sábado, 7 de janeiro de 2023

AS COISAS MUDARAM (1884)


Lendo velhas notícias de jornais na Internet (como faço quase todos os dias), encontrei mais uma bem interessante no já distante ano de 1884 (até meu bisavô alemão já havia imigrado para o Brasil, com 18 anos), deparei-me com esta, mostrada acima, no jornal "O Pharol" da cidade de Juiz de Fora, MG.
Seria ela verdadeira? Afinal, citavam-na como extraída de um jornal francês, sem citar data alguma, nem o nome do tal jornal que a publicou.

Possivelmente, transcreveram-na para mostrar o duplo sentido da frase que o tal alfaiate anunciou. 

Era ali que era mais barato fazer roupas, posto que os preços da concorrência seriam sempre mais caros e porisso estes eram ladrões, ou o fato de que o anunciante dizer-se mais barato torná-lo-ia o mais barato dos ladrões?

Enquanto isto, fiquei analisando o texto em português antigo. Estou longe de ser um conhecedor da velha língua que vigorava em 1884, mas conheço algumas das palavras que se escreviam de outra forma então.

"Pharol", no lugar de "farol", mostra o "ph", sempre com som de "f" em diversas palavras, como "pharmacia" ou mesmo em meu nome (Ralph). Contudo, ainda existiam diversas palavras com os famosos "phs", o "f" era largamente usado. Nas reformas ortográficas de 1911 e de 1942, o "ph" sumiu. Curiosamente, nasci em 1951 e meu nome foi registrado como Ralph. A desculpa de meus pais? Ralph escreia-se assim, pois em inglês se escrevia assim. Também. Mas, em alemão, geralmente é Ralf. Ficou assim mesmo.

E o "venhão"? Vários textos que li dos anos 1870, 80 ou 90 escreviam o tempo plural do verbo referindo-se à terceira pessoa dessa forma. Ou seja, em vez de "venhão", "venham". Porém, outros o grafavam como é hoje. Permitia-se as duas formas, então? Não sei. É estranho, não? Afinal, o som dessas palavras parecem-se com o "ão", mas temos que escrevê-las com o "am".

Finalmente, o "á", que também aparece no texto do jornal de Juiz de Fora, era nessa época o famoso "a" craseado. Escrevia-se com acento agudo, mesmo. Hoje, temos de escrever "á", com agento grave. O antigo deixou de existir em 1942.

E para acabar de vez, no anúncio não apareciam em nenhum lugar palavras com duplas consoantes, como "ll", "mm" ou outras que tinham de ser escritas desse jeito (que, aliás, se escrevia "geito"). Elas eram bastante comuns. Cavallo, estrela, Anna... havia muitas.

Mesmo assim, fizeram reformas demais, em minha opinião, desnecessárias num país em que muitas pessoas ainda são analfabetas.

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