domingo, 22 de abril de 2012

O IPHAN CABOCLO - II



Há quase três anos, postei aqui um artigo que falava sobre o "IPHAN caboclo", ou seja, sobre pessoas que moram, como invasores ou não, em estações ferroviárias antigas e delas tomam conta. Alguns fazem-no bem, outros nem tão bem assim, ou seja, depende de quanto dinheiro têm para conservá-la. Essas pessoas em geral têm orgulho de manter o imóvel longe de depredações gratuitas. Já conversei pessoalmente com muitas delas.

Agora surge um caso em Jundiaí, mais precisamente na antiga estação de Jundiaí-Paulista, ou seja, a estação que servia de apoio para a estação de Jundiaí da São Paulo Railway, hoje estação da CPTM. A estação de Jundiaí Paulista vem sendo habitada por um senhor já há muitos anos. Pelo menos há dezesseis anos, pois em 1996 posso garantir que ele já estava ali. Não sei quando a estação fechou como tal. Talvez por volta de 1990. Este senhor seria um ex-ferroviário que havia trabalhado ali (realmente, não tenho certeza disto).

Por informações dos relatórios da desaparecida ferrovia, sei que este prédio já existia antes de 1898. Nesse ano, a Paulista resolveu reformá-lo e transformá-lo em uma estação. Os trens de passageiros não paravam nela, a não ser em alguma emergência ou impossibilidade de parar na da SPR, a setecentos metros desta da qual estamos discorrendo. 

O fato é que é um belo prédio. Já passou certamente por mais de uma reforma além daquela de 1898. O estilo é bem "anos 1930". Há uma foto no meu site que a mostra em 1928, e ela parece ligeiramente diferente então. Outro fato é que recentemente a luz do prédio foi cortada, deixando seu morador com problemas. Não sei o motivo, mas especula-se que queiram colocá-lo para fora dali.


A única pessoa ou entidade que teria interesse em escorraçá-lo seria a Prefeitura de Jundiaí, que é atualmente a dona de todo o complexo do enorme pátio ferroviário da cidade, que, aliás, começa ali, em termos de área que pertenceu um dia à Companhia Paulista e depois à FEPASA. Teria a prefeitura cometido esta barbaridade?

Se não foi, o seu morador deverá investigar e corrigir o problema. Se foi, a prefeitura deveria no mínimo apresentar um plano concreto de o que ela quer fazer com o prédio, que não sei se seria tombado pelo município ou não: pelo CONDEPHAAT e pelo IPHAN, ele não o é. E, se há algum plano (duvido, prefeituras nunca têm planos, apenas ideias oportunistas), este não poderia incluir a ajuda ao senhor que ali reside no sentido de tentar algum acordo com ele, de arranjar outro local decente para ele morar?

De qualquer forma, não sei como está o prédio por dentro, mas por fora, ele está sujo: infelizmente, não se espera que uma pessoa que more numa estação sem ter a posse do prédio vá pintá-lo, pois geralmente essas pessoas não têm posses para isto. E a pichação feita pelos vândalos ali come solta (outra vez, basta olhar na página em meu site). 

E é sabido que não ter um plano concreto significa que nada será feito "assim que o morador sair": bastará ele sair e o prédio em pouquíssimo tempo estará abandonado e depois aos poucos será depredado. Isso se os donos não quiserem demoli-lo, sabe-se lá por que motivo, já que é uma bela construção. Ao mesmo tempo, o fato de ela estar em parte embaixo de um viaduto não deverá dar margem a uma construção de edifício, com certeza. Já vi diversos casos de moradores de estações ou casas de turma serem obrigados a sair e em seguida tudo ser entregue às moscas. Para que tirar, então?

É o "IPHAN caboclo" que tem salvado inúmeras estações secundárias e fora de áreas urbanas (esta está em área urbana, mas jamais foi a estação principal da cidade) . São elas as mais difíceis de se conservar, pois, em áreas isoladas, estão sujeitas a vandalismo de toda a sorte. É por isso que muitíssimas delas, por todo o Brasil, embora em sua maioria sejam prédios bonitos, estão caindo aos pedaços.


Uma das soluções para parte delas, especificamente as que ainda estão às margens de ferrovias operacionais, é que sejam assumidas pelas concessionárias para servirem de ponto de apoio a pátios. Muitos dos pátios ainda conservam seus desvios que são utilizados para cruzamentos ou troca de maquinistas, porém não mantém ninguém fixo no local. As pessoas poderiam também usá-las como sede de turmas de conservação de trechos ferroviários.


É sabido, no entanto, que as concessionárias não querem estes custos: teriam de manter os prédios em boas condições e pagar para ter alguém fixo ali. Preferem em lugar disso deixar a via permanente em péssimo estado com manutenção eventual e checagem também eventual com autos de linha.


Faço votos para que o IPHAN caboclo se mantenha vivo pelo máximo de tempo possível. Como se vê, a "iniciativa privada" também pode ajudar, mesmo sem dinheiro para investir. Uma das provas está em Jundiaí Paulista.

2 comentários:

  1. Em Sorocaba, Ralph, a estação de Brig. Tobias continua sendo ocupada por uma família inteira, após anos de abandono do prédio. Para se ter uma idéia, eles já botaram até uma antena Sky no telhado e usam a plataforma como garagem para seu carro. A vizinhança aprova a presença da família na estação, visto que ela expulsou os drogados que ficavam lá desde o fim da FEPASA e o desinteresse da ALL em usar o prédio (ela usa o pátio, para os comboios de areia).

    Às vezes, uma atitude errada em outros países acaba sendo benéfica em nosso país, onde ninguém assume responsabilidades e a população apenas espera que Deus ilumine a cabeça da classe política para resolver nossos "n" problemas.

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  2. Ralph

    No dia 20 de abril, o Sr. Wilson me disse também que atrás da estação existia uma outra casa onde a filha dele morava e que já foi derrubada. Obrigado pelo seu post relativo a este assunto.

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