quarta-feira, 10 de junho de 2009

DINHEIRO E VIOLÊNCIA – PRÓLOGO

Ainda aqui da cama do hospital, na véspera de Corpus Christi de 2009. Não há muitas opções para se fazer, quando não há um batalhão de enfermeiros e companhia (não tão) limitada. Eu nunca fui fa de televisão, mas acabo vendo filmes. Afasto-me assim dos noticiários, que são desgraças verdadeiras.

Quase todos os filmes têm alto conteúdo de violência, não importa qual a sua nacionalidade. Começo a me lembrar dos comentários que aparecem nas discussões já há muitíssimos anos: a violência gera a violência; a violência é recorrente. E a maioria chega à conclusão de que isto é bobagem, todos nos temos condições de separar a violência em níveis absurdos dos filmes que vemos da violência das ruas.

Como todos que lêem estes textos já devem ter percebido, eu discordo. Vou tentar explicar por quê, em diversos textos. Deverá haver paciência por parte de meus fieis leitores. Vou começar pelos livros da delegacia do antigo município de Parnaíba, hoje Santana de Parnaíba. Esta cidade, de população razoavelmente pequena nos dias de hoje, fica a cerca de 40 km por estrada asfaltada (Rodovia Castelo Branco e depois Estrada dos Romeiros até o seu centro) da Praça da Sé. Desde o início dos anos 1700 até os anos 1970, não passou de um pequeno povoado, tendo sido até 1970 uma espécie de cópia do que era a cidade de São Paulo até meados do século XIX.

Por isso mesmo, foi, dentro da área que a partir dos anos 1960 passou a ser conhecida por Área Metropolitana de São Paulo (ou Grande São Paulo), uma exceção quando comparada aos outros municípios dessa região. Município com área relativamente grande, tinha o seu centro, hoje chamado de Centro Histórico (Igreja Matriz, Largo da Matriz, rua de Cima, rua do Meio e a rua de Baixo). Todos os outros bairros ficavam afastados do centro histórico e conectados por estradas não afastadas que cruzavam antigas córregos, quase sempre afluentes diretos do Tietê ou do Juqueri-Guaçu.

Como um dos poucos municípios da não assim chamada Grande São Paulo, sua grande área foi sendo recortada. Em 1832 e em 1877 perdeu os atuais municípios de São Roque. Entrou no século XX com cerca de 5 mil habitantes. Em 1934, perdeu uma área que hoje faz parte de metade dos atuais municípios de Franco da Rocha e de Caieiras. Em 1948, perdeu Barueri e Carapicuíba. Em 1959, Pirapora do Bom Jesus e Cajamar.

Os motivos para todos estes desmembramentos mais do que a política em si foram os parcos investimentos em estradas que comunicassem esses então bairros. A cidade, já pobre, ficou mais pobre ainda sem as fontes de renda que deles emanavam: a Companhia Melhoramentos, a E. F. Sorocabana em São Roque, Carapicuíba e Barueri, as festas da Igreja em Pirapora e as caieiras de Água Preta, atual Cajamar.

Para conhecer a historia do município nos últimos 209 anos, houve de se ler com atenção os livros de atas da Câmara Municipal, da Delegacia e da Cúria e seus congêneres e conexos. Tarefa árdua, pois nada praticamente acontecia nessa cidade. Mas foi o que fiz.

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