sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O PROFETA DO CAOS

Vista de Pinheiros (à esquerda) e do Shopping Eldorado em construção em 1979. Ao fundo, os prédios da avenida Faria Lima e no horizonte a avenida Paulista. 30 anos atrás, e já se previam problemas. A foto foi tirada por mim

Insistindo em um tema no qual tenho escrito várias vezes neste blog: a situação de São Paulo - e provavelmente de outras cidades do mesmo tamanho populacional - já é crítica e ninguém está fazendo algo que realmente possa fazer a cidade voltar a funcionar.

Como autêntico "profeta do caos", daqui a pouco vamos viver em uma cidade onde a melhor coisa a fazer vai ser não sair de casa. Não estou nem falando de segurança, mas de possibilidade de locomoção. Assim como não é tão fácil andar a pé em determinadas calçadas (mesmo que sejam calçadões), já é muito difícil dirigir qualquer automóvel, ônibus, caminhão, o que seja, na cidade.

Quando aqui escrevo lamentando o fato de uma ou várias casas terem sido derrubadas, e na maioria das vezes o são para a construção de edifícios de apartamentos ou de escritórios cada vez maiores, não falo somente no sentido de se perder a memória, mas também no fato de que cada casa que cai é substituída por prédios com uma quantidade de gente muito, mas muito maior, concentrando demais pessoas no mesmo lugar.

Já está mais do que na hora de São Paulo parar. Não somente São Paulo, mas também as outras cidades da área metropolitana. Considerando o número de prédios que são terminados por ano e o número de moradias e escritórios que cada deles oferece, chegamos a um número grande (não, não sei o número), mas é humanamente impossível acreditar que todos eles sejam preenchidos por novos moradores - definindo novos como gente que vem de outras cidades. A população não cresce tão rápido assim. Portanto, há inúmeros locais vazios, tanto novos quanto velhos.

Por que não se usar o que já existe para fazer retrofit, ou seja, transformar casas, prédios, galpões e fábricas em moradias modernas (tipo loft, por exemplo), sem aumentar a área construída? Será que isso representaria o fim da construção civil ou não mudaria muito os números? (também não sei a resposta).

Sempre se dirá que o congelamento da construção de novas unidades habitacionais ou de prédios de escritório causará problemas no nível de emprego. Mas o retrofit não poderia mantê-los? E devemos acabar de vez com nossas cidades somente para manter o nível de emprego?

Enfim, depois de passar hoje (como praticamente todos os dias) pela rua Diogo Moreira, estreita rua no bairro de Pinheiros e que liga em diagonal as avenidas Brigadeiro Faria Lima e Eusébio Matoso, em Pinheiros, eu vi um retrato do desespero: rua curta, com dois quarteirões, aberta nos anos 1940 com terrenos para belas casinhas, hoje nela não mora ninguém. Ali existem dois prédios (um é hotel, outro é escritório), dois enormes buracos onde se começam as obras de dois prédios (um na esquina com a Faria Lima e outro dando fundos para a rua Cariris), o resto são casas que viraram restaurantes ou escritórios.

A rua vive congestionada, e dois prédios vão torná-la praticamente intransitável. A rua Cariris, atrás, vai se tornar um inferno; hoje é uma rua tranquila (basta olhar um mapa e ver a posição desta rua). Agora, quantas ruas Diogo Moreira e Cariris existem em São Paulo sofrendo do mesmo mal? Muitas, infelizmente.

Está na hora da população acordar. Aliás, muito mais que na hora, pois o pesadelo já chegou.

4 comentários:

  1. Embora tenha apreciado seu comentario a respeito, no qual concordo em tudo, o que
    me chamou à atenção foram as fotos postadas
    que me transportaram a 30 anos atrás. Explico
    melhor: Foi a empresa onde eu trabalhava que fazia a manutenção e montagem das portas de vidros temperados, nesse predio da Shell, onde foram tiradas as fotos, se nao me falha a memoria, eram da cor fumê, com aqueles
    enormes puxadores cromados em formato circular.
    A visao do supermercado Eldorado, em construção, tambem me trouxe recordações, uma vês que participamos dessa obra. Se possível fôsse, pediria a sua gentileza em remeter, pelo
    meu e-mail as fotos ou a foto montada, com melhor definição, para uso de meu arquivo. Agradeço e formulo votos de saúde a toda a familia. Abraço.

    ResponderExcluir
  2. Eu não acho a foto original... sou muito desorganizado. Na verdade, essa é a melhor definição que tenho, no momento, dessa foto...

    ResponderExcluir
  3. Assunto fundamental. Não tinha pensado nisso de retrofit, é verdade, geraria emprego, manteria a construção civil em movimento. MAS... o problema paulistano é de ordem nacional. 20 milhões de pessoas na grande SP, é problema de saúde pública nacional. Medidas tem que ser tomadas pelo governo federal, em parceria com o estado, criando frentes de migração interna, para DE-SIN-CHAR essa bomba relógio.

    ResponderExcluir
  4. Nossa, concordo 100%. Nos anos 80 quando eu era crianca Pinheiros era super tranquilo, com excecao das maiores avenidas. Eram varias casinhas e as pessoas se conheciam e tinham pequenos comercios no bairro e ate um senhor que vendia sorvete numa charrete! Claro que o passado nao volta, mas o bairro esta sendo, nessa ultima decada principalmente, completamente descaracterizado. Infelizmente e uma tendencia atual, eu nao moro mais no Brasil, mas quando vim pra ca esse ano de ferias, passei pelo Ipiranga, Saude, Pinheiros, Lapa, Vila Madalena e fiquei indignada com quarteiroes inteiros sendo demolidos para dar espaco a mais predios numa cidade que ja e hiper congestionada. Da raiva de ver, especialmente por morar no primeiro mundo e ver a diferenca de planejamento urbano - e importancia de preservacao da arquitetura e caracteristicas de uma cidade- comparadas a falta total de planejamento, zoneamento e bom senso que tomou conta de Sao Paulo. Num pais gigantesco como o Brasil nao entendo porque todos tem que se amontoar no mesmo espaco.

    ResponderExcluir