16 até as 14 e 10, os carros de passageiros ficam de tal modo aquecidos que é impossível supportar a temperatura senegalesca desses carros. Um curioso, que já teve a lembrança de levar um thermometro, observou 38 graus cent. acima de 0. O serviço neste trecho da Mogyana é feito por este modo desde que foi a linha aberta ao transito público. A Companhia Mogyana, imitando a Paulista, que procura sempre dar conforto aos seus passageiros, não poderá facilmente remediar estes inconvenientes"