.
Em teoria, quando o governo fez a privatização das ferrovias de 1996 a 1998, deveria esperar que elas fossem melhor administradas, de forma a terem lucro e ajudassem a melhorar a infraestrutura no país.
O que aconteceu? Cada uma das concessionárias passou a atender seus próprios interesses, de forma a transportar o que quisessem, com o mínimo investimento possível, desde que tivessem um lucro satisfatório. Com isso, a FEPASA e a RFFSA, que transportavam (além de passageiros, estes não contemplados pela privatização) mercadorias de diversos tipos, transferiram suas cargas para os novos dirigentes, que passaram a pouco se importar com o país, mas sim exclusivamente com os bolsos dos acionistas.
Sucatearam diversas linhas, muito material rodante, passaram a transportar somente minérios e grãos (com raríssimas exceções) e dando um prejuízo enorme ao país. O Brasil tinha 38 mil quilômetros de ferrovias em 1960, 28 mil em 1996 hoje mal chega a 12 mil quilômetros operacionais. Aliás, este número varia com a forma que se fazem os cálculos. Há muitas linhas por aí que hoje são mato com trilhos escondidos, sinal de que não passam trens. Já dei muitos exemplos aqui.
A ALL é considerada por muitos como a pior das operadoras. Agora, cheia de processos nas costas, dá a impressão de gastar mais com advogados do que com pessoal de operação. E acabou sendo vendida para a Rumo, braço operacional da empresa COSAN. O que mudará? Há gente otimista. Eu sou cético. O atual governo federal é fraquíssimo e está destruindo (apodrecendo) o Brasil. Por que se interessaria em controlar mais a Rumo do que a ALL, MRS, FCA e outras?
E é por isso que resolvi transcrever um artigo de alguns dias atrás (13 de abril), do jornal O Estado de S. Paulo. Leiam e tirem suas conclusões. É de matar. Segue:
"Velocidade dos trens da ALL despenca e já se aproxima à da pré-privatização
As quatro ferrovias administradas
pela América Latina Logística (ALL), maior concessionária da América do Sul,
voltaram no tempo. Em cinco anos, a velocidade dos trens que circulam pela
malha da empresa despencou, em média, 50% e atingiu níveis próximos aos do
período pré-privatização. Além de contribuir para a queda dos níveis de
produtividade, a redução é um obstáculo à competitividade e à expansão do setor
ferroviário.
A piora dos números da ALL, que no
ano passado anunciou sua fusão com a Rumo Logística, do Grupo Cosan, começou a
se desenhar em 2009. Naquela época, sob a filosofia de administração da gestora
GP Investimentos, a empresa vendia a imagem de modelo de eficiência e
modernidade. A velocidade média das ferrovias variava de 23,40 quilômetros por
hora (km/h) a 31,07 km/h.
Mas, depois de uma série de
fiscalizações feitas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a
velocidade média passou a cair gradualmente ano após ano. Em 2013, último dado
constante no Anuário 2014 da agência reguladora, a velocidade passou a variar
entre 13,36 km/h e 14,85 km/h. A queda foi uma determinação da agência
reguladora para preservar a segurança do tráfego ferroviário e reduzir riscos
para a sociedade.
A partir de 2010, o número de
acidentes nas quatro malhas da ALL aumentou e atingiu o pico em 2011. Em 2009,
foram 167 ocorrências; em 2011, 401; e, em 2013, 389. Em termos relativos, no
entanto, considerando a movimentação de trens, o índice de acidentes melhorou
ou ficou estável em alguns trechos, segundo os dados da ANTT.
Qualidade da via. Pelo manual da
agência reguladora, a velocidade de uma ferrovia precisa ser reduzida se a
fiscalização detecta que a qualidade da via permanente (trilhos, dormentes,
pontes e túneis) está inadequada. Nos bastidores, especialistas afirmam que a
situação da malha da ALL se deteriorou nos últimos anos por falta de manutenção
adequada. A gestão anterior não fez os investimentos necessários na via, apenas
trocou os dormentes (madeiras que sustentam os trilhos) que estavam podres por
novos, afirmou uma fonte, em Brasília.
Segundo relatório da ANTT, entre
2009 e 2013, a empresa investiu R$ 3 bilhões nas quatro malhas administradas -
sendo parte desses recursos na expansão da Malha Norte, em Mato Grosso. Apesar
disso, o volume é considerado baixo comparado ao que a empresa havia prometido,
afirma o professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende. Segundo ele, a
expansão da ferrovia para o Centro-Oeste, maior produtor de grãos do País,
demorou muito para ocorrer, o que suscitou inúmeras críticas. "Além disso,
o traçado da malha da ALL tem problemas, é antiga e exigiria uma grande
modernização das estruturas. E isso é uma responsabilidade do
concessionário."
O professor lembra que os comboios
puxados pelas locomotivas têm cada vez mais vagões para aumentar a
produtividade das empresas. A prática, por si só, já exigiria uma redução da
velocidade por questões de segurança. Junta-se a isso o fato de as vias não
serem preparadas para aguentar tamanho sobrepeso e também a falta de investimento
por parte do governo, que deveria eliminar gargalos importantes, como a
travessia de centros urbanos. O resultado é o que se vê nos relatórios da ANTT.
"A dimensão da queda na
velocidade das ferrovias da ALL é espantosa, chama muita atenção. Não é cair de
30 km/h para 25 km/h. É de 30 km/h para 13 km/h", afirma o presidente da
consultoria Inter.B, Cláudio Frischtak, especialista em infraestrutura. Na
opinião dele, os números são indícios de "sub investimento" na malha
ferroviária. "Mesmo com a queda na velocidade, o número de acidentes (em
termos nominais) continuou em patamares elevados."
Em nota, a ALL afirma que a
premissa básica de sua operação é a segurança ferroviária. "A expansão dos
centros urbanos em torno das linhas, a dificuldade de obtenção das licenças
para os investimentos nos acessos ao porto, o aumento do volume transportado e
a maior circulação de trens exigem que a velocidade média seja reduzida para
manter o tráfego dentro das condições de segurança exigidas."
Com a fusão entre a Rumo (empresa
de logística da Cosan) e a ALL, há novamente a promessa de recuperação da
malha. Para isso, pretende pôr em prática um plano de investimentos de cerca de
R$ 8 bilhões até 2020 para duplicar alguns trechos ferroviários, eliminar
gargalos e comprar novas locomotivas e vagões."
Um pouco menos de mato nas linhas faria bem.
ResponderExcluir