quarta-feira, 3 de julho de 2013

PEDÁGIOS: GOVERNOS CEGOS

Pedágio de Cosmopolis, hoje (UOL/G1)

Ondas de protestos, motivados ou não (nota: praticamente TODOS têm motivos justificados), parece que, apesar de terem deixado nossos (des)governantes assustados, nem por isso fazem-nos ver o que realmente está acontecendo em volta deles.

As reações ão incríveis: a presidente (que insiste em se chamar erradamente e ridiculamente de presidentA) está provando que não passa de uma incompetente total, deixando cair a máscara de "gerentona". Quanto ao nosso governador Alckmin, apesar de falar grosso, também mostra que não compreende exatamente o que o povo quer e as injustiças causadas pelos seus (do Alckmin) erros que já vêm de anos. Veja o quanto demorou para recuar no caso do aumento dos vinte centavos dos ônibus. Parece que finalmente o tempo dos reajustes anuais acabou. Ou, pelo menos, espero, que sim.

Vou me ater aqui ao Alkmin e a um caso que beira a criminalidade: os pedágios em São Paulo.

Nunca fui contra pedágios. Porém, sou contra o seu preço abusivo. São caríssimos, especialmente no estado paulista. É verdade que as melhores estradas brasileiras estão aqui; porém, nem por isso se justificam preços como os aqui praticados.

Começo com o pedágio cobrado na Castelo Branco. O pedágio nessa estrada já não era nenhum "preço de banana" quando ainda estava na estatal DERSA. Passou, como os outros que já existiam, para uma empresa particular. Já vem aí o primeiro erro, ou, digamos, falcatruas: praticamente TODAS as empresas concessionárias privadas estão na mão de políticos ou de suas famílias.

Por volta do ano 2000, foi construída uma via marginal na Castelo, entre o km 13 — onde ela se inicia, no Cebolão — até o km 23, por causa do trânsito caótico que se tornou esse trecho, que termina no "bairro de ricos" Alphaville, no município de Barueri (e que se estende pelo município vizinho de Santana de Parnaíba). Assim que foram entregues as obras da marginal, que de fato melhoraram o trânsito, instalaram um pedágio só nelas (não na pista expressa, que já existia desde 1968) de fato a que somente quem se dirigisse a Alphaville o pagasse. Notar que a Marginal termina na entrada do trevo do bairro; sua continuação é estreita, por menos de um quilômetro, apenas para servir como via de ligação com a pista expressa, logo após o trevo.

O problema era que existia (e parece que ainda existe) uma lei que proibia pedágios nos trechos até 30 quilômetros da Praça da Sé, em São Paulo, onde começa a quilometragem das rodovias que partem da capital paulista - e, ainda por cima, o preço por quilômetro, que deveria ser aplicado a esse pedaço e que estava estabelecido no contrato de concessão, não estava sendo aplicado: o preço cobrado nesse trecho de treze quilômetros deveria ser de cerca de oitenta centavos, enquanto que, no real, estava sendo cobrado a 3,50 reais.

Boicotes, reclamações, ações na Justiça, o escambau - nada. Mesmo quando saía uma liminar dando ganho de causa ao usuário, a Justiça a suspendia no dia seguinte, alegando "fortes prejuízos às concessionárias". Ou seja, prejuízos aos usuários não fazem mal? E será que as concessionárias não leram os contratos que assinaram?

O tempo passou e o pedágio, claro, foi estendido para a pista central também, "para reduzir o preço de quem se utilizava deles na Marginal". Passou mais um tempinho ainda e a concessionária descobriu que, se os acessos de saída para o Rodoanel para quem vinha de São Paulo e para quem vinha do interior, fossem avançados para logo depois dos pedágios, a sua arrecadação aumentaria (lógico). E tal foi feito!!! Isto provou que o governo atendia somente aos interesses das concessionárias, e que se danassem os usuários!

Pior: para fazer essa modificação, tiveram de ser alteradas as saídas, de forma que, logo ao deixar as pistas da Castelo, fosse construída - nos dois casos - curvas fechadíssimas, de cerca de 90 graus, aumentando seriamente o risco de acidentes nessas saídas. Mas que se danasse, ficou por isso mesmo.

