sábado, 31 de março de 2012

A SÃO JOSÉ DOS CAMPOS DOS TEMPOS DA E. F. SÃO PAULO-RIO

Na figura acima, notar que o mapa de 1938 não está na posição norte-sul. No quadrante esquerdo inferior, as ruas em tracejado quadriculado jamais foram construídas dessa forma. O mapa hoje é completamente diferente nessa região. Parte desse quadriculado está onde hoje é o CTA. A ferrovia antiga aparece com seu nome citado, embora já houvesse sido erradicado anos antes. Aparece também a ferrovia construída em 1925. O centro da cidade da época está dividido entre "zona comercial" e "zona residencial". A estrada de rodagem Rio-São Paulo aparece mostrada desde mais ou menos o cruzamento dela com a estrada de Paraibuna (hoje rua Paraibuna) e a atual fábrica da GM.

Esta última visita que fiz a São José dos Campos na última terça-feira foi bastante proveitosa (para mim, pelo menos). Encontrei dados em um livro sobra o bairro de Sant'Anna publicado em 1999 pela Fundação Cassiano Ricardo que me trouxeram luz a diversas dúvidas que eu tinha sobre a passagem da ferrovia pela cidade.

Uma delas é: onde passava, em termos mais detalhados, a linha da E. F. São Paulo-Rio construída por esta e comprada pela Central em 1896 e posteriormente desativada por esta última em 1925? E por onde realmente passava a Estrada de Rodagem São Paulo-Rio até 1952, ano de abertura da via Dutra?

Em relação à ferrovia, eu já sabia que ela subia e descia o morro que é o divisor de águas entre o córrego do Vidoca e o do Lavapés e que a estação original ficava onde hoje é a SABESP - que, aliás, não ficava no centro da cidade daquela época, embora qualquer joseense de hoje saiba que a parte alta da cidade é praticamente toda ela considerada como "centro", incorporando até bairros como a Vila Adyana e a Vila Ema. Ou seja, ir à estação era algo que demandava uma viagem considerável a pé ou de carroça - automóvel, que surgiu pela cidade no final dos anos 1900, era coisa para rico.

A linha passava no que era o limite da zona urbana de então. Passava no que hoje é a rua Anchieta, na subida do Banhado, e em ruas estreitas e em rampa como a que fica no final da rua Marechal Floriano.

Tanto que, quando a estação foi mudada em 1925 para a parte baixa da cidade, junto à fábrica da Tecelagem Parahyba, a população reclamou, dizendo que a nova estação era longe demais. Na verdade, não era mais longe do que a outra, mas em compensação fazia com que os usuários tivessem de descer uma longa ladeira para chegar até ela e, na volta, claro, era pior, pois tinham de subir a ladeira.

Era, no entanto, uma enorme necessidade para a Central do Brasil colocar a nova linha toda ela na parte baixa de São José. Afinal, fazê-la subir e descer de uma forma bastante acentuada para atingir a cidade em vez de contorná-la junto ao paredão do Banhado, como foi feito a partir de 1925, era uma estupidez, que fazia com que o trem gastasse mais tração, mais combustível e mais tempo.

Além do mais, uma curva fechada construída após a travessia do Lavapés numa locomotiva que havia acabado de descer uma rampa acentuada fazia com que os acidentes e descarrilamentos ali fossem uma constante. Em 1915, conta-se que teria acontecido ali o pior deles. Esta construção de uma linha com um trajeto esdrúxulo foi provavelmente construída de forma a atender interesses políticos da época de sua construção, do tipo "quero que o trem passe dentro da minha cidade. Se não for possível, quero evitar descer ou subir para atingir a estação". Este será um caso interessante a se pesquisar nas atas da Câmara da cidade no futuro.

Este tipo de "desvio político" também ocorreu em outras cidades. Os exemplos que me vêm à mente neste momento são os que existiram em Brotas, SP, de 1892 a 1929 e em Joinville, SC, este ainda hoje funcionando.

Quanto à estrada de rodagem, ela também passava "longe" da cidade e parte dela se transformou hoje na avenida Heitor Villa-Lobos em toda a extensão desta. Para se seguir dela para a cidade, havia que se entrar ou pela avenida Nove de Julho, já existente, ou pela atual rua Paraibuna. Após o final da atual Heitor Villa-Lobos, a antiga rodovia foi incorporada em alguns trechos pela via Dutra e depois passava a entrar pela esquerda (sentido São Paulo-Rio) por outras ruas atuais até chegar à estação de Eugênio de Mello, de onde seguia para Caçapava.

O mapa acima, publicado em 1938, mostra esses trajetos. Mais detalhes nas páginas da estação de São José dos Campos nova e velha no meu site. É também conveniente citar que a linha de 1925, entre as estações de São José dos Campos e a de São Silvestre, na fábrica de celulose de Jacareí, foi toda retirada nos anos 2000. Desde 1995, os trens que cortam a cidade se utilizam apenas da variante do Parateí, que entra de Jacareí no município pelo bairro de Sant'Anna.

2 comentários:

  1. Caro Ralph

    Antes de aposentar morei em SJC no final dos anos 90. Conversando com os moradores mais antigos eles falavam o mesmo sobre a antiga rodovia. Foi interessante saber que existiram 3 percursos da ferrovia cortando a cidade. Só sabia da que corta a encosta do banhado (que teimam e dizer que tem um projeto de VLT que aproveitaria esta linha sem uso e provavelmente seria um fracasso igual ao de Campinas pois levaria os passageiros de nenhum lugar para lugar nenhum} e a atual variante do Parateí.

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    1. Discordo do VLT. Acho que seria um caminho rápido e não poluente - ou muito menos poluente do que uma avenida, se for a diesel ou gasolina - ligando dois extremos da cidade sem passar pelo centro. Quanto ao VLT de Campinas, ele parou não exatamente por ligar nada a lugar nenhum, mas por não ter conexões com outras linhas, sejam de outros VLTs, como de ônibus. Parou por má vontade e pressão de empresas de ônibus, mesmo.

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