Anúncio da Folha da Manhã mostra bairros muito bem definidos em suas áreas em 1947 - Vila Ré e Cidade Patriarca ficam na Zona Leste, ao longo da linha da Central do Brasil - hoje da CPTM e do Metrô, paralelos e juntos.
Os bairros paulistanos não têm mais suas características de antigamente. Hoje, qualquer um cria seus bairros. Principalmente em propagandas de prédios de apartamentos ou mesmo escritórios. Um exemplo no meio de muito que tenho visto nos últimos vinte anos? O tal "Jardim das Perdizes", que está sendo vendido na esquina da antiga avenida Córrego da Água Preta, hoje Nicholas Boer, ou seja, a que dá acesso hoje ao Viaduto Julio de Mesquita Neto na Marginal do Tietê, e a avenida Marquês de São Vicente, antiga Avenida do Emissário.
Só por aí já dá para ver que as avenidas que fazem o cruzamento citado têm nomes que não são os seus originais, numa prova que a tradição não manda mesmo em São Paulo. Aliás, há cerca de sessenta anos nem avenidas existiam ali, apenas um córrego (sim, o próprio citado acima) que depois foi canalizado e entubado sob o leito da avenida.
Mas tem mais: tudo isso está do lado norte das linhas da CPTM - que, por sua vez, são as antigas linhas da São Paulo Railway e da Sorocabana - onde tudo ali era chamado de Barra Funda. Naquele trecho, tudo era brejo até os anos 1950. E assim foi, até que o Jardim das Perdizes cismou de se chamar assim, numa "leve" insinuação de que ali é parte do bairro das Perdizes.
O "bairro" Berrini - que, na verdade, sempre foi, até uns 20 anos atrás também, chamado de Brooklyn novo ou de Monções (nome da construtora que loteou um trecho do Brooklin Novo próximo à avenida Berrini), mas, com o crescimento da área e a permissão para a construção de gigantescos prédios por ali, passou a ser chamada de Berrini - literalmente não existe. Ou é Monções ou é Brooklin Novo.
Vila Pompeia virou Perdizes, também. Vila Clementino virou Vila Mariana. Ou seja, quando é conveniente, os nomes mudam. Outro bairro que "atravessou a rua" foi o de Cerqueira Cesar, hoje chamado de "Jardins" ou de "bairro da Paulista". Ele ficava, até os anos 1960, do outro lado da Rebouças. Um belo dia, passou todo ele para o ladao "de cá" da avenida. Sabe-se lá por que.
Bairros "comem" bairros toda hora... ou se "esticam" para um pedacinho dos vizinhos quando é conveniente. Aquele lado da Vila Nova Conceição para além da Afonso Braz jamais teve esse nome. O loteamento foi outro e posterior. Entre a Afonso Braz e o córrego Uberaba (atual avenida Helio Pelegrino) era outro nome. Hoje foi incorporado.
Mas eram justamente as estradas e os córregos a céu aberto que dividiam os loteamentos e os bairros. Quando as estradas perderam esse nome e os córregos desapareceram, sumiram também as referências e boa parte de nossa história. A Vila Nova foi constituída basicamente entre o córrego do Sapateiro e a estrada que ligava Vila Mariana a Pinheiros - que virou a rua França Pinto, depois virou (naquele trecho) IV Centenário e depois (ainda naquele trecho), rua Afonso Braz. Fechavam também o bairro a avenida Republica do Líbano, limite da chácara que gerou o Parque Ibirapuera, e a Estrada de Santo Amaro - avenida, hoje.
O Jardim América tinha os limites originais: a estrada da Boiada (rua Groenlândia), o córrego da Várzea (rua Salvador Pires, depois av. 9 de Julho), a rua Estados Unidos (que foi construída nos limites do loteamento já existente da Vila América, hoje Cerqueira César) e a rua Atlântica (que, parece, costeava um riacho que era afluente do córrego Verde).
O Jardim Europa? Bom, esse, loteado em 1922, começava na já rua Groenlândia, entrava também pelo córrego da Várzea (onde ela traçou as ruas Cuba e Russia, engolidas em suas maiores porções pelas continuações da Nove de Julho nos anos 1940 e 50), pela rua Itália e pela rua Polônia, bem próximas, também, do córrego Verde.
