domingo, 30 de dezembro de 2012

UM RAMAL FERROVIÁRIO INTEIRO SUBMERSO

Ponte ferroviária próxima à estação do Areado
Bom, não foi realmente, o ramal inteiro. Mas uma boa parte dele ficou sobra as águas do rio Grande na represa de Furnas.
Restos do piso interno da estação de Fama

A antiga linha que partia de Cruzeiro, SP, e seguia até Tuiuti (depois Juréia), onde se unia com um ramal da Mogiana que vinha de Guaxupé, na região de Muzambinho, MG, era originalmente parte da E.F. Muzambinho, que iniciou as atividades em 1887, entre Três Corações e Muzambinho, e parte da E. F. Minas e Rio, que operava o trecho Cruzeiro-Três Corações desde 1884 e que em 1908 incorporou a Muzambinho. Em 1910, esta foi uma das formadoras da Rede Sul-Mineira, que por sua vez foi uma das formadoras da Rede Mineira de Viação, em 1931. Em 1965 esta formou a Viação Férrea Centro Oeste e foi finalmente transformada em divisão da RFFSA em 1975. 
Mapa do trecho do ramal entre Varginha e Jureia nos anos 1940
Hoje, na linha que unia a estação de Cruzeiro, no ramal de São Paulo da EFCB, a Juréia, terminal do ramal de Jureia, da Mogiana, o trecho final entre esta estação e Varginha já não tem mais seus trilhos. E o resto, com exceção de pequenos trechos operados pela ABPF, está tudo abandonado (2002). Os trens de passageiros foram suprimidos em 1964 entre Varginha e Juréia, em 1978 entre Varginha e Três Corações e em 1991 de Cruzeiro a Três Corações. Hoje, há tráfego de trens turísticos da ABPF entre o túnel na divisa SP-MG e a estação de Passa-Quatro. Também há tráfego operado pela ABPF entre Soledade de Minas e São Lourenço. Na ponta do que sobrou do ramal, há trens cargueiros entre as estações de Três Corações e Varginha.
Restos das fundações da estação do Areado
Histórico feito, vamos à história do título: todo o trecho Varginha-Jureia foi arrancado já em 1966, justamente na região mais pobre e deficiente em transporte da região antes atendida pela linha. O motivo alegado foi o fato de que a região seria em grande parte alagada pela usina de Furnas. Realmente, diversas estações estavam situadas próximas ao rio. 
Restos da estação de Fama
Feito em nome do progresso, muita gente não concordou com isso, como a escritora Isa Musa de Noronha, em seu livro Uma Vida na Linha, de 2005. Ela vive em Fama, uma das estações engolidas pelas águas, e suas palavras são tristes: "Ah, represa de Furnas... Não foram por água abaixo apenas algumas cidades do sul de Minas. Afogaram com ela todas as tardes, todas as lembranças, nossas saudades, os risos, vozes queridas. Quem não conheceu a Fama antiga acha lindo este mundo de água. Nós não. Para nós este lago é só uma imensa lápide de uma cidade que amávamos. Lápide escura, sem nome, data, inscrição e flores".
Cabeceiras da ponte ferroviária sobre o rio Machado
Dois dias atrás, três pessoas que conhecem meu site sobre estações ferroviárias do Brasil foram até o lago e, com a seca que está passando a região, aproveitaram a grande baixa das águas da represa e fotografaram duas das estações alagadas, cujas ruínas estão hoje fora d'água: Fama e Areado. São eles
Rômulo Fávero, Kilder Márcio e Valter Moraes. Eles tiveram a gentileza de me enviar algumas fotos, das quais uma poequena amostra coloco neste site. Houve outras que também foram inundadas; algumas cidades também.

2 comentários:

  1. Gostei demais.... Muitas saudades mesmo. Fama hoje é outra, nada tem a ver com a pequenina cidade que amávamos. Turistas gostam, é claro, o lago é lindo. Mas para mim é triste. Só isso.

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  2. parabens... Amo saber saber sobre ferrovias do brasil... LInda historia

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