Mapa da Escócia - Fonte: Wikipedia
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O jornal O Estado de S. Paulo de ontem (quinta-feira, 11 de setembro) publica um artigo de Gilles Lapouge, correspondente francês do jornal em Paris, sobre o referendo que deverá se realizar na próxima quinta-feira, dia 18, na Escócia, para se decidir se o país se separará do Reino Unido ou não.
Ali ele coloca suas opiniões (Lapouge, como todo bom francês, não morre de amores pela Inglaterra) sobre uma possível vitória dos separatistas, o que colocaria a Escócia como um novo país no mapa europeu. O artigo é interessante. Aliás, a Europa muda de mapa constantemente desde que a história de seus povos é conhecida.
William Wallace, no título, foi um guerreiro escocês do final do século XIII que combateu os ingleses invasores de Eduardo I e ajudou a colocar no trono de seu país a dinastia dos Stuart - antepassados dos reis ingleses de hoje.
Com o final da Segunda Guerra Mundial, a impressão de que o status quo do mapa que se definiu em 1945 seria o definitivo tornou-se algo, digamos, aparentemente aceito por todos. Nos anos 1980, um autor americano disse que estávamos "no fim da História", ou seja, grandes mudanças não deveriam mais ocorrer na Europa e no mundo. Não é preciso dizer hoje que ele errou mais do que Hanna e Barbera no famoso desenho animado dos anos 1960, Os Jetsons, que se passava num futuro nunca dito, mas sempre dando a impressão que era logo após a virada do século XX para o XXI.
Com a surpreendente rápida queda da Cortina de Ferro em 1989 e logo após da União soviética, muitos novos países surgiram na Europa. Alguns de forma pacífica e outros com guerras sangrentas. O fim da História foi adiado para... quando?
É curioso esta história de "países". Ora, vamos ao aspecto futebolístico: se a Escócia não é um país, por que participa das Copas do Mundo, bem como a Irlanda do Norte, o País de Gales e a própria Inglaterra? E por que os antigos países da "União das Repúblicas Socialistas Soviéticas" não participavam como países na mesma Copa? E as seis "repúblicas autônomas" da antiga Iugoslávia, hoje cada uma um país "independente"?
Ainda devemos nos lembrar da separação da Tchecoeslováquia em dois países.
Bandeira nacional da Escócia
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Voltando à Escócia, se ela realmente se separar do Reino Unido, isto não será somente uma grande ferida no orgulho inglês: será também a perda de boa parte do petróleo do Mar do Norte para o país que na prática manda no Reino Unido: a Inglaterra e também para os que ainda estão ali, Irlanda do Norte e País de Gales.
O que é curioso no Reino Unido é que a Rainha reina sobre os quatro países e até sobre países afastados, mas que não estão no Reino Unido, como a Austrália, Nova Zelândia e Canadá. E se a Escócia sair, a rainha vai continuar reinando lá? Os escoceses querem que sim. A Rainha não se manifestou.
Mais curioso ainda é que, em teoria, não foi a Inglaterra que uniu a Escócia a ela, fato que se deu em 1603: foi o contrário. O herdeiro do trono que assumiu naquele ano era o rei da Escócia, Jaime VI Stuart (Jaime I da Inglaterra). Ele era filho da rainha Mary, aquela que havia sido morta por Elisabeth I Tudor e sua prima-irmã. Matando-a, Elisabeth, que não teve filhos, acabou definido o filho de Mary como herdeiro.
A atual Rainha da Inglaterra etc é dodecaneta de Mary, mas obviamente não descende dos Tudor. 1603 foi um ano de mudança de dinastias. O reinado de Jaime I (VI) foi como administrador - os reis tinham naquela época muitíssimo mais poderes executivos do que hoje, não eram apenas decorativos - de dois países e isso era feito separadamente. Apenas no tempo de sua bisneta Ana Stuart é que se estabeleceu a união dos países - o Reino Unido. Aí, a Escócia perdeu sua real autonomia.
Seja o que acontecer, existe uma onda de separatismo na Europa que ainda não acabou: o País Basco e a Catalunha querem sua separação da Espanha. A Catalunha tem um referendo para daqui a dois meses. A Espanha vai voltar a ser o reino de Castela?
E se a onde se espalhar demais? O Brasil, que já provou ser cada vez mais inviável de ser governado após uma sucessão de maus governantes, coroadas com a atual incompetente no cargo, pode chegar ao ponto de se desfazer. Não duvido que isto venha a acontecer num futuro a médio prazo. Mas serei eu tão ruim como o americano ou Hanna Barbera?
Na verdade, as nacionalidades que existem na Europa não existem na América do Sul. Aqui, povos que se misturaram, como brancos, índios, negros, japoneses, se questionarem uma separação de algum Estado ou região atual, estariam fazendo isto em nome de que? De um ou mais povos ou de uma insatisfação política? São Paulo é típico: sua economia é tão mais forte que qualquer outro dos vinte e cinco estados de hoje, o que gera a insatisfação de quem mora aqui com relação a sustentar mais da metade dos outros. Razões bem diferentes do nacionalismo europeu.
