Estação de Itirapina - Foto Silvio Rizzo em 23/5/2016
Num país como o que estamos vivendo, onde uma presidente destruiu uma economia e ainda se faz de vítima, onde defensores da ex-presidenta parecem viver em um outro mundo, onde os novos governantes insistem em colocar pessoas que são investigadas pela Polícia Federal, onde exatamente por causa do aqui relatado não há dinheiro em caixa nem para fechar o ano, é racional apontar-se os problemas das ferrovias nacionais e esperar que algo seja feito?
Vamos ser sinceros e objetivos: voltar a ter ferrovias de bom padrão é uma das últimas prioridades. Manter os escombros das estradas de ferro brasileiras, então, mais para baixo ainda na linha de emergências a serem sanadas.
Estação de Itirapina - Foto Silvio Rizzo em 23/5/2016
Se nos últimos trinta anos nada se fez para voltarmos aos anos de ouro (vá, vá, de latão, que seja), certamente não será agora que alguma autoridade, que por acaso vier a ler este artigo, tomará alguma providência.
Mas eu sou teimoso.
Nos últimos dias recebi pelo menos duas notícias que me deixaram bastante chateado em relação à destruição do patrimônio ferroviário.
Uma mostra que a linha em Três Corações, MG, que passa dentro de algumas ruas da cidade, está sendo coberta com asfalto. Até alguns anos atrás, ainda passavam por ali trens cargueiros. Parte dessas linhas foram ali colocadas em 1884 e parte em 1926. A obra parece estar sendo feita sem a autorização do Governo Federal.
Trilhos em Três Corações - Foto Nutricionista Alessandra/Facebook, em 23/5/2016
Eu, que conheço o local e a cidade, pergunto: em que a presença dos trilhos atrapalha o trânsito de veículos na cidade (eu mesmo respondo: em nada). E mais: por que não se introduziu, ou pelo menos não se tentou, colocar trens metropolitanos ali, no mínimo, para atender às populações da cidade, da de Varginha e da de Carmo da Cachoeira? Finalmente: por que não asfaltar, mantendo os trilhos em seu lugar, de forma que possam ser aproveitados? Tantas cidades brasileiras têm trilhos em suas ruas, mesmo sem uso, e, infelizmente, muitas delas nada fizeram com relação às mesmas questões!
Trilhos em Três Corações - Foto Nutricionista Alessandra/Facebook, em 23/5/2016
Vale a pena ressaltar que a estação ferroviária de Três Corações está, também, em péssimo estado de conservação. A oficina de trens está em ruínas. Diversas carcaças de carros e vagões abandonadas e enferrujadas jazem no pátio.
O que a VLI, a Prefeitura Municipal de Três Corações, o DNIT, a ANTP e a Inventariança da RFFSA têm a dizer sobre o que está acontecendo?
A outra cidade é Itirapina, SP. Recebi fotografias de alguns dias atrás mostrando que a estação, outrora bifurcação das duas linhas-tronco da antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro, depois FEPASA, está em completo abandono e em petição de miséria. Muitos dos diversos desvios do seu pátio foram arrancados. Em 2007, uma reforma dos prédios foi iniciada, mas, como muitas obras governamentais que começam, nunca foi acabada. Resultado: dinheiro foi jogado fora e a estação e prédios do pátio estão virando ruínas.
Cabine de comando da estação de Itirapina - Foto Silvio Rizzo em 23/5/2016
Quem vai pagar o prejuízo material e o prejuízo à memória de um dos mais importantes pátios ferroviários de São Paulo e do Brasil? Apenas para quem não sabe: pela estação passam ainda trens cargueiros, nas duas linhas citadas. A cidade de Itirapina é pequena. E, como ironia do destino, neste ano comemora-se (há o que comemorar?) o centenário dessa estação e da bifurcação de linhas, mais precisamente, daqui a seis dias, em 1o de junho próximo.
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quinta-feira, 26 de maio de 2016
domingo, 19 de julho de 2015
BRASIL E SEU IMENSO PATRIMÔNIO ABANDONADO
Fotos Renan - Facebook, página RMV - Rede Mineira de Viação: link
São mostrados abaixo alguns exemplos bem recentes de patrimônios históricos brasileiros não conservados. Em alguns casos, como o de Três Corações (acima), trata-se de abandono de uma ferrovia que, até cerca de oito anos atrás, funcionava precariamente, mas funcionava, e além disso, era utilizada muito menos do que deveria e do que era nos tempos de RFFSA - no caso, até 1997.
Todo esse patrimônio, em diferentes cidades do país, são certamente apenas alguns dos casos em que o que existe é muito mal aproveitado. Em alguns casos, nem haveria necessidade de uma restauração e, outros, nem de demolição.
