O PS-3 em Osasco, provavelmente anos 1990. Foto Carlos Roberto de Almeida
Fundada, pelo menos pelo que alardearam na imprensa, para melhorar os serviços e custos ferroviários nas linhas do Estado, tanto dos trens cargueiros quanto dos de passageiros, em pouco tempo a FEPASA começou a mostrar suas garras para os já desconfiadíssimos usuários destes últimos trens.
De 1971 até o início de 1977 inúmeras linhas e ramais foram fechados para os passageiros. As cargas, então, foram reduzidas a cargas de volume grande, salvo algumas exceções. Isto levou ao fechamanto de mais ramais, inclusive para cargas, e seus consequentes desmontes.
A falta de respeito para com os usuários tanto de um trem quanto de outro se refletiu rapidamente e da pior forma possível. Em vez de reformas de base para melhorar linhas, serviços e material rodante, o patrimônio foi sendo cada vez mais dilapidado. Coisas típicas de completa falta de planejamento a médio e longo prazo. A curto prazo, era alterado a cada mudança de presidente na empresa, fato que se dava em períodos bastante pequenos.
O relato de um antigo usuário dos trens de passageiros da antiga Sorocabana mostra bem o que ocorreu para as linhas que pertenceram a essa ferrovia: "A partir de 77 restaram 3 horários na linha da ex-Sorocabana:
PS1 – 07h00 – Assis
PS3 – 17h00 – Presidente Epitácio
PS5 – 21h20 – Assis
Ao longo dos anos foram modificados para mais ou para menos nos horários e destinos, mas sempre os três trens. Não sei qual fazia baldeação em Ourinhos (nota deste autor: para dali sair para Maringá). Pela lógica, o PS5. Mas era baldeação “sem responsabilidade”. Ou seja, se chegar no horário, ótimo. Se não chegar, um abraço. Assim funcionou por um curto período para Itapetininga. De São Paulo ou intermediárias não se vendia mais passagens para Itapetininga ou Maringá. O passageiro tinha que chegar em Iperó ou Ourinhos e comprar o prosseguimento. Meio draconiano, mas foi assim. Infelizmente. Para desestimular o uso do trem.
Para Itapetininga, foi por bem pouco tempo (nota deste autor: os trens do ramal de Itararé, onde estava Itapetininga, que era ponto de mudança de locomotivas das elétricas para diesel). Não tenho lembrança das datas exatas (nota deste autor: a extinção dos trens para o ramal de Itararé, para onde o trem saía na estação de Iperó, ocorreu em 1978).
Mas, em diversas vezes passei por essa situação de viajar na “sorte” para pegar a baldeação em Iperó. E quando acabou a opção passou a ser o uso do ônibus no trecho Boituva a Itapetininga".
Por esse relato vê-se uma situação de caos, muito provavelmente criada para que os usuários se afastassem ao méximo de andar de trem. Isso ocorreu em outras linhas, também. Em países sérios, seria causa para processo e punições severas. Aqui na terrinha, todos nós sabemos que não aconteceu absolutamente nada com quem nos desserviu por tanto tempo.
Como também ele relatou, "três trens". Tristeza. Eram muitos na linha-tronco, até o início dos anos 1960, e mais muitos nos diversos ramais em operação. Ele se esqueceu de citar o Santos-Juquiá, que corria no ramal de Juquiá (portanto, não no tronco) e que somente foi extinto em 1997. Os outros ramais, tchau. Até a Mairinque-Santos, mais importante ramal de todos os da ex-Sorocabana, perdeu seus trens em 1976. Entre 1982 e 1997, ganhou um mistinho que subia a serra de Santos até Embu-Guaçu (por que não São Paulo? Nem pergunte). Mas era somente isso.
domingo, 1 de julho de 2012
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Vale lembrar que os trens de passageiros entre SP e Peruíbe (e, provavelmente, Santos e Juquiá) foram interrompidos em 1975 devido à uma epidemia de encefalite que ocorreu na região. Depois desse episódio só o trem Santos-Juquiá retornou, sendo suprimido, creio, em fins de 1976. Na verdade, depois dessa data, havia apenas um trem diário de carga, ida-e-volta, com um precário vagão de passageiros. Parece-me que o Santos-Juquiá foi retomado com alguma pompa na época do governo Quércia, fins dos anos 1980, como sendo o primeiro trem de passageiros reativado após a grande crise do final da década de 1970. Em 1997 acabou de vez.
ResponderExcluirGorni, eu não entrei nesses detalhes. Na verdade, parou por algum tempo em 75, depois em fevereiro de 77, depois voltou em 82. Se houve misto entre 77 e 82, fica a dúvida. Abraços
ExcluirRalph, eu sei que nao tem muito a ver com o post mas apareceu mais uma noticia de recuperação da malha ferroviaria. Só não sabemos se acontecerá mesmo, que eu duvido.
ResponderExcluirhttp://www.valor.com.br/brasil/2731304/uniao-quer-recuperar-5-mil-km-de-ferrovias
Eu vi pessoalmente o "misto" em janeiro de 1978... mas não sei dizer seu período exato de funcionamento. E, de fato, é um detalhe.
ResponderExcluirGeralmente não posto comentários, mas nesse caso me revolto ainda mais com o povo brasileiro que não fez nada p/ impedir essa triste realidade, e mais grave ainda o povo de São Paulo que sempre se gabou de ser o pilar mór da econômia e crescimento do país. Sou de Itirapina e nasci e moro bem em frente a primeira estação da cidade que está sendo totalmente destruída, mas tentarei fazer a minha parte e quem sabe salvar esse patrimônio!
ResponderExcluirParabéns por seu nobre trabalho de resgate de memória de como foi a
ResponderExcluirvida de um período tão conturbado anos 1970, 80, 90 ( e hoje não menos, apesar das aparências) pelo menos economicamente, e isso se revela na destruição das ferrovias pelo país afora. Se puder pesquise sobre o antigo pátio e escritório da Cia Pta de Estradas de Ferro em Jundiaí, lá com certeza você terá inúmeras surpresas.