Bilheteria da estação em 1990 (www.achadosarqueologicos.blogspot.com.br)
Uma das mais importantes estações ferroviárias de São Paulo, pelo seu tamanho, pela importância que teve para a E. F. Dom Pedro II e sua sucessora Central do Brasil especialmente na época entre 1877 e 1902, quando era ponto de baldeação entre a Central do Brasil e a E. F. do Norte - ferrovia paulista com bitola métrica e não larga, obrigando a baldeação em Cachoeira.
Também por muitos anos foi ponto de baldeação de cargas não só de uma linha para outra, mas do transporte fluvial sobre o rio Paraíba do Sul. Esse é o real motivo do tamanho do prédio da estação, feito para abrigar uma enorme quantidade de cargas e construído em 1877 e jamais substituído por outro - como o foram diversas estações pelo país afota, tanto da Central quanto de outras ferrovias.
A estação vista do outro lado do rio Paraíba, em 1990 (www.achadosarqueologicos.blogspot.com.br)
Algumas pessoas me perguntam como uma cidade tão pequena como Cachoeira, que foi Porto Valparaíba antes, virou Cachoeira, depois voltou a ter o nome de Valparaíba porque seu nome se confundia com o da cidade baiana de mesmo nome e situada no Recôncavo, e finalmente voltou a se chamar Cachoeira Paulista, com a adição do termo "Paulista".
Como se abandonou semelhante prédio, importantíssimo para a memória municipal, estadual e nacional? Por que se chegou a esse ponto?
Pia interna da estação em 1990 (www.achadosarqueologicos.blogspot.com.br)
Bem, aqui, precisamos verificar vários fatores. Primeiro, as ferrovias em geral abandonaram suas estações - muitas foram até demolidas - após o final dos trens de passageiros. Algumas, antes mesmo, por que não justificavam permanecer abertas por causa de não haver passageiros suficientes para manter sua abertura. Afinal, danassem-se os passageiros. As cargas foram sempre a justificativa para a existência das estradas de ferro no mundo inteiro. No entanto, a quantidade de mercadorias transportadas, em boa parte das ferrovias, funcionava como um subsídio interno para se custear os trens de passageiros, que, em ferrovias que passavam por zonas muito populosas e ricas, até nem precisavam desse subsídio.
Divisão interna na estação em 1990 (www.achadosarqueologicos.blogspot.com.br)
Vieram os tempos bicudos, a partir da crise do café e agravados pelo uso em excesso dos trens para transporte de mercadorias durante a segunda Guerra Mundial, que danificaram nossas ferrovias por falta de peças e de dinheiro para manutenção nessa época. Depois, com o mundo em paz, o transporte automotivo tornou-se de minoritário para altamente majoritário em cerca de 15 anos, e as ferrovias coomeçaram a apresentar prejuízos e até a aumentar seus deficits. Em 1950, praticamente todas as ferrovias existentes no Brasil já eram estaduais ou federais. Só a Paulista resistiu bravamente, mas acabou sendo estatizada à força em 1961 pelo Estado, numa história de interesses e que resultou em um péssimo negócio para todos.
Quem pagou primeiro o pato? Os trens de passageiros, que foram piorando seus serviços e minguando em passageiros. A culpa era sempre atirada no passageiro, "que deixou de usar a ferrovia". Deixou de usar por causa dos maus serviços, falta de horários, péssimos trens, estações deterioradas em locais deteriorados, trens imundos etc..
A famosa "sala oara senhoras" (www.achadosarqueologicos.blogspot.com.br)
Bom, Cachoeira, nos anos 1970, já dava sinais de deterioração. A partir de mais ou menos 1980, os trens Rio-São Paulo e outros menores, que faziam percursos menores pela linha, trens mistos geralmente, deixaram de usar a estação como parada. As cargas já eram muito, mas muito menores do que nos "bons tempos". Várias estações da linha deixaram de ser paradas para os trens. Nem a litorina, que ainda existiu até janeiro de 1991, parava mais em Cachoeira, que seguia se deteriorando mais e mais.
O tamanho da estação era certamente um problema. Grande demais, certamente com manutenção cara, muitas peças de madeira, etc... foi fechada. E abandonada. Por algum tempo, suas portas contiveram as invasões de mendigos, ladrões, drogados e outros. Anos depois, nem isso. Hoje, a estação é um esqueleto de paredes de tijolos e pedras que remonta a 140 anos atrás, tão bem construído que ainda não caiu.
O gabinete do chefe (www.achadosarqueologicos.blogspot.com.br)
O telhado, no entanto, caiu, o piso superior, também. As madeiras, apodrecidas, foram roubadas. Inclusive as divisões internas, da bilheteria, do chefe, da sala para senhoras... Tudo se foi. Agora, será uma fortuna para recuperá-la. E para construir portas e janelas e essas peças internas também será uma mão-de-obra caríssima. Mas vale a pena. O problema é: quem pagará?
Há uma briga entre IPHAN, DNIT, Inventariança da RFFSA e prefeituras para saberem de quem é a estação (documentos de posse foram perdidos), um empurra a obrigação de manutenção para o outro. Isso em Cachoeira e também em muitas outras por aí afora.
Para piorar, o Estado de São Paulo sempre foi o "patinho feio" da União. Tanto na época em que representava mais de 70% da arrecadação brasileira (o famoso trem com uma locomotiva, São Paulo, e dezenove vagões vazios, os estados de então), quanto hoje, que tem pouco menos de 38% - ainda um valor expressivo. São Paulo tem a melhor infraestrutura do Brasil - por que ele mesmo investe. Exemplo? Quantas rodovias federais, fora a BR-116, BR-153 e a BR-481 você conece em São Paulo? São elas as melhores do Estado? Não, essas são as piorzinhas...
Bandeira de madeira das portas externas da estação (www.achadosarqueologicos.blogspot.com.br)
No caso do IPHAN, eu, que acompanho na medida do possível as estações ferroviárias brasileiras no meu site de 5 mil páginas, vejo que o IPHAN tem reformado diversas estações pelo Brasil afora. Já em São Paulo... nenhuma. As reformas são sempre feitas pelas Prefeituras ou, em alguns casos, pela iniciativa privada. Por que, então, a União investiria em São Paulo, em Cachoeira, em Taubaté, por exemplo, onde ambas estão pela hora da morte? Guaratinguetá foi bancada pela Prefeitura de lá.
Vamos torcer para que o movimento que surge agora na cidade consiga fazer o milagre. Teria sido muito mais barato conservar periodicamente o prédio desde os anos 1960. Parece que neste país as coisas são feitas de propósito: deixe o prédio se acabar, pois a reforma será sempre muito mais cara e a comissão dos envolvidos será maior.
domingo, 14 de abril de 2013
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Olá, RALPH, Agradeço e o parabenizo pelo seu engajamento nesta luta pela preservação e reconstrução da Estação de Cachoeira Paulista. Infelizmente, estes movimentos populares nem sempre conseguem reunir uma massa expressiva da população que se preocupa com a causa, mas desta vez temos dois pontos importantes: as pessoas envolvidas, são membros ativos e importantes da sociedade Cachoeirense. Além disto, o momento é particularmente importante, pois, se não atuarmos agora, realmente a antiga estação ruirá, pois está no seu limite estrutural. Esperamos continuar a contar com seu apoio, que tanto conhece de estações, sobreviventes e destruidas!!!
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