Como será o mapa do mundo daqui a cinquenta anos? A resposta será conhecida somente daqui a cinquenta anos.
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sexta-feira, 12 de setembro de 2014
domingo, 4 de dezembro de 2011
AS VISITAS REAIS E O TREM

As visitas reais ao Brasil - incluindo as visitas que Dom Pedro II fazia e que não eram, claro, "ao Brasil", mas, "no Brasil" - sempre tiveram, pelo menos até meados do século XX, o trem.
No caso das visitas de príncipes e monarcas ingleses, a primeira delas, que se deu em 1931, portanto quase 900 anos depois de estabelecida a atual monarquia inglesa, teve como personagens a Sorocabana, a Central do Brasil e a São Paulo-Paraná (esta, anos mais tarde, incorporada pela Rede de Viação Paraná-Santa Catarina - RVPSC).
Em fins de março de 1931, o príncipe de Gales, Eduardo (que reinou de janeiro de a dezembro de 1936 como rei Eduardo VIII, tendo renunciado então para se casar com uma plebéia) e Jorge (o príncipe gago "Bertie" (que reinou de 1936 a 1952 como Jorge VI, pai da atual rainha Elisabeth II) visitaram o Brasil - mais precisamente, os estados de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Ficaram por aqui cerca de uma semana e foram a Belo Horizonte, Rio, São Paulo, Cornélio Procópio (aqui, onde ficavam as terras da Paraná Plantations, no empreendimento imobiliário mais bem sucedido do mundo até então, que deu origem a Londrina e outras cidades do norte do Paraná) e... Botucatu.
Botucatu? Sim, na fazenda Morrinhos, de Lineu de Paula Machado, onde ficava esta estação. "Às 8 horas dava entrada nessa estação o grande especial de Suas Altezas, que era composto de 9 carros e conduzido pela locomotiva 809, tendo como maquinista João Antonio e chefe de trem Filenno Bucci. O desembarque da comitiva se deu às 13 horas, estando SS. AA. acompanhados pelas seguintes pessoas, (entre outras) (...) Dr. Lineu de Paula Machado, Dr. João Teixeira Soares, (...) Carlos Chagas, (...) e Dr. Gaspar Ricardo Junior, chefe da 4ª divisão, que representava a Sorocabana. Logo após o desembarque, dirigiram-se todos ao "Haras Expedictus" da fazenda Morrinhos, onde visitaram suas principais instalações. O pavilhão de caça, destinado exclusivamente a SS. AA., foi transformado em acomodações, decoradas finamente. (...) A excursão terminou às 23 horas e (...) Às 23:27, partiu desta Estação o Especial de SS. AA., com destino a São Paulo (...)".
Lá teriam caçado perdizes, "esporte" que muito agradava às nobrezas inglesas. O trem deve ter vindo diretamente de Ourinhos, onde haviam chegado os príncipes no dia anterior provenientes de Cornélio Procópio, na linha da São Paulo-Paraná. De Paula Souza seguiram para São Paulo e dali para o Rio e Belo Horizonte.
Em São Paulo, Eduardo fez uma visita à Casa Allemã, na época tradicional loja chic da cidade e sita à rua do Arouche, onde foi recebida pelos proprietários. Como sempre se fala que Eduardo tinha uma enorme simpatia pelos alemães e pelos nazistas de Hitler...
Em 1968 foi a vez da Rainha Elisabeth e do Príncipe Phillip visitarem o Brasil. Em São Paulo, inauguraram o Museu de Arte da Avenida Paulista. Conta-se também - não vi nenhuma evidência fora essa narrativa, feita por um senhor de Araras - que o príncipe foi de trem da Paulista para a estação de Elihu Root, onde visitaria uma fazenda da região:
"A estação ainda estava bem cuidada, o chefe com o uniforme impecável, enquanto a locomotiva a vapor, com o número 23 ou 25, não me lembro exatamente, chegava com duas bandeiras fincadas à sua frente, uma inglesa, outra brasileira, puxando um carro de administração; eu não me lembro se havia mais um carro de apoio ou não. A máquina era a vapor, sim, embora elas, nessa época, raramente passassem por ali. O príncipe desceu, cumprimentou meus filhos, crianças ainda, e entrou num jipe que também tinha duas bandeiras e o levou até a fazenda Santa Cruz".
Nas visitas mais recentes do príncipe Charles, por exemplo, sabe-se que ele passou longe das ferrovias por aqui. Por que terá sido? Alguém pode sugerir algum motivo para isso ter acontecido? Hein?
quinta-feira, 28 de abril de 2011
A MONARQUIA INGLESA

O colunista francês Gilles Lapouge escreve hoje no jornal O Estado de S. Paulo o artigo "Para que serve a monarquia inglesa?", com o qual não concordei de forma alguma. Bom, sendo cidadão de um país que eliminou sua monarquia de quase 1.500 anos já há 163 anos (1848), deve-lhe ser difícil ter de engolir seu secular rival mantendo a sua até hoje.
