terça-feira, 3 de janeiro de 2023

TRANSNORDESTINA, UM RALO DE DINHEIRO (2023)

ACIMA: Mapa das linhas da Transnordestinas em 2012 (Revista Ferroviária)

A Transnordestina, antiga CFN – Companhia Ferroviária do Nordeste (quando foi privatizada, recebeu este nome) eram várias ferrovias na década de 1990 com muito pouca atividade e que eram patrimônio da antiga RFFSA (Rede Ferroviária Federal) que deveriam, de uma forma ou de outra, beneficiar o tráfego de cargas ligando as atividades já existentes ou não, de várias regiões do Nordeste brasileiro.

O leilão de privatização ocorreu no final dos anos 1990 e quem ganhou a concessão foi o empresário Benjamin Steinbruch, que rapidamente trocou o nome da rede para CFN, agregando uma região do Piauí, com fontes de produção de soja, milho e algodão e de gesso do município de Araripina, este em Pernambuco. Para isto, utilizar-se-ia de dois portos: Pecém, no Ceará e próximo a Fortaleza e Suape, em Pernambuco e próximo a Recife.

Piauí (Parnaíba) ficou de fora, bem como o Maranhão (com o porto de Parnaíba) e São Luís, que já era atendido pela ferrovia dos Carajás)
Vinte e seis anos depois, foram eliminados vários trechos ferroviários já existentes.

O Rio Grande do Norte teve sua rede ferroviária abandonada, apenas sobrevivendo, para trens metropolitanos da região de Natal, que haviam sido formados ainda nos tempos da RFFSA. O mesmo aconteceu com a linha em Alagoas, onde ainda há trens metropolitanos ligando Maceió a Lourenço de Albuquerque.

Na Paraíba, os trens cargueiros que circulavam entre Campina Grande e Fortaleza, passando por Missão Velha, no Ceará e vindos do agreste pernambucano, circularam até uns dez anos atrás e foram cortados também.

Não nos esqueçamos das antigas linhas que ligavam Recife a Alagoas e Recife a Salgueiro, onde aguardou anos esperando a continuação para o sul do Ceará. Pelo menos, boa parte (mas não tudo) das linhas mais próximas a Recife foram mantidas como trens metropolitanos (Cabo, Jaboatão), embora tenham passado por diversas modificações de traçado.

A linha do interior do Piauí (ligando o porto de Parnaíba a Teresina) foi totalmente abandonada. Porém, o trem metropolitano de Teresina ocupou um pequeno trecho de linha na cidade.

Tudo isso, sem entrar em maiores detalhes, levou ao abandono a maior parte das ferrovias do interior do Nordeste.

Toda a atividade das linhas cargueiras hoje existentes no Nordeste ainda o são nas ferrovias do tempo da RFFSA. Desde a privatização pouquíssimos trechos ferroviários foram construídos pela Transnordestina, nome que passou a designar a CFN após alguns tempos.

A verdade é que as notícias sobre ferrovia ou suas obras são pouco difundidos no Sul do país, principalmente pela imprensa.

A Transnordestina decidiu na última semana do ano de 2022 devolver ao poder concedente – o Governo Federal – o trecho pernambucano que levaria a ferrovia até Suape. Ou seja, o que seria a remodelação da antiga linha do Centro pernambucana, que ligava Recife a Salgueiro e que extinguiu seus trens de passageiros e cargueiros ainda na década de 1980, permanecendo abandonada desde então.

É claro que ninguém fala em trem de passageiros ali, hoje em dia. Por outro lado, o prolongamento dali até Eliseu Martins, no Piauí, onde jamais houve ferrovia, mas que hoje tem carga potencial, muda a figura, pois Salgueiro passa a ser ponto de bifurcação: com duas linhas saindo da estação, uma para o Piauí e outra para o porto cearense. Por uma linha, recebe material; por outra, envia para outro porto. Uma linha para Suape ficaria, pelo menos agora, sem tráfego.