Listo abaixo outros, dou minha opinião e os leitores concordarão ou não. Coloco links em todos para que se possa ter mais detalhes. O único problema é que alguns desses links podem não levar todos os leitores a uma publicação, principalmente os que são do facebook.
Eu realmente me desespero quando vejo o que nós, brasileiros, temos como potencial em nossas mãos e que, por desprezo, ignorância ou até falta de verba, não fazemos.
Deixamos apodrecer nosso passado e nosso futuro.
PONTA GROSSA, PR
Tratam-se de gravuras rupestres no município, em sítio arqueológico em formação rochosa próxima a Vila Velha, este sim um ponto turístico visitado constantemente. Muitas das gravuras, como as mostradas na fotografia, estão arruinadas por entalhes na pedra feitos por vândalos e imbecis que as visitam.
ITUPEVA, SP
Esta tulha de café do século XIX em uma antiga fazenda em Itupeva está para ser demolida (talvez até já o tenha sido). Ela está dentro de uma área particular em que será construído um loteamento de casas. O que algumas pessoas se perguntam (algumas, porque a maioria não liga a mínima) é: porque o loteador e construtor não a mantiveram ali, dentro do loteamento? Não acredito que se perca mais do que pouquíssimos lotes potenciais para serem vendidos. O investimento na restauração dos prédios seria feito em prol do condomínio e poderia ser utilizado como sala de estar ou salão de festas ou de jogos, valorizando o loteamento. Link
JUNDIAÍ, SP
Esta é a locomotiva número 1 da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, a mais bem sucedida estrada de ferro em terras brasileiras. Trafegou no século XIX e XX em terras paulistas. Está há anos abandonada nos depósitos que um dia foram dessa empresa e que ainda estão de pé (mais ou menos, com se pode ver pela fotografia) em Jundiaí. O complexo todo é lindo e muito maior do que esta foto mostra. Está tudo abandonado há pelo menos quinze anos e pertence à Prefeitura.
GUATAPARÁ, SP
Em Guatapará, município paulista desmembrado há cerca de 20 anos do de Ribeirão Preto, era a sede da fazenda do mesmo nome que, no início do século XX, pertencia à família Prado. Foi vendida depois e atualmente serve como plantação de cana, basicamente. Praticamente todas as construções, inclusive a bela casa-sede, foi demolida. Algumas ruínas de depósitos e até de um cinema da colônia rural ainda sobrevivem em meio ao matagal. Ficam próximos à antiga estação ferroviária de Vila Albertina e, com exceção da ponte ferroviária sobre o rio Mogi-Guaçu que aparece no canto superior direito destas fotos (de Marcelo Thomas), estão muito próximas umas das outras.
Evidentemente, o visionário aqui pensa que isso poderia ser transformado pelo proprietário em um parque, mantendo as ruínas (sem restauro, mas protegidas) em seu interior. Sem tombamentos, sem nada. Apenas por idealismo e como, talvez, fonte de algum rendimento.
Evidentemente, seus donos não pensam assim. Ah, se fosse na Europa ou nos Estados Unidos...
PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA, PI
Este parque, que existe, mas que, na prática, tem verbas federais insuficientes para a sua manutenção, está cada vez mais abandonado, no distante Piauí. A equipe de Niède Guidon, de 82 anos, que preside a fundação, contava com 270 funcionários. Hoje, são 50. Segundo a arqueóloga, a demissão dos empregados remanescentes implicaria no pagamento de indenizações. Para isso, seria necessário encerrar as atividades até dezembro. Conheci Niéde há mais de vinte anos, durante uma viagem de avião dos Estados Unidos para o Brasil. Ela já lutava pelo parque. Link
Querem mais? Não é difícil encontrar fatos como este na Internet... ou até perto de suas casas. Sempre lembrando que povo sem história não constitui uma verdadeira nação.
São mostrados abaixo alguns exemplos bem recentes de patrimônios históricos brasileiros não conservados. Em alguns casos, como o de Três Corações (acima), trata-se de abandono de uma ferrovia que, até cerca de oito anos atrás, funcionava precariamente, mas funcionava, e além disso, era utilizada muito menos do que deveria e do que era nos tempos de RFFSA - no caso, até 1997.
Todo esse patrimônio, em diferentes cidades do país, são certamente apenas alguns dos casos em que o que existe é muito mal aproveitado. Em alguns casos, nem haveria necessidade de uma restauração e, outros, nem de demolição.
Listo abaixo outros, dou minha opinião e os leitores concordarão ou não. Coloco links em todos para que se possa ter mais detalhes. O único problema é que alguns desses links podem não levar todos os leitores a uma publicação, principalmente os que são do facebook.
