Vejam o tamanho da cidade e a linha passando por ela (em cinza). Atrapalha mesmo? Causa quantas mortes? Há números que provem isso?
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Já desisti de numerar os capítulos dos artigos sobre "Os Trilhos do Mal". Este deve ser o XX ou o XXI (ainda sabemos a numeração dos romanos?). Agora é Santos Dumont, antiga Palmyra (de lá vem o famoso "queijo-bola" marca Palmyra), em Minas Gerais. Tem trilhos da Central do Brasil desde quando ela se chamava E. F. Dom Pedro II, no século XIX.
O nome atual existe porque em algum momento nos meados do século XX alguém se lembrou que o famoso inventor brasileiro Alberto Santos Dumont - que inventou o avião (quer dizer, foi um dos inventores do avião) e, dizem, dos relógios de pulso. Alberto morreu em 1932, no Guarujá, durante a Revolução Constitucionalista de São Paulo. Ele teria se suicidado em sua casa nesse que então era um bairro de Santos, por causa da depressão ao saber que várias de suas máquinas voadoras bombardeando São Paulo - embora isso já ocorresse desde a Primeira Guerra Mundial, quase vinte anos antes.
Dumont tinha conhecimentos técnicos para conseguir levantar um avião do solo e mantê-lo no ar por alguns segundos, pois ele era um adorador dos trens da pequenina Estrada de Ferro de Dumont, aberta em 1891 quando sua família ainda era dona da fazenda, ali próxima a Ribeirão Preto.
Tiraram os trilhos da E. F. de Dumont em 1940, com a falência da fazenda, então na mão de ingleses. E agora querem tirá-los da cidade que passou a levar seu nome poucos anos depois de sua morte. Sempre a mesma coisa: já há até recursos, ajudados a liberar pelo deputado federal (desculpem o uso de tal palavra) Luiz Fernando Faria, do PP - aquele partido que teve cerca de dez deputados acusados por atuações ilícitas no Petrolão.
Luiz Fernando e seu... irmão? (têm os mesmos sobrenomes e ambos são do mesmo partido), o prefeito Carlos Alberto Faria, destacaram os
benefícios do projeto. “Diminuiremos os números de acidentes e mortes e,
ainda, resolveremos as questões de mobilidade urbana.” (esta afirmação foi publicada pelo jornal A Tribuna de Minas). Olhem as bobagens. A cidade tem 48 mil habitantes. Tem trânsito para ser atrapalhado? Houve tantas mortes e acidentes assim? Ou está com dinheiro sobrando e não tem o que fazer com ele? Os habitantes da cidade dizem que o hospital está um lixo, mas a grana, estimada em 60 milhões, deverá ir mesmo para tirar a linha e passar por fora da cidade.
A MRS Logística concorda? Ah, sim, mas porque diz que "tem trabalhado em conjunto com o
poder público para tentar viabilizar projetos como esse. No entanto, a construção de contornos ferroviários depende de altos
investimentos e são projetos de longo prazo e de enorme complexidade". Em outras palavras, de graça, até injeção na veia. Para ela, tanto faz.
As cidades estão falindo e os Estados também. Todos os dias nos jornais aparece algum deles declarando pobreza. Em São Paulo City, o prefeito faz ciclovias mal feitas e inúteis, dando prioridade a elas e não ao transporte público. Ao mesmo tempo, obras que estavam sendo feitas estão parando por falta de dinheiro (Folha de S. Paulo, 17/4/2015). Fernando Haddad está concorrendo com grandes chances de se tornar o pior prefeito que a cidade já teve (e ela teve Marta, Pitta e Erundina!!!).
O governo federal mandou cortar custos nas obras das ferrovias, muitas delas prometidas para a década passada e ainda longe de estarem prontas. Mas dinheiro para arrancar trilhos, ah, isso tem. A quem isso interessa?
Por fim, verão os senhores: eu falo sempre a mesma coisa. E falo mesmo - porque as coisas neste país não mudam. Quando mudam, é para pior.
sexta-feira, 17 de abril de 2015
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