Meu avô paterno, Hugo Giesbrecht, era o primogênito de Guilherme (Willhelm) Giesbrecht, prussiano de Königsberg que desembarcou sozinho no Rio de Janeiro em 1888 com 22 anos de idade. De alguma forma chegou a Diamantina e lá logo se casou: em 1894, estava trabalhando em Jaguari (atual Jaguariúna, SP) onde foi um dos fundadores da cidade, construtor da Igreja Matriz e das primeiras onze casas urbanas. Hugo nasceu ali neste ano.
Num percurso ainda nada claro para mim, enquanto Guilherme deixava Jaguari para construir e projetar ferrovias por boa parte do Brasil, Hugo o seguia com seus irmãos mais novos em algumas viagens, enquanto na maioria dos casos ia para Diamantina com a mãe.
Por volta de 1909, Guilherme estava em Teófilo Ottoni como diretor da E. F. Bahia-Minas, e Hugo estaria lá morando e estudando numa faculdade no sul da Bahia (será mesmo?) indo para lá a cavalo. No final dos anos 1910, estava em Curitiba possivelmente já como engenheiro da E. F. São Paulo-Rio Grande. Ali conheceu, na casa do então superintendente da empresa, o americano Howell Louis Fry, sua sobrinha Rosina, de Joinville.
Hugo e Rosina casaram-se em 1920. Ernesto, meu pai e seu primeiro filho, nasceu em Ponta Grossa em março de 1921. Hugo seguia trabalhando entre Curitiba e Ponta Grossa nos anos seguintes . Em 1922 nasceu Ruth; em 1924, Guilherme (Willi). Ernesto estudava em uma cidade ou em outra, andando de trem com os irmãos e morando, pelo menos em Ponta Grossa no bairro das Oficinas.
Em 1925, Hugo passou a trabalhar também no fundo de pensão da EFSP-RG, com sede em Ponta Grossa. Em 1931, era correspondente da Sorocabana junto à ferrovia paranaense. Em novembro de 1933, foi envolvido num escândalo no fundo de pensão da São Paulo-Rio Grande. Por recentes investigações minhas, ele realmente teria sido envolvido no caso de desvio de dinheiro por alguns diretores e pelo contador – infelizmente, não consegui provar ainda o caso definitivamente.
O fato é que isto praticamente gerou a expulsão de Hugo e de sua família da empresa e da cidade. Hugo e Rosina iriam para Joinville – Ernesto chegou a ser matriculado lá –, mas acabaram vindo em fevereiro para São Paulo, muito possivelmente porque ali Hugo conseguira um emprego na recém-fundada empresa Sociedade Técnica de Materiais Sotema, poderosa empresa nos anos 1940 e extinta no final dos anos 1970.
Em São Paulo, Hugo e família desembarcaram na estação da Sorocabana (que somente viria ter o nome de Julio Prestes em 1951) e foram para um hotel na rua General Osório. Dali mudaram-se para uma casa na mesma rua; em 1943, já estavam na alameda Glette. Em 1956, na rua Cardoso de Almeida, nas Perdizes, em 1959, na avenida General Olimpio da Silveira, esquina com a rampa da avenida Pacaembu, num apartamento, para finalmente mudarem-se em 1960 para uma casa geminada na avenida Itacira, no bairro do Planalto Paulista.
Visitei-os nestas três últimas casas. Na Itacira, a casa ficava em meio a um deserto urbano: o loteamento era novo, no quarteirão somente existiam as duas casas geminadas e eles não tinham telefone nem carro. A casa era nova. Todas as casas em que moraram em São Paulo eram alugadas. Eu ia lá e me divertia vendo os holofotes do aeroporto de Congonhas ao longe, desde a geração até o infinito.
Em fevereiro de 1961 decidiram mudar-se novamente para uma pensão na rua Martim Francisco, em Santa Cecília. Na véspera da mudança, 9 de março, a tragédia – Hugo teve um infarto fulminante por volta das nove da noite.
Rosina, sem saber o que fazer, gritou por socorro. O vizinho do conjunto de duas casas ouviu e foi até lá. Sem ter o que fazer, mas tendo telefone, ligou para o pronto-socorro: quando Hugo chegou a ele, já estava morto. Vovó mudou-se sozinha para Santa Cecília.
Na manhã do dia 10, eu não fui à escola. Contaram-me o que ocorreu. Com apenas 9 anos, eu não entendia direito as emoções dos outros. E quem teria atendido vovô na noite anterior? Na verdade, foi um jovem comerciante recém-chegado do Rio de Janeiro, Senor Abranavel, cujo nome adotado para o programa de rádio que estava então começando em São Paulo era Silvio Santos.
sábado, 27 de junho de 2009
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Senor Abravanel ?!
ResponderExcluirEste mundo é pequeno mesmo, hein ...
Caro Ralph, É bom perceber que estás te recuperando, e com vontade e talento para continuar escrevendo.
ResponderExcluirEspero poder te ver de volta ao Estações Ferroviárias em breve.
Abraços!
Mario Favareto
São Paulo - SP
Encontrei seu blog ao ganhar um jornal de novembro de 1933 chamado A Gazeta, nele tem uma pequena nota citando o desaparecimento de Hugo Gisbrecht, fiquei curiosa e fui pesquisar o que havia ocorrido, fiquei muito feliz por saber a história que tanto me deixou intrigada, parabéns por escreve-la.
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