sábado, 28 de abril de 2012

HAVERÁ MAGIA NAS FERROVIAS?

Muitos me perguntam por que eu gosto de estradas de ferro. Como tudo do que se gosta na vida, a resposta é: eu não sei, apenas gosto. Nem sempre foi assim, mas hoje o é.

Pensando um pouco, a maior parte das pessoas que conversa comigo sobre o assunto gosta do tema. Não que seja fanático, na maioria das vezes não sabe praticamente nada, mas... gosta. Confirma que as ferrovias têm um certo fascínio.

As lembranças de viagens com trem parecem sempre mais vivas e alegres do que as feitas com autos, ônibus, aviões. A visão de trilhos no meio do mato e de prédios ferroviários abandonados parecem também fascinar, mesmo que seja algo que não esteja claramente funcionando, esteja... abandonado. Por que?

Por que a estação ferroviária é, quase sempre, a alma das cidades? Como assim? Ora, o simples fato de haver uma estação ativa ou não na cidade com um dístico que ostenta o seu nome já indica isto. Ah, mas há, pelo menos em São Paulo, os nomes das cidades em letras de concreto na entrada rodoviária principal. Mas não parece a alma de uma cidade, apenas parece... a indicação de que aquela é a entrada.

Andar de carro pela Marginal do Pinheiros no sentido Castelo Branco nos faz passar por uma série de postes com catenárias para alimentação elétrica dos trens da CPTM, ao nosso lado esquerdo. A visão rural disto, apesar do asfalto da avenida e das casas e prédios ao lado direito nos dá uma sensação diferente - como se estivéssemos dirigindo no campo, por exemplo, entre Araraquara e Rincão, onde por uma boa parte do caminho os postes de eletrificação abandonados, a maioria sem fios elétricos mais, teimosamente nos acompanham com os trilhos abaixo - ali se vê bem esses trilhos, sobre um pequeno aterro empedrado, pouco mais altos que a estrada. Quando passa um trem, então - raro isso, hoje, naquele trecho - sentimo-nos bem. Ninguém nos acena mais, pois não estão mais ali os velhos passageiros olhando pelas janelas, mas... é um trem!

As constantes histórias de gente que conhecemos e até que não conhecemos nos leva a memórias delas próprias ou de parentes que viviam nas vilas ferroviárias no meio do mato - e não era uma vida má, pelo que sempre se diz.

Qual é, afinal, a magia dos trens? Ela é maior em mim, que literalmente sou apaixonado pelo assunto, mas ela sempre existe em menor ou maior intensidade, na maioria das pessoas, como uma faísca que se acende e traz boas memórias, a ponto de elas as contarem quando são inquiridas.

A ponte de ferro ou de pedra abandonada, a casinha em ruínas com os velhos símbolos das ferrovias - CP, CM, EFCB, EFS e muitos, muitos mais - a bela estação ferroviária ainda conservada - ou não - na cidade, os trilhos que teimam em ficar ali, os pedriscos que sobraram dos trilhos arrancados, os trilhos que ainda são pisados por trens cargueiros ou da CPTM, a associação de preservação que os desenterra depois de anos enterrados, aquele túnel que está ali perdido no meio da mata, mas que teima em não desaparecer...

Nomes que perduram depois de décadas e mesmo centenários, como a Ytuana, a Minas e Rio, a Sapucaí, Oeste de Minas e mais recentemente, Mogiana, Paulista, Sorocabana, Noroeste, Central do Brasil, Santos a Jundiaí... o velho nome no dístico da estação, apagado mas visível debaixo no nome mais recente, como em Cordeiropolis, que se pode ainda ver o nome Cordeiro...

Aquela locomotiva a vapor enferrujando no mato, a diesel destroçada, o carro de madeira apodrecendo, ou, em melhores imagens, a vaporosa funcionando e soltando fumaça em Jaguariúna, a diesel buzinando na entrada da cidade, a elétrica idem - quando ainda existem, tudo isto leva a crer que as ferrovias sejam realmente mágicas.

13 comentários:

  1. É verdade. Há alguns anos eu faço, três vezes por semana, o trajeto da minha casa em Campo Limpo Paulista até Vila Olímpia na Capital, onde trabalho. Na ida, torço para ter a sorte de no momento que eu estiver terminando de transpor o "Cebolão" eu me depare com algum TUE da CPTM atravessando a ponte à frente. Na volta, gosto de acompanhá-los pela marginal do Pinheiros. Qualquer dia causo um acidente.

    Agora, magia e nostalgia eu tenho nas imediações de onde moro, uma região meio rural entre o que um dia foram as estações da Iara, em Jarinú (ou Atibaia?) e Posto 7 ainda em Campo Limpo da EF Bragantina. Tenho 33 anos e minhas recordações dessa ferrovia foram transmitidas pelos meus avós paternos e minha mãe, que é filha dessa cidade e lembra muito bem da despedida da Maria Fumaça em sua última viagem antes da desativação da ferrovia. Segundo ela, seu apito era de lamento, de tristeza. Formou-se uma multidão nessa despedida. Todo mundo acenando...