Perdizes foi feita entre as ruas Turiassu (antes, estrada velha de Campinas), subia pela rua Diana (provavelmente limite de propriedade maior), chegava à rua Guiará (alto do espigão, continuação da estrada Municipal, que era a Doutor Arnaldo de hoje) e dali, descia pela rua Apinagés, corcoveando pelos morros do Sumaré, cruzando o córrego da Água Branca (que é o que está hoje debaixo da avenida Sumaré) e novamente corcoveando, chegando até a rua Traipu, que costeava os barrancos do vale do córrego do Pacaembu.
Mapas antigos mostram muito claramente os bairros paulistas e os enormes campos quase desabitados que existiam antes deles. Hoje, tudo se uniu e mesclou. Virou, em termos de deslocamento de trânsito, uma bagunça só. E os nomes, então... vão se alterando.
Nos guias de ruas nós podemos ver que existem pequenos bairros, gerados de loteamentos pequenos, que já praticamente desapareceram. Alguém se lembra dos Campos da Escolástica, ali, onde eram os limites originais das Perdizes, junto à avenida Sumaré? E de muuuuitos outros.
quarta-feira, 1 de maio de 2013
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Moema também só passou a existir na década de 70. Até então toda a região era Indianópolis. Como Indianópolis, em seus primórdios, era um bairro fabril (havia diversas fábricas por lá: a Barbará, a fiat lux, brindes Pombo e outras) resolveram mudar o nome para dar um ar mais sofisticado para o bairro que começava a ter diversos prédios. Então se usou Moema que era só uma parada de bonde, na esquina da Av. Ibirapuera com a Av. Moema.
ResponderExcluirMinha mae nasceu em Indianopolis e ficava brava quando eu dizia que era Moema, ja que nunca nem vi esse bairro, acho que nem existe mais.
ExcluirNa própria av.Ibirapuera tinha a Tecelagem Indiana, onde hoje é o Shopping Ibirapuera, e a Linhas Setta. No bairro também tinha a Pial e a Tintas Sherwin Williams
ExcluirAqui na Vila Prudente, vendem prédios "Altos da Vila Prudente" (sendo eles na Santa Clara ou próximos ao Crematório) na própria rua do Orfanato, coração do bairro, vendem conjuntos como sendo Mooca. Aliás o shopping localizado na R. Capitão Pacheco e Chaves pega o nome do bairro famoso, claro. Porém ninguém se recorda que lá mesmo tem um, menos glamuroso e cheio de problemas legais.
ResponderExcluirIndianopolis existe, hoje fica além da Rubem Berta, sentido Aeroporto. Moema fica do lado de "cá" da mesma avenida
ResponderExcluirRalph, o final da Berrini, perto da ponte estaiada, tem um nome menos nobre ainda: Jardim Edith. Ali onde há aqueles hotéis de redes internacionais, um deles hospedou o Bush, era um "porto de areia".
ResponderExcluirVocê tem razão, os lançamentos imobiliários "matam" alguns bairros. Quem salvou a Vila Olímpia foram os bares e casas de show abertas à partir dos anos 1990. Para os corretores de imóveis só havia Itaim-Bibi, Moema, Brooklin Novo ou Vila Nova Conceição. Moema simplesmente não existia. Foi criada por eles. Havia apenas a avenida e o Largo de Moema cujo nome oficial é Praça N.S.Aparecida.Existia só Indianópolis, Vila Helena (tinha até uma linha de ônibus) e Vila Uberabinha que tinha até uma empresa de ônibus (o ponto final era na Tuim entre Lavandisca e Jacutinga).
Um verdadeiro fenômeno foi o nome Vila Nova Conceição ter sobrevivido. Parece nome de bairro da periferia, que de fato um dia ela foi. Tinha até uma rua do Gado (atual Prof.Filadelfo Azevedo). Na atual praça Cidade
de Milão a Prefeitura tinha um tanque para lavar bois, cavalos, etc. pertencentes aos moradores da região, com carrapaticida...