Eu realmente me desespero quando vejo o que nós, brasileiros, temos como potencial em nossas mãos e que, por desprezo, ignorância ou até falta de verba, não fazemos.
Deixamos apodrecer nosso passado e nosso futuro.
PONTA GROSSA, PR
Tratam-se de gravuras rupestres no município, em sítio arqueológico em formação rochosa próxima a Vila Velha, este sim um ponto turístico visitado constantemente. Muitas das gravuras, como as mostradas na fotografia, estão arruinadas por entalhes na pedra feitos por vândalos e imbecis que as visitam.
ITUPEVA, SP
Esta tulha de café do século XIX em uma antiga fazenda em Itupeva está para ser demolida (talvez até já o tenha sido). Ela está dentro de uma área particular em que será construído um loteamento de casas. O que algumas pessoas se perguntam (algumas, porque a maioria não liga a mínima) é: porque o loteador e construtor não a mantiveram ali, dentro do loteamento? Não acredito que se perca mais do que pouquíssimos lotes potenciais para serem vendidos. O investimento na restauração dos prédios seria feito em prol do condomínio e poderia ser utilizado como sala de estar ou salão de festas ou de jogos, valorizando o loteamento. Link
JUNDIAÍ, SP
Esta é a locomotiva número 1 da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, a mais bem sucedida estrada de ferro em terras brasileiras. Trafegou no século XIX e XX em terras paulistas. Está há anos abandonada nos depósitos que um dia foram dessa empresa e que ainda estão de pé (mais ou menos, com se pode ver pela fotografia) em Jundiaí. O complexo todo é lindo e muito maior do que esta foto mostra. Está tudo abandonado há pelo menos quinze anos e pertence à Prefeitura.
Já vi essa área
toda muito melhor do que isso e já depois da desativação em 1998. Ora, a
Prefeitura comprou aquilo; por que não cuida e nem dá uma decisão sobre o que
quer fazer, bem clara? Se não quer cuidar das locomotivas (nota: as locomotivas
ficaram ali, mas são de propriedade do Governo Federal), porque
não cedem para quem as quer? Que se as leiloem ou mesmo se as dêem para uma
ABPF, por exemplo. É simples. Porém, as prefeituras
morrem de medo de ceder este material, porque, talvez, no futuro, possam ter
uso eleitoral... desde que não o prédio não caia antes ou, no caso das locomotivas,
virem ferrugem e se pulverizem.
Basicamente, é isto
que se discute. A incompetência de nossos governos, sempre empurrando com a
barriga, prometendo mundos e fundos e não cumprindo nada e, ainda por cima,
agindo como se isso não fosse um problema. Seria melhor
dar para um shopping... desde que ele mantivesse os prédios e, talvez, até
cuidasse de (algumas) locomotivas que lá estão. Link
Em Guatapará, município paulista desmembrado há cerca de 20 anos do de Ribeirão Preto, era a sede da fazenda do mesmo nome que, no início do século XX, pertencia à família Prado. Foi vendida depois e atualmente serve como plantação de cana, basicamente. Praticamente todas as construções, inclusive a bela casa-sede, foi demolida. Algumas ruínas de depósitos e até de um cinema da colônia rural ainda sobrevivem em meio ao matagal. Ficam próximos à antiga estação ferroviária de Vila Albertina e, com exceção da ponte ferroviária sobre o rio Mogi-Guaçu que aparece no canto superior direito destas fotos (de Marcelo Thomas), estão muito próximas umas das outras.
Evidentemente, o visionário aqui pensa que isso poderia ser transformado pelo proprietário em um parque, mantendo as ruínas (sem restauro, mas protegidas) em seu interior. Sem tombamentos, sem nada. Apenas por idealismo e como, talvez, fonte de algum rendimento.
Evidentemente, seus donos não pensam assim. Ah, se fosse na Europa ou nos Estados Unidos...
PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA, PI
Este parque, que existe, mas que, na prática, tem verbas federais insuficientes para a sua manutenção, está cada vez mais abandonado, no distante Piauí. A equipe de Niède Guidon, de 82 anos, que preside a fundação, contava com 270 funcionários. Hoje, são 50. Segundo a arqueóloga, a demissão dos empregados remanescentes implicaria no pagamento de indenizações. Para isso, seria necessário encerrar as atividades até dezembro. Conheci Niéde há mais de vinte anos, durante uma viagem de avião dos Estados Unidos para o Brasil. Ela já lutava pelo parque. Link
Querem mais? Não é difícil encontrar fatos como este na Internet... ou até perto de suas casas. Sempre lembrando que povo sem história não constitui uma verdadeira nação.
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domingo, 9 de setembro de 2012
SENHORES, APRESENTO-LHES... O INCOMPARÁVEL DNIT!