Foi o jornal Valor Econômico que noticiou a mudança de planos, adiantando que a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional, do empresário Benjamin Steinbruck, controladora da Transnordestina) optou por executar, apenas, o trecho que ligará o Piauí até o porto cearense de Pecém, mas no prazo de sete anos. Repita-se: sete anos. Muito tempo para quem deveria ter entregue a ligação já há muito tempo. A obra já faz anos que foi iniciada, segundo o mesmo jornal.

Nos últimos anos, li algumas notícias que, como sói acontecer hoje em dia, davam conta de que já havia obras nos dois trajetos que partem de Salgueiro e também um terceiro, que era o que foi agora cancelado: os trilhos para Suape.

Para tirar Suape do caminho dos seus trilhos, a Transnordestina Logística celebrou com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) um aditivo contratual. 

Consequência do aditivo, a Ferrovia Transnordestina reduzirá sua extensão, que era de 1.700 Km, para 1.200 km. Ou seja, ela sairá de Eliseu Martins, no Piauí, e chegará a Pecém, passando por Salgueiro (PE), extinguindo o terceiro trecho de 500 Km entre Salgueiro e Suape. 

De acordo com o Valor, a direção da Transnordestina Logística concluiu que seria inviável, do ponto de vista econômico e financeiro, a construção e a operação do ramal pernambucano da ferrovia. Isto a levou a acertar com a ANTT o aditivo que permitirá o destravamento das obras, iniciadas há muitos anos. 

Trata-se de um projeto que, desde o seu início, enfrentou problemas. Por exemplo: desde 2017, está proibido o repasse de recursos públicos para o projeto da Transnordestina, de acordo com decisão tomada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Essa proibição, todavia, está sendo suspensa como consequência do aditivo.

Mas já estão concluídos 55% da obra. 

De acordo, ainda, com o Valor, a Transnordestina finalizará este 2022 com a construção e a conclusão de 815 km, dos quais 215 km somente neste ano corrente. 

Bem, esta coluna pode informar que a decisão da CSN teve péssima repercussão em Pernambuco, mas está consolidando a intenção do Grupo CSN, liderado por Benjamin Steinbruck,de privilegiar o trecho de Eliseu Martins a Pecém, o que é muito bom para a economia do Ceará.

No porto cearense, a CSN tem planos de implantar não apenas um grande, moderno e sofisticado Centro de Recebimento e Distribuição de cargas sólidas e líquidas, para o que tem projeto de construção, inclusive, de um Terminal de Múltiplo Uso (TMUT) no porto do Pecém, em parceria com a CIPP S/A, a empresa que administra o seu Complexo Industrial e Portuário, da qual é sócia, com 30% do seu capital, a Autoridade do Porto de Roterdã.

Será em Pecém que a Transnordestina pretende centralizar suas operações de logística. O prazo de sete anos para a conclusão da obra de construção da ferrovia está adequado aos de início de operação dos primeiros projetos de geração de energia eólica offshore (dentro do mar cearense) que fornecerão energia limpa às grandes indústrias de produção de Hidrogênio Verde que se instalarão no futuro Hub do H2V de Pecém.

A cearense Construtora Marquise está executando as obras de implantação da Ferrovia Transnordestina no Ceará. Os trabalhos avançam obedientes ao cronograma estabelecido pela empresa contratante, que, por sua vez, se subordina ao calendário e aos valores das liberações dos recursos financeiros, o que é feito pela empresa controladora – a CSN. 

A Transnordestina tem tudo a ver com a ZPE do Ceará, com a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) e com os futuros projetos de produção do H2V, pois seus trens deverão transportar para destinos nacionais o Hidrogênio Verde que será produzido no Ceará.

Resumindo: com a Transnordestina, o futuro da economia cearense é ainda mais promissor. Perde Pernambuco. E perdem as fontes de materiais que acreditaram na linha para Suape. E quem responderá pelos prejuízos nas obras que já estavam sendo feitas na linha da qual agora não funcionará mais?

Fonte: Correio do Nordeste, 2 de janeiro de 2023. (Nota: o histórico sobre as linhas, primeira parte desta postagem, foi escrito por este blogueiro. A parte da notícia em si, foi transcrita com pouquíssimas mudanças, por este blogueiro.)

 


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