quinta-feira, 7 de outubro de 2010

SÃO PAULO BOMBARDEADA (E NÃO É 1924!)


A cidade de São Paulo viveu sob o bombardeio do "fogo amigo" em julho de 1924. Quem bombardeou não foram os revoltosos que a invadiram, mas sim as forças do Governo da República, que com isso pretendiam expulsar os rebeldes que tomaram conta de boa parte da cidade. Conseguiram. Em 28 de julho, todos pegaram o trem da Paulista na Luz e caíram fora. As consequências dessa fuga até hoje repercutem no Brasil.

Porém, as casas e fábricas destruídas em 1924 foram somente o começo. As fotografias da destruição de 1924 mostravam sempre ruínas com pessoas em volta olhando o estrago. Hoje, a cidade vive um bombardeio silencioso e as pessoas nem param mais para olhar.

Em poucas semanas, foram-se casarões na avenida Brigadeiro Luiz Antonio - pelo menos dois. Foram-se duas casas vizinhas na rua Carlos Sampaio. Foi-se uma casa na esquina da alameda Maracatins com a rua dos Chanés, a um quarteirão da avenida dos Bandeirantes. Olho para o céu e não vejo aeroplanos, não vejo obuzes nem bombas V-2. Também não há tropas da União em volta da cidade. Quem são esses destruidores de casas, tão ou mais rápidos do que o exército de Artur Bernardes?

Na verdade, esses agentes do mal estão bombardeando a cidade já há muito tempo. Em 1924 eles já existiam, mas ainda eram lentos. Com o tempo e a verdadeira admiração dos vilões (não, não pense nos vilões da DC ou da Marvel, pense nos vilões origens da plavra: os habitantes das vilas que enchiam o saco do nobre que era dono dela) pelos edifícios de apartamentos com nomes ingleses, franceses ou italianos, eles se tornaram mestres no assunto.

Eles nem precisam de aviões, obuses ou bombas V-2. Bastam guindastes, pás, picaretas e, de vez em quando, uma implosãozinha. Silenciosos e sorrateiros, eles vão derrubando o que encontram pela frente. Treinaram em Higienópolis, depois na Paulista, nos Jardins (na verdade, a velha Vila America, que nem esse nome tem mais), Moema, Itaim e dezenas de outros bairros, transformando a cidade numa selva de pedra (alô, Francisco Cuoco e Regina Duarte!).

Hoje, fotografei a casa da alameda dos Maracatins, da qual falei acima. A foto está no topo desta postagem. Também estive em três prédios em Moema, em andares altos. De lá, quase não dá para se ver os leitos das ruas estreitas do bairro. O que se vê são prédios e um ou outro telhado de telhas de barro, além das horríveis coberturas de zinco ou de cimento-amianto. De um deles, vi uma construção muito bonita que, por enquanto escapa da destruição: o prédio da Cruz Vermelha na avenida Moreira Guimarães com seu imenso jardim, cada vez mais cercado pela barreira de pedra 'a sua volta.

Córregos com o Uberaba e o Paraguai, que foram canalizados embaixo de prédios, também desapareceram há muito. As casinhas cada vez são em menor número e raramente abrigam moradores, mas apenas pequenas lojas e restaurantes. Na avenida dos Eucaliptos, uma fileira de casas - aliás, muito bonitas - estão cercadas por um muro com o símbolo do metrô. Vão para o chão. O metrô também é um dos bombardeadores da cidade.

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