As visitas às estações ferroviárias, oficinas e armazéns brasileiros são sempre uma volta ao passado, mas também são uma visão da incompetência, desleixo e péssima ou nenhuma administração governamental em cima do patrimônio público brasileiro.
Nos últimos sessenta dias, posso aqui apresentar o resultado de três visitas que fiz a diferentes pátios e de uma reportagem, publicada no jornal O GLOBO do dia 5 de setembro e enviada a mim pelo Eliezer.

A estação de Cordeirópolis (mostrada aqui neste blog nesta semana), as oficinas de Rio Claro (a parte que pertence à Prefeitura e é alugada pelo DNIT para depósito de material ferroviário), onde, também nesta semana, mostramos os carros do VLT de Campinas), as oficinas de Três Corações (mostrada aqui em julho) e o museu rodoviário federal da cidade fluminense de Levy Gasparian (mostrada dia 5 deste mês pelo jornal O GLOBO) são apenas pouquíssimos locais de despejo (esqueçam a palavra armazenagem) que, sob a responsabilidade do DNIT (Departamento Nacional de - sei lá, realmente - será Infraestrutura e Transportes?, que faria sentido se o órgão funcionasse, ou será Departamento Nacional de Incompetência e Tortura de materiais?), órgão do governo federal.

Estava mais do que na hora de o Ministério dos Transportes ou da Presidência da República definirem o que querem com esse material e esses "depósitos": se é pôr fogo de uma vez, vender como sucata ou para transformarem todas essas áreas em unidades do Museu da Incompetência e do Descaso Nacional. Ou, ainda, preferencialmente, em unidades do Museu do Transporte Nacional (probabilidade esta zero à esquerda).

Há ainda uma quinta alternativa, impensável para gente do nível dos que dirigem este órgão, este ministério ou este governo nacional: mandarem gente séria verificar a viabilidade de recuperação deste material ou de parte dele para usarem em trens de longa distância, linhas metropolitanas ou outra coisa a fim de voltarem com trens de longa distância em locais que realmente necessitam deles.

Ora, exemplos há sim: que tal colocarem esses trens para rodar em linhas que hoje ainda existem, mas estão em abandono praticamente total pelas concessionárias que as têm? Posso lembrar-me de quatro exemplos neste exato momento (existem mais, basta eu esforçar um pouco mais minha combalida mente).

São eles: trecho Marília a Panorama, no oeste paulista: linha Santos a Juquiá, no litoral paulista; linha Campina Grande a Souzas, ou mesmo mais além, no oeste paraibano; linha Soledade de Minas-Varginha, no sul mineiro.

Ah, mas dirão os leitores que acompanham o desmanche das ferrovias nacionais, mas esses carros aí existentes são muito antigos, já, é necessária a compra de carros modernos e novos! Ah, mas essas linhas já tiveram seus desvios arrancados de seus pátios das estações, dificultando o cruzamento de trens! Ah, mas as próprias linhas e leitos necessitam de reformas! Ah, mas diversas estações estão abandonadas, em péssimo estado ou já foram demolidas!

