domingo, 17 de outubro de 2010

ENTERRANDO DINHEIRO EM ABELHA

Desenho de Carlos Latuff mostra a posição de uma estação que existiu apenas por 7 anos no Paraná

Hoje meu amigo Carlos Latuff, que perambula por boa parte do Brasil (e às vezes por outros países) à cata de aventuras, mandou-me o link de sua nova postagem no seu blog, sobre a estação ferroviária de Abelha, às margens do rio Ivaí, no Paraná. Vejam-na, é muito interessante.

Porém, o que me leva a falar sobre esta postagem e seu blog é o fato não de ele encontrar uma estação abandonada ou de caminhar por linhas ferroviárias extintas - pois isso ele faz bastante - mas sim por que não consigo me conformar em como este País tem jogado dinheiro fora através de sua história recente.

Essa linha citada por ele, onde estava a estação de Abelha, foi inaugurada em 1965 e prolongada depois em 1967 até Jussara e terminou em Cianorte, em 1972. Era um prolongamento da antiga E. F. São Paulo-Paraná, que havia alcançado Londrina em 1935 e Maringá em 1954. Para estas duas cidades, até que o ramal, que partia da cidade de Ourinhos, em São Paulo, havia cumprido parte de sua função, que foi alimentar com facilidade o crescimento dessas duas cidades (e de intermediárias) e depois escoar sua produção.

Para a frente de Maringá, no entanto, a linha foi prolongada muito lentameente. As cidades que ela alcançou pouco prosperaram e a que ficou sendo a terminal, Cianorte, já era uma cidade bastante desemvolvida quando foi finalmente alcançada pela ferrovia, em 1972. Os trens de passageiros trafegaram de Maringá a Londrina por apenas 7 anos - de 1972 a 1979. Não eram os mesmos que vinham de São Paulo diretamente para Londrina e Maringá: havia sempre uma baldeação nesta última cidade para seguir adiante.

A ferrovia deveria ter sido estendida até Umuarama. Nunca o foi, embora tenha sido gasto muito dinheiro nos projetos para que isto ocorresse, pela RFFSA. Em 1978, ainda havia publicações a respeito de um prolongamento então dado como certo. Depois, não se falou mais nisso. Para piorar as coisas, as cargas transportadas para além de Maringá, que já não eram grande coisa, foram minguando. Com a privatização da linha, em 1997, o tráfego entre Maringá e Cianorte desapareceu.

A ALL não tem nenhum interesse em carregar nada por ali. As estações, relativamente novas, viraram ruínas.

Enfim, este não foi o único exemplo de dinheiro mal empregado. O ramal mal funcionou 20, 30 anos e hoje é sucata. O que Carlos Latuff encontrou ali estes dias foram linhas abandonadas, trilhos desaparecidos, enfim, a recuperação da linha para tráfego de cargueiros dispenderia mais dinheiro ainda. E sabemos que a ALL não está disposta a gastar.

Hoje em dia, o escoamento das cargas que vêm da parte da linha ainda ativa (só para constar, os trens de passageiros entre Ourinhos e Maringá cessaram em março de 1981) descem não mais para Santos, via Ourinhos, mas sim para Paranaguá, via linha Apucarana-Londrina - uma linha que funciona desde 1975, sempre foi linha cargueira e nunca teve trens de passageiros. Foi uma ferrovia (chamada anteriormente de Central do Paraná) que levou 26 anos para ser construída (26 anos para pouco mais de 300 km de linha, durante os quais muita coisa teve de ser reconstruída) e que teve, para cada estação, um gasto absurdo de dinheiro - cada pátio tinha um prédio para estação, um armazém e pelo menos 12 casas para turmeiros. A maioria desses pátios jamais foi utilizado, muitos deles hoje são ruínas.

Haja dinheiro. Haja impostos. Haja (falta) de vergonha na cara).

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