domingo, 31 de maio de 2015

FERROVIAS E O PANAMERICANISMO

Arquivos Sud Mennucci - ano aproximado 1940
.

Antes de mais nada, deixe-me dizer o que acho do panamericanismo: uma farsa.

Ultimamente ouve-se falar da ligação do Brasil com o Oceano Pacífico.

Fala-se dela desde que a ferrovia existe no Brasil, mas somente nos anos 1930 ela ganhou forma. O populismo de Getúlio Vargas queria fazê-la da ainda não existente ferrovia Brasil-Bolívia (então sendo construída desde Corumbá em demanda de Santa Cruz de La Sierra) entrando pelo Chile a partir de La Paz.

Para isto, era apenas necessário que se unisse Porto Esperança a Corumbá e, depois, que a Brasil-Bolívia (conhecida mais tarde como "Ferrovia da Morte") chegasse a Santa Cruz e, que desta cidade, fosse unida a Cochabamba. Daí para a frente, via Oruro e La Paz, já existia uma ferrovia, que chegava ao porto de Arica, no norte do Chile.

Porto Esperança somente foi ligada a Corumbá em 1953. A Brasil-Bolívia somente ficou pronta mais ou menos nessa época. A ligação entre Santa Cruz e Cochabamba, que eu saiba, jamais saiu (não fui pesquisar isto - falar em ferrovias fora do Brasil no meu caso é temerário).

E ficou por isso mesmo, não sem antes colocar a culpa nos Estados Unidos, que teriam sabotado essa ligação (não teriam interesse que isso ocorresse, para que a América do Sul não aumentasse o seu comércio com o Extremo Oriente - mais uma teoria da conspiração. Eram os deuses astronautas?).

Meu avô Sud Mennucci defendia essa ligação, mas, pouco antes de morrer, desiludido, já não acreditava em coisa nenhuma que viesse do governo tupiniquim. Ele morreu no interregno Dutra (1946-1951) do longo governo Vargas (1930-1954). Seus artigos, publicados no extinto jornal A Cidade, mostravam uma desilução enorme com tudo o que sempre defendeu por boa parte da vida. E ele morreu mais moço do que sou hoje (tinha 56 anos apenas).

Já existiam, na época em que o mapa acima foi desenhado (o mapa me chegou, dos arquivos de meu avô, sem data - pelas ferrovias que contém, estimo que seja do início dos anos 1940, quando Londrina estava sendo ligada a Apucarana, no PR), outras ligações entre países do Cone Sul por ferrovia: São Paulo/Rio para Montevideo e São Paulo/Rio para Buenos Aires, via Uruguaiana (e conseguia-se chegar a Santiago também, a partir de Buenos Aires).

Mas era uma ligação sempre difícil, tanto para cargas quanto para passageiros. Mudanças de bitola (dentro do Brasil e nas fronteiras com a Argentina e Uruguai), curvas em demasia, estradas de ferro algumas já obsoletas, distâncias muito maiores do que deveriam ser.

Costumava-se, por exemplo, apesar de existirem ligações ferroviárias, ir de Rio de Janeiro ou de Santos a Porto Alegre e a Buenos Aires de navio - era mais fácil. Falo aqui também de cargas e de passageiros.
Folha de S. Paulo.
Agora, semanas atrás, a presidente resolveu anunciar a construção de outra ligação para o Pacifico. Ela ligaria o Porto do Açu, próximo a Campos, norte do Estado do Rio de Janeiro, ao litoral sul do Peru, passando somente por estes dois países, via Rondonia e Acre. Este porto é aquele que começou nas mãos do Eike Batista e que parece que vai sair ou já saiu, nunca sei - as notícias não são muito claras e eu não pesquiso essa área.

Enfim, a procura de uma saída mais fácil para a China por mar, sem utilizar o Canal do Panamá ou o futuro Canal da Nicarágua.

O problema é saber - isto sai? Primeiro, depende de dois países: Brasil, hoje falido, e Peru. Depende também de financiamento, pois dinheiro é coisa rara no Brasil hoje em dia. Os chineses parece que financiam. Se não forem eles, ninguém neste instante vai fazê-lo. E depende de competência dos governos brasileiros e peruanos. No Peru não sei, mas, no Brasil, competência é coisa mais difícil que dinheiro.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil tentou fazer a sua ligação ferroviária interna, do norte ao Sul. Mas isto é assunto para amanhã.

Um comentário:

  1. Do jeito que as coisas são neste país, essa ferrovia não sai, ou talvez no próximo século!

    ResponderExcluir