Tudo isso é verdade. Porém, a retomada dos transportes com a reforma desses carros - boa reforma, não passar tinta e limpar, só, troca de via permanente onde necessário, restauro ou reconstrução de estações e paradas e recolocação dos desvios - e, claro, além de outras providências necessárias - seguida de um anúncio de intenções de compra de material novo e reforma mais profunda, inclusive eventualmente eletrificação de linhas, já seria uma demonstração do governo que algo irá realmente mudar e mudar rápido.

Mas não. Os senhores encavalados no inútil Ministério dos Transportes e no também inútil DNIT não se mexem para nada, e não se mexem faz anos. Muitos anos. Enquanto isso, tudo apodrece, é pichado, quebrado, queimado, desmontado, roubado nos narizes dos guardas (há guardas?) dos pátios e prédios, levando, cada vez mais, o prejuízo para cima - como se estivessem em foguetes.

Nem para ligarem o computador e entrarem nas listas de Facebook, Orkut, Google+ e mesmo listas de discussões da Internet para verem facilmente os locais e momentos dessa destruição sem fim, onde elas estão, para parar com isso imediatamente. Só se limitam a, de vez em quando, como o têm feito nestas últimas duas semanas, anunciar por notícias em jornais que "desta vez, vão acabar com a sucata". Se o fizerem, vão apenas jogar a preço de banana tudo na mão de sucateiros amigos.
Enquanto isso, CPTM e associações sérias de preservação ferroviária e rodoviária são colocadas à margem dos pedidos por elas feitos de materiais jogados nos cantos. Como eu disse acima, há muitos outros pátios por aí, pelo Brasil inteiro, com material aproveitável mofando ao relento há mais de quinze anos por falta de gente séria que pegue tudo isso e dê um jeito. Ninguém quer nada com nada. É incrível!!!

Algumas fotografias bastante recentes desse material nos quatro locais por mim citados seguem aqui. São todas fotos minhas, com exceção das fotos do museu em Levy Gasparian, estas do jornal O Globo.
domingo, 8 de julho de 2012
O MUSEU DA VERGONHA NACIONAL

Na verdade, este é apenas um dos inúmeros Museus da Vergonha Nacional. Cada município brasileiro - cerca de 5.600 - deve ter pelo menos um deles, cobrindo as mais variadas facetas. Se algum não tiver... que se manifeste. As afirmações e as fotografias deste texto foram feitas por mim. As fotos, no dia 6/7/2012. O escrito, hoje.

No caso de Três Corações, o museu (que eu chamei de museu, mas lá tem apenas o título de "velhas oficinas da RMV ou da RFFSA, ou da Minas e Rio, como quiserem e dependendo da idade e do interesse de cada pessoa) se refere à ferrovia que passa pela cidade. Curioso: apesar do nome, a ferrovia funcionava entre os Estados de São Paulo e de Minas Gerais.

Uma delas foi construída em 1884 e ligava a cidade mineira à cidade de Cruzeiro, em São Paulo. Era a Estrada de Ferro Minas and Rio, de ingleses e inaugurada então com a presença de Sua Majestade o Imperador Dom Pedro II. Tempos de glória para a ferrovia e para a cidade.

Vinte e seis anos depois, a ferrovia já estava em dificuldades. Foi então adquirida pela Rede Sul Mineira, que em 1931 foi uma das formadoras da RMV - Rede Mineira de Viação. Em 1957 tornou-se parte da RFFSA, mantendo o nome, que em 1965 tornou-se V. F. Centro-Oeste e que em 1975 tornou-se parte de uma das divisões da RFFSA.

Em 1996, já estava em condições tão ruins, depois de perder os trens de passageiros por volta de 1980 (uns dizem que acabaram em 1976, outros em 1983) e com volume de cargas tão desprezível que nem concessionada foi. Atualmente, é a ABPF que tem a concessão para nela rodar trens turísticos, que atualmente trafegam do túnel na divisa mineira-paulista com Passa-Quatro e de Soledade a São Lourenço, enquanto o trecho entre Passa-Quatro e São Lourenço está sendo recuperado pela mesma associação e o trecho final, Soledade-Três Corações, aguarda esperançoso pelo mesmo destino, estando em abandono total.

É este último trecho que chega a Três Corações. As oficinas estão neste trecho, entre a estação abandonada e a saída da outra linha, a que segue para Lavras, em atividade ininterrupta, mas com cada vez menos cargas a transportar. O trecho que segue para Varginha foi um prolongamento feito pela E. F. Muzambinho e aberto em 1892, tendo sido em 1908 incorporado pela Minas e Rio.