E tem mais! O trânsito na Castelo, marginais e via expressa, hoje, e quase todos os finais de tarde é um inferno no sentido interior. O motivo? "Esqueceram-se" de alargar a ligação estreita entre o trevo de Alphaville, já citado aqui acima, e a cidade de Barueri, incluindo isso a enorme ponte sobre o Tietê. Ora, dirão, é caro alargar uma ponte daquele tambno, há praticamente se construir outra... E eu com isso? Usem o dinheiro em excesso pago para as concessionárias, estas com lucros gigantescos com os preços de pedágio e sucessivos aumentos.

Este ano, aliás, era para haver mais um em 1.º de julho? Não houve. Nosso governador amarelou. E teve motivos para amarelar. Quem vai pagar a falta de aumento? Ora, sr. Alckmin: as próprias concessionárias! Estão ricas!!

Passando para outras estradas no interior, começaram a aparecer absurdos do tipo: há pedágios com valor alto para quem tem de trafegar por poucos quilôemtros para ir de casa ao trabalho e vice-versa, caso da Campinas-Jaguariuna e da Paulinia-Cosmópolis, somente para citar dois exemplos. E o caso de cidades ilhadas no meio de pedágios em todas as rodovias de ligação com outros municípios, caso, por exemplo, da cidade de Ribeirão Preto.

Voltando à região de Barueri, recentemente a concessionária fechou uma saída existente, alegando ter feito isso depois de "consultar os usuários". O fechamento desta saída faria com que mais pessoas tivessem de cruzar o pedágio para chegar ao mesmo local (era a região dos depósitos de combustíveis no km 20 da Castelo em Barueri.

Tudo iso não soa como bandidagem?

Hoje à tarde - hoje - um pedágio foi atacado, destruído e queimado na região de Cosmópolis, exatamente por que se precisa pagar seis reais para andar três quilômetros (caso de moradores que trabalham numa fábrica, que pagam a mesma coisa que quem anda trinta, por exemplo.

Solução? Fazer pedágios que sejam pagos nas entradas e nas saídas, que façam com que se pague por quilômetro. O governo anunciou isto há dois anos. Implantou algum? Não! "Está em testes", responderam. Não fizeram testes nenhum, no entanto, quando avançaram a saída para o Rodoanel nos pedágios da Castelo.

Por fim, o caso do próprio Rodoanel: quando foi construído, não era para ter pedágios, pois ele estava sendo feito exatamente para diminuir o trânsito caótico das Marginais do Tietê e do Pinheiros em São Paulo. Há um vídeo (que circula na Internet) onde o governador Alckmin promete em 2002 que não haveria pedágios no Rodoanel. Confira aqui. (Aliás, o fato de isto ter-se dado em 2002 mostra que o Alckmin é eterno, como a maioria dos políticos desde pobre Brasil).

A imprensa (no jornal da Band de hoje, o Boris Casoy) chama quem depredou o pedágio de Cosmópolis de vândalos e que isso é "uma vergonha". Pode ser. Mas qual vergonha é maior? O favorecimento da máfia dos pedágios ou o saco cheio do povo?

Políticos do Brasil, abram o olho, senão vai ser muito tarde. Aliás, acho que já é tarde. No fim, posso dizer que o pedágio no Rodoanel serviu para três coisas: 1) dar dinheiro para políticos; 2) desviar trânsito de volta para a cidade e para as marginais; 3) Confirmar que o rodoanel foi subdimensionado, pois mesmo pedagiado ele cada dia se torna mais congestionado.

Um comentário:

  1. O Estadão de 22.03.67 publicou na página 10 o projeto do pequeno anel viário de São Paulo. Seria bem maior que o atual (que é o limite do centro expandido da Capital) porque incluiria as avenidas Aricanduva e Águas Espraiadas. Teria 67 km de extensão.
    O grande anel também seria bem maior que o atual (quando ele ficar pronto!) porque teria um raio de 45 km à partir da praça da Sé (a interligação Anchieta/Imigrantes na beira do planalto faria parte do grande anel):

    http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19670322-28200-nac-0010-999-10-not

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