domingo, 15 de janeiro de 2023

GUERRAS E PREVISÕES (1914-2023)

A Guerra de 1914 começava e estava na segunda página do jornal O Estado de S. Paulo de 29 de julho. Durante os próximos quatro anos, passaria para a primeira página, pois a situação era pior do que se pensava

Meu avô Sud Mennucci, do qual falei tantas vezes neste blog, já em 1914 escrevia para alguns jornais do interior paulista e dava seus "pitacos". Em novembro de 1914 (data escrita a lápis por ele mesmo no recorte do artigo de jornal já publicado, sem citar o dia, sem citar o nome do jornal que o publicou, sem assinar o nome dele próprio, já que neste artigo ele usou um de seus pseudônimos: Saul Maia. O artigo possivelmente foi publicado no Jornal de Piracicaba, onde ele tinha nascido e estudado, para o qual já havia anos o fazia.

Nesse mês, ele era professor primário no Grupo Escolar da cidade de Porto Ferreira e tinha 24 anos de idade. Ele se casaria lá mesmo em 1917. O Grupo levou o nome dele trinta anos depois. Ele já era jornalista, profissão que abraçou em definitivo depois de mudar-se para São Paulo em 1925.

O que me chamou a atenção foi a forma dramática como o artigo foi escrito..Seria isto somente porque a guerra (a Guerra Mundial de 1914-18, ainda em seu início então) deixava-o receoso? Lembremo-nos que, nessa época, escrevíamos de forma realmente mais... digamos, dramática. Ou, pelo menos, é o que os filmes que retratam essa época fazem.

Hoje em dia, já no século XXI, mesmo com uma guerra perigosa e de certa forma impensável cento e dez anos depois (a invasão da Ucrânia pela Rússia), os incontáveis artigos que a mídia escreve em jornais, acrescidos de uma chuva de veículos, como a televisão, telefones celulares, facebook, instagram, whatsup, podcasts, i-tube, blogs, videoconferences, notícias ao vivo e muitos mais chegam cheios e saem de opiniões, palpites... 

Queremos ver realmente previsões? Ou queremos ver fatos?

Vamos conferir o que Sud escreveu no primeiro trecho do primeiro artigo, intitulado: "À margem da Guerra - Um problema insolúvel - I - O ensaio que, hoje, inicio não passa de considerações vadias de um espírito vagabundo à cata de distrações para encher as vinte e quatro horas maçantes que formam os insuportáveis dias do jornalismo moderno, tão cheio de tolices e profecias"...

Este primeiro parágrafo retrata algo, entretanto, que parece ter sobrevivido aos anos que se passaram desde então, ou seja, há uma tendência a dar (e receber) opiniões e palpites sobre o rumo que os fatos vão tomando, ou seja, "tão cheio de tolices e profecias"... repetindo a frase de 1914. Já no primeiro parágrafo, Sud criticava a si mesmo.

Naquela época, como hoje, devemos pautar nossos planos para o futuro baseados nas provisões de uma mídia presunçosa e tendenciosa que passsa a regular nossa vida?

Quanto ao artigo em si, não vou transcrevê-lo. Afinal, cento e nove anos depois, já sabemos como essa guerra acabou e quais foram suas consequências.

 

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