segunda-feira, 8 de novembro de 2010

100 ANOS DA E. F. SÃO PAULO-MINAS

Carro da SPM, preservado em 2006 em São Sebastião do Paraizo/Jorge Hereth

Hoje vi uma fotografia de cem anos no site "100 anos atrás", do Estado de S. Paulo. Esta mostrava a "inauguração da E. F. S. Paulo e Minas" na estação de Guardinha. A foto não tem uma reprodução boa - provavelmente a sua impressão no jornal também não era boa. Na verdade, fotografias não eram comuns ainda em jornais.

Segundo os dados históricos da própria São Paulo e Minas - ferrovia extinta já há 39 anos - a estação de Guardinha foi inaugurada em 10 de outubro de 1910. Somente alguns meses depois, em meados de 1911, foram inauguradas as duas estações seguintes, Sapé (depois chamada de José Honório) e São Sebastião do Paraíso. Todas as três ficavam em Minas Gerais. A ferrovia terminava em São Sebastião. Mais tarde o ramal de Passos, da Mogiana, se uniu à linha, mas essa é outra história.

Inauguração da estação de Guardinha em 1910/O Estado de S. Paulo, 8-11-1910

O jornal não dá a data da fotografia. Acredito que ela tenha sido tomada no dia da inauguração, portanto, quase um mês antes de publicada. Isto, claro, se a data de 12 de outubro estiver correta e se a fotografia realmente tenha sido tirada nesse dia. São as eternas contradições da história, nem sempre resolvidas definitivamente. No duro, mesmo, são detalhes.

Pátio de Guardinha, em 2009/Tarcio Candiani

A São Paulo-Minas havia sido fundada na cidade paulista de São Simão em 1892. Para chegar até Minas Gerais, passou por duas empresas e uma falência. A ferrovia, de 136 quilômetros, somente teve um aumento de extensão: em 1928, quando construiu um ramal até Ribeirão Preto, ramal este com 43 quilômetros e que funcionou por um ano somente - daí fechou, pois a ferrovia "quebrou" mais uma vez, aí nas mãos da Companhia Eletroquímica de Ribeirão Preto, que faliu junto. Somente reabriram esse ramal em 1944. O resto do tempo, ficou rodando apenas parte da linha de 1910. Os problemas eram burocráticos e também de falta de dinheiro do Estado. Sim, do Estado de São Paulo, que ficou com a massa falida da estrada de ferro em 1929.

A história não conta muitos detalhes dessa ferrovia. Sabe-se, no entanto, que apresentava contínuos problemas de operação. Em 1968, foi encampada pela Companhia Mogiana, a mando do Governo paulista, já dono das ferrovias havia tempos. A Mogiana sempre quis a São Paulo-Minas, desde a época em que ambas eram empresas privadas. A SPM era uma intrusa na concessão da Mogiana. Quando a emcampação veio, em 1968, o primeiro ato da Mogiana foi extinguir parte da linha original, de São Simão a Ipaúna, antiga estação de Seerinha, onde se encontravam os dois ramais.

Em 1971, um caso até hoje não bem explicado e que teria envolvido o governador Laudo Natel fechou definitivamente as instalações de Bento Quirino. Ali, no entroncamento das duas ferrovias, havia perdido o sentido de existência: a saída do ramal desaparecera em 1968. Boa parte da estação e de seu pátio foi destruído. Os funcionários da São Paulo-Minas perderam muita coisa naquele dia. Logo em seguida, formou-se a Fepasa, sobre "as cinco ferrovias de S. Paulo", que, na verdade, já eram três: a SPM e a E. F. Araraquara existiam desde três anos antes apenas de nome. Quem as operavam eram a Mogiana e a Paulista.

Trilhos na entrada da cidade de Altinópolis em 2006/Ralph M. Giesbrecht

Não sobrou muita coisa da São Paulo-Minas. A maior parte de suas velhas estações foi demolida. Apenas a linha entre a estação de Evangelina, na área rural de Ribeirão Preto, e São Sebastião do Paraíso, continuou em operação a partir da formação da Fepasa, num total de curtos 93 quilômetros, que foram abandonados de vez em 1998, com a entrega da Fepasa para a RFFSA e posterior privatização.

Estação de Altinópolis em 2006/Ralph M. Giesbrecht

As linhas estão hoje abandonadas; trilhos foram roubados em vários trechos, estações demolidas ou abandonadas. Apenas os prédios de Bento Quirino, Altinópolis, São Sebastião do Paraíso e de Serra Azul estão bem cuidados. As estações de Ribeirão Preto, Guardinha e Águas Virtuosas estão largadas.

4 comentários:

  1. Seu Blog está cada vez melhor.

    Quase todo dia você nos brinda com um post melhor que outro.

    Parabéns.

    Sergio Araújo

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  2. Boa noite Ralph, é com imensa alegria que encontro este teu site, é maravilhoso, me tras grandes alegrias de infância, pois o que mais me chamou atenção foi o site http://www.estacoesferroviarias.com.br/s/sapucai.htm , digo isso com orgulho, pois passei minha infância lá, meu pai foi o ultimo chefe de estação em Sapucai, até te digo que poucos sabem, mas quando começaram a desativar, meu pai chegou a ser chefe de estação tanto da Mogiana, como da RFFSA, te digo mais, temos em casa outras fotos dos bons tempos de grande movimento que ocorria lá pelo fato de ser o entroncamento entre Minas Gerais e São Paulo, meu pai começou a trabalhar lá com 14 anos no restaurante que lá existia, conseguindo entrar como funcionário lá pelos seus 16 anos como telegrafista, e posteriormente vindo a ser chefe de estação até se aposentar. Mas esta história eu deixo para que meu pai conte se vocês desejarem, posso garantir que terão uma histário de vida e todo o conhecimento daquela estação, meu pai se fez lá, e crio sete filhos sendo funcionário da RFFSA lá.
    aH ! No link http://www.panoramio.com/map/#lt=-22.320158&ln=-46.696419&z=-2&k=1&a=1&tab=1 a marcação de onde está a estação está um pouco fora, a estação em si, é o galpão que aparece logo a direita de onde está marcado com a foto. Gostaria se possível, se desejarem, fazerem um documentário, pois meu pai tem uma ótima memória, e poderá contar grandes histórias que ocorreram nesta linha férrea. Meu nome é Rodney de Oliveira, meu pai se chama Ramiro Mamede de Oliveira, meu celular 19 97885367 ou rodney.perugini@gmail.com rodney_perugini@hotmail.com . Parabens, grande abraço, e fico no aguardo, caso resolvam conhecer de forma bem mais profunda tudo que ocorreu por lá num período de mais ade 30 anos até a desativação completa daquele trecho.

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  3. O engate "boca de sino" no carro que atualmente está abandonado em São Sebastião do Paraíso não é usado nas linhas de bitola métrica e larga da SPM/Mogiana. Em Minas Gerais e talvez no Brasil, apenas as linhas de 0,76m da velha Oeste de Minas contavam com esse tipo de peça.

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  4. Ralph, na mesma edição do Estadão, de 08.11.1910, há também uma foto da inauguração da ponte sobre o rio Sapucaí (paulista), entre Batatais e Guardinha.

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