sábado, 8 de dezembro de 2012

FERROVIAS BRASILEIRAS: BURRICE, ARREPENDIMENTO E PROMESSAS VÃS


Em Minas Gerais e em São Paulo, a imprensa tem publicado nas últimas semanas diversas reportagens que, pelo jeito que são escritas, dão a entender que brevemente teremos, pelo menos nestes dois Estados da Federação, de novo trens de passageiros de longa distância, ligando a capital ao interior.

Já comentei sobre estes trens aqui neste mesmo blog. E não vejo necessidade de repetir, porque tenho sido muito amargo e cético para acreditar em tudo isso. Além do mais, mesmo que eles acabem vindo a se tornar reais, não será certamente com a rapidez com que se fala. Dois, três anos no máximo. Todos nós que acompanhamos as notícias de obras governamentais nos últimos dez, vinte, talvez cem anos (este período, lógico, lendo jornais antigos), sabemos que muitas obras iniciadas nunca começam ou começaram e muitas das que foram iniciadas são abandonadas. Poucas sobram.

Com isto, haja dinheiro gasto inutilmente, tanto com material abandonado e nunca mais usado quanto com os simples projetos, reuniões e firmas contratadas. E não falo somente de ferrovias. Se falar apenas destas, vejamos: a Norte-Sul está sendo construída há 26 anos; a Transnordestina, há pelo menos oito; a Fiol (Oeste-Leste), na Bahia, começou efetivamente há menos de um ano e vai bem lenta. O metrô de SP, extensão Santana-Tucuruvi, levou dez anos; da Ferrovia do Frango em SC fala-se há dez anos; do anel ferroviário de São Paulo fala-se há mais de cinquenta anos; o Tronco Principal Sul, no PR/SC/RS, levou trinta anos de construção; a ferrovia Apucarana-Ponta Grossa levou vinte e seis anos para ficar pronta. A ligação ferroviária Monte Azul - Brumado, em MG/BA, completafa em 1950, foi iniciada sob extrema urgencia em tempos de guerra em 1942.

Fora isto, diversas linhas brasileiras iniciaram operações e foram desativadas em até dez anos depois. E cobre-se impostos!!!

O mesmo tipo de gente - ou seja, políticos - fez uma devastação geral nas ferrovias brasileiras entre os anos de 1950 e 1970 atiçados pela Comissão Brasil-Estados Unidos, que, entre outras coisas, convenceu os "altos escalões" do governo brasileiro que ele deveria unir todas as ferrovias brasileiras sob uma bandeira só (a RFFSA) e, depois, que deveria erradicar pelo menos 4000 km de linha sob a desculpa de que eram "anti-ecomonicas". Ora, eram mesmo deficitárias, mas um dos motivos era o fato de jamais terem recebido melhoramentos e, nos anos 1960, eram obsoletas mesmo! Jamais lhes veio à cabeça que uma modernização as salvaria da erradicação e muito menos, que isto prejudicaria milhares de moradores que dela se utilizavam - porque, sabe-se, a base das ferrovias sempre foi o transporte de carga e então, não poderia passar pela cabeça de ninguém que elas poderiam, modernizadas, ser um excelente meio de transporte coletivo somente para passageiros, deixando as cargas para as ferrovias mais longas já existentes.

O próprio governo produzia filmes para tentar concencer a população de que estas desativações eram a "coisa certa a ser feita". Vejam, por exemplo, este filme (que algumas fontes dizem ser de 1962 e, se não for, não é de época muito diferente): trata-se de uma época em que a E. F. Maricá, da Leopoldina e já esta, por sua vez, da RFFSA, ainda funcionava ligando Niterói a Cabo Frio. Hoje, esta seria, modernizada, um excelente trem metropolitano que facilitaria o acesso às praias da região dos Lagos. O próprio Ministério da Educação e Cultura divulgando absurdos.

E hoje ficamos lendo sobre as mesmas coisas... querendo fazer voltar algo que eles mesmos destruindo. É porisso que sou tão cético e amargo com estes assuntos.

6 comentários:

  1. Ola Ralph. Não é ceticismo ou nenhuma amargura. Nada disso.Apenas somos mais politizados do que infelizmente a imensa maioria de nosso povo. Como eu já comentei no blog "São Paulo Trem Jeito", o amado partido de nosso competente governador paulista, perdeu popularidade no estado. Sendo época de eleições e como o tema "linhas ferroviárias" está na moda,o governo lança estudos de novas linhas a torto e direito. Já fizeram isso no passado e vão repetir isso no futuro. Mas as linhas na realidade não vão construir nunca. Tudo não passa de tapeação para iludir o povão que está se queixando da precariedade dos transportes atuais.Pode apostar: até o início das eleições, o governo paulista vai iniciar estudos de linha ferroviária até para a Lua.

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    1. Ah tah sr mais politizado,mais inteligente,mais culto q a maioria do povão, quando PTralhas também dominarem o nosso estado tuuuuuudo vai melhorar, né?!
      Desculpe Mr euripedes mas senso comum é f....!

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  2. Realmente Sr Ralph, isso só está servindo pra plano de governo e assunto de palanque. Dizem que não existem linhas, não há material rodante... Se reformassem o que está abandonado, seria muito mais fácil do que recomeçar do zero. Trem é caro, mas é muito mais durável que transporte sobre pneus.

    Atualmente, parece que a unica obra que está indo bem é a segregação da linha Suzano-Itaquaquecetuba, que está sendo feita pela MRS, que está em fase de assentamento de trilhos.

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  3. Blog do Ralph Giesbrecht - conheci esse Blog hoje, quando procurava na internet fotos de carros de passageiros da EF Leopoldina. Achei a foto.... Li por horas vários assuntos desse blog... Descobri um mundo novo, esclarecedor, lúcido, escrito com aguçado sentido de informar. Reflexão em cima de reflexão... mas muito longe de parecer ceticismo e/ou amargura. Ler o blog é entender o que aconteceu e o que vem acontecendo com os "planejadores" do transporte em nosso país... Ajuda também a entender a mídia.... Delícia de leitura esse Blog do Ralph Giesbrecht.

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  4. O próprio vídeo da EF Marica deixa claro que, caso a linha fosse modernizada, haveria inclusive demanda para transporte de cargas ali. Maaaasss... Sabemos que havia uma má-vontade proposital em se investir em ferrovias naquela época. O "lobby do pneu" acabou vencendo esta batalha.

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  5. De Carlos Augusto Leite Pereira: Sobre a postagem de ontem em seu blog, assistí ao belo filme feito por motivos torpes. O filme é de 1964, tanto que cita a previsão de deficit da RFFSA para aquele ano e faz comparações com os gastos com educação do ano de 1963. Foi feito em consonância com o espírito tecnocrático que acompanhou o golpe militar daquele ano. O filme também mostra belas imagens da estrada de ferro de Petrópolis, com suas locomotivas á vapor com tração pelo sistema de cremalheira, embora no áudio não haja menção a esta estrada. Mas são belíssimas imagens. Pelo menos o filme serviu como um documentário sobre 2 ferrovias que seriam extintas. Pena que não tenha mostrado as estações de Cabo Frio e Petrópolis. Nunca passou pela cabeça dos tecnocratas de plantão que a ferrovia de Petrópolis tinha grande valor histórico por ser a primeira do Brasil. O potencial turístico de um verdadeiro museu vivo, nem pensar. No final, como exemplo de progresso, outra bela imagem, da E.F.Vitória a Minas.

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