Já o trecho que segue para Lavras foi aberto parcialmente em 1918 e finalizado em 1926. Ele sai do outro lado do rio Verde em relação à estação, de uma das pontas do triângulo que ali existe - da outra ponta sai a linha para Varginha, sendo que a terceira ponta fica na cabeceira da ponte. Esse traho até Lavras ainda segue funcionando, mas ao que tudo indica, apenas com as cargas do moinho Fertipar em Varginha.

Entre a estação da cidade e a ponte sobre o rio Verde ficam as oficinas. Embora haja um portão que fecha sua entrada, ele parece que está sempre aberto, pois diversas pessoas cruzam a ponte para chegar à região da estação. O estado das oficinas é péssimo. Totalmente abandonados, o prédio à esquerda de quem segua para o rio é um depósito de vagões ainda com os logotipos da RFFSA que há muito não saem dali. Do lado de fora dele, entrando por outro desvio, antigos carros metálicos de passageiros com a pintura azul da RFFSA apodrecem ali miseravelmente há muitos anos. Não há ninguém por ali, exceto os transeuntes que cruzam a ponte. Do lado direito, um prédio já bastante depredado, provavelmente almoxarifado, está totalmente ao léu, sem ter aparentemente coisa alguma dentro dele e provavelmente servindo de abrigo noturno para mendigos e drogados.

Pois é: se pegarmos a estação e seu pátio, estas sim fechados com portão, e o pátio das oficinas com a bela ponte metálica (e uma rua passando no meio dos dois complexos, rua esta que vem da ponte de automóveis sobre o mesmo rio), teremos o que chamo de o Museu da Vergonha Nacional - Seção Três Corações. Ali pode se ver claramente o que se faz e o que não se faz com o dinheiro do povo. Pelo menos, poderiam fazer uma reforma cosmética nos vagões e carros que ali estão, pintando-os com suas cores originais e restaurando pelo menos externamente os edifícios. Aí, sim, seria um museu - e talvez o termo "vergonha" pudesses ser amenizado.

Resta, ainda, lembrar que, do lado de fora da estação, ao lado de sua entrada, está uma das locomotivas da antiga Rede Mineira de Viação, com uma cobertura tipo telhado sobre ela que pelo menos a faz envelhecer mais demoradamente.
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sábado, 7 de julho de 2012
VARGINHA EM FOTOS

Minha visita a Varginha, MG, acabou hoje. às 14 horas estava já eu de volta em casa. Não consegui baixar as fotografias que tirei lá no meu laptop que levei para lá, somente agora o fiz em meu computador caseiro.







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sexta-feira, 6 de julho de 2012
TRÊS CORAÇÕES, RUAS SATURADAS E TRILHOS

Rua de Três Corações com os trilhos e o trem da FCA em 2011. Foto Cassio Paulo Fernandes
A cidade de Três Corações, como Varginha, é cheia de subidas e descidas. Típica cidade do Sul de Minas nesse sentido. Terá os mesmos problemas de trânsito que Varginha terá. Não que já não os possuam; os congestionamentos, principalmente de manhã cedinho, hora do almoço e fim da tarde, já são uma realidade em cidades que têm por volta de cem mil habitantes cada uma.
Varginha tem um pouco mais disso; Três Corações, um pouco menos. Ambas têm ruas estreitas e poucas avenidas largas; as ruas com mais movimento são em sua maioria velhas estradas que davam acesso ã cidade original. Três Corações, que tem uma estátua de Pelé - que nasceu lá - no trevo da Fernão Dias com a estrada que vem de Varginha, tem, para piorar sua situação, um rio (o Verde) dividindo parte da cidade e uma linha de trem que percorre várias de suas ruas. Varginha também as tem, mas essa linha, além de estar inoperante nesse trecho, ainda percorre trechos de ruas muito curtos e situados numa área da cidade onde hoje o trânsito não é muito intenso.
Em Três Corações, os trens passam. Não muitos, mas existem. As locomotivas diesel da FCA ainda cruzam a cidade com cargueiros que vão para o município de Varginha, não muito além da divisa, para alcançar uma fábrica de fertilizantes. Não sei se há algum outro tipo de transporte de cargas cruzando Três Corações hoje, mas vi em minha visita de hoje que toda a linha na cidade (exceto a que liga a estação da cidade a Soledade de