A monarquia inglesa existe unificada desde o século IX, pelo menos. Na época, resumia-se basicamente à própria Inglaterra, com aumentos ou diminuições de território eventuais devido a constantes guerras próprias daqueles tempos. No início do século XI, chegou a estar unificada com reis escandinavos, como o rei Knut (Canuto), morto em 1035. Seu sucessor, Eduardo o Confessor, que não foi Eduardo I, mas uma espécie de "Eduardo Zero", reinou até as vésperas da invasão da Inglaterra pelo rei da Normandia francesa, nomeado Guilherme I (ou William the Conqueror) em 1066 após bater em Hastings o rei inglês que sucedeu o Confessor por poucos meses após sua morte nesse mesmo ano.
William se autoproclamou rei inglês e iniciou a numeração dos reis ingleses atuais. Sua dinastia durou menos de um século, sendo substituído pela dinastia Plantageneta, iniciada com o rei Estevão (Stefan), avô de Ricardo Coração de Leão. Essa dinastia extinguiu-se em 1399, com a morte de Ricardo II. Após isso, diversas dinastias se seguiram, até que em 1714 iniciou-se a atual com o rei Jorge I (George). Ele era alemão e não falava o inglês. Chegou ao trono como bisneto do rei Jaime I Stuart que reinara mais de 100 anos antes. O último Stuart não deixou descendentes (rainha Ana). A dinastia de Jorge I hoje tem o nome "inglesado" de Windsor, antiga Saxe-Coburgo-Gotha.
Para simplificar: a rainha Elisabeth II é descendente direta de Guilherme I e de um a outro foram 900 anos e vinte gerações (podem contar se quiserem. Eu contei). Mesmo este último rei era aparentado com seus antecessores, de uma forma ou de outra. Dinastias mudam quando em vez de filhos ou netos, os reis têm de ser substituídos por algum primo distante por não terem deixado descendência direta.
Depois de tudo isto, a Inglaterra tem sua monarquia que a muitos parece extemporânea. Mas qual é o motivo de ela ter se mantido, assim como diversa outras monarquias pelo mundo afora? Afinal, em todos os continentes elas existem. Sempre é bom lembrar que Canadá, Austrália e Nova Zelândia são tecnicamente monarquias e não repúblicas e seus reis são os mesmos da Inglaterra - apesar de que hoje não há nenhuma dependência destes países em relação à Velha Albion.
Voltando ao rabugento Lapouge, tenho a dizer que a monarquia inglesa e as outras sobrevivem até hoje por uma questão difícil de explicar e que se refere a algo que pode ser chamado pura e simplesmente de magia.
As monarquias têm origem na religiosidade dos povos - ou seja, na crença na existência de Deus. Para resumir as coisas, os reis e imperadores são os representantes de Deus em seus países. Em boa parte das monarquias europeias, os reis tinham uma espécie de procuração dos papas do Vaticano para exercerem esse poder sobre seus povos. A religiosidade é muito forte, todos sabemos. Seja Deus Jeová, Alá, Buda ou um deus egípcio, grego ou escandinavo, na verdade Deus é criado em nossas mentes (ou em nossos corações, como costumeiramente se diz). Mesmo os que se dizem ateus mentem, pois eles apenas não reconhecem as dúvidas que têm com relação à existência de um Deus, ou de um ser superior, ou de algo exterior que explique o que é inexplicável. Isto é uma das formas de magia, enfim.
A saudade que sinto de meu pai falecido há 15 anos é magia. O amor que sinto por Ana Maria desde que a conheci há já 40 anos é magia. A saudade que sinto por um avô que jamais vim a conhecer é magia. A paz que o ruído que as ondas do mar trazem em uma praia vazia é magia. A tristeza de ver um gato de estimação morrer é magia.
A admiração que um povo tem pela realeza de seu país é magia. Isso explica o deslumbramento não só do povo inglês como também dos povos do resto do mundo por um casamento na família real, como o que vai acontecer amanhã em Londres, entre o futuro Guilherme V (William) e sua esposa plebeia. Afinal, é claramente notável a admiração dos americanos por qualquer coisa relativa à realeza - eles, que sempre foram uma república, são tecnicamente apenas uma dissidência ocorrida há mais de 200 anos da realeza inglesa.
No Brasil, dois imperadores - Pedro I e Pedro II - foram os responsáveis tanto pela existência do país independente como pela manutenção da unidade de um território tão vasto. Ainda hoje existem, e não são poucos, muitos saudosos da monarquia e muitos desejosos de que um Pedro III aparecesse como um milagre para voltar a reinar.
Enfim, Meussier Lapouge, é isso!!!! No seu caso, pura dor de cotovelo. A monarquia inglesa é, antes de tudo, a Nação personificada. E pessoas civilizadas têm muito respeito a isso. Azar seu, pois seus antepassados viram sem reagir a deposição do último rei francês, Carlos X, e do último e único rei dos franceses (sim, havia uma diferença), dezoito anos depois, Luiz Filipe. Azar nosso, que não somente depusemos como acabamos, por tabela, matando nosso amado Imperador Pedro II, descendente de Habsburgos, Braganças, Aviz, Orleans, Bourbons e até de Plantagenetas ingleses...
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