    Sei que sob a Estrada da Bragantina, hoje asfaltada, ou em sua marginal, ainda há trilhos enterrados. Lembro que quando criança, quando a estrada era de terra, numa eventual chuva mais forte partes dos trilhos ficavam à mostra.

    Pela Estrada da Bragantina de asfalto eu passo todo santo dia. E não há um dia sequer que eu deixe de me lembrar que estou dirigindo sobre uma ferrovia extinta.

    No meu velho GM Corsa eu me imagino na cabine de uma locomotiva. Buzino fazendo de conta que é um apito... Me imagino um maquinista. Lógico que só faço isso quando estou só. No máximo com minha esposa ao lado, que acha graça da brincadeira.

    Acho que quando vier meu primeiro filho terei muito prazer em compartilhar com ele esse meu interesse, meio infantil, ainda, pelas ferrovias, que se iniciou com as histórias do meu avô, que era ferroviário da Paulista e com meu primeiro Ferrorama XP 500 (ainda na caixa) que ganhei aos cinco anos. Junta-se a isso meus Frateschi que comprei ao longo da adolescência e alguns que ainda compro, mas sem a pretensão de ser um ferreomodelista.

    Uma pena que eu seja obrigado a ir trabalhar de carro na Capital. Impossível chegar na Vila Olímpia pelos trens da CPTM, não pela qualidade, que acho adequada, mas pela distancia. Mesmo quase sempre pegando transito, o tempo gasto é sempre menor de carro do que por ferrovia. Se ainda houvesse um expresso como havia no passado...

    Luiz

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    1. Esse tempo menor de carro do que de ferrovia inclui o que? Desde sair da sua casa até chegar ao escritório? Abraços

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    2. Sinto essa mesma magia. Cresci nas sobras do trem, brincando num pátio de estação cheio de pedras e cercado de casuarinas.
      Desde cedo aprendi o que significava E F C B, bem como a reverenciar aqueles velhos muros de pedra argamassada, os pontilhões de ferro abandonados no meio do mato e os cortes elevados nas várzeas.Amo muito isso tudo.

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  2. Puxa, meu caro. Passei o dia todo na organização da 1ª Exposição Memória do Ferroviário de Rio Claro, SP, com direito a missa com o padre chegando com trem de passageiros, ex-ferroviários e pessoas a favor da montagem do museu ferroviário nacional na cidade, nas antigas oficinas da CPEF, lutando contra aqueles que só pensam em destruir a história em favor próprio. Sua postagem foi para encerrar meu dia chorando de emoção. Se me autorizar a copiar seu texto e colocá-lo no mural da ABPF Rio Claro em seu nome, agradeceria muito. Um grande abraço. T+.

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  3. Olha, não imaginava que houvesse alguém que pudesse explicar o meu fascínio por transportes sobre trilhos... Teu texto me emocionou, de verdade. Não vivi em uma época de valorização dos trens, pelo contrário, estou no início da minha vida adulta e o que eu vejo e presencio é a quase que total degradação do serviço ferroviário aqui no Rio.
    Espero um dia ainda ver o sonho dos trilhos renovado e sendo posto em prática. AInda acredito num Brasil integrado pela rede metro-ferroviária. Acreditar me faz ter certeza que essa magia das ferrovias é real.

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  4. Olha que éspecime fantástica de maria fumaça, e abandonadinha na região de Sorocaba, a menos de 100 km da capital paulista!

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  5. Lendo seu blog sobre ferrovias, deparei com o nome de (Domingos
    de Morais). Posso lhe informar que desde os bondes para Vila Mariana, e até nas placas de Rua o nome esta errado.
    O correto é Domingos Corrêa de Moraes. Seu nome foi dado por ter sido Vice-Governador do Estado.

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  6. Obrigado, "nomes". Mas pelo menos para mim não ;e novidade, os Morais de hoje são os Moraes de ontem, e alguns atualizaram a correção orotográfica dos anos 1930, outros não. Quanto ao Corrêa e ser vice-governador, também sabia (ele era de Batatais), mas provavelmente o Corrêa não foi dado à rua (o nome da rua parece ter surgido no final do século XIX, não por acaso no tempo em que ele era o vice) provavelmente porque o nome pelo qual ele era conhecido era o da rua. Apenas por isso. Assim como o Brigadeiro Luiz Antonio, cujo sobrenome jamais constrou do nome da rua. E outros. Abraços

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Li no texto que você escreveu Mogiana. Só pode ser a Estrada de Ferro que vem para a minha cidade de Mogi das Cruzes. Filha de ferroviário, morávamos na beira da linha. Pois tenho saudades das madrugadas em que passava o trem cargueiro... e não tinha como não acordar com aquele ruído do trem passando de um trilho ao outro, que só quem morou na beira da linha conhece..... aquele tam..tam..tam ... mágico mesmo. Fantástico.

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  9. Não, Silvia. Mogiana era uma ferrovia do interior do Estado que acompanhava no seu início o rio Mogi-Guaçu, passando por cidades como Mogi-Guaçu e Mogi-Mirim. Abraços

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  10. Não, Silvia. Mogiana era uma ferrovia do interior do Estado que acompanhava no seu início o rio Mogi-Guaçu, passando por cidades como Mogi-Guaçu e Mogi-Mirim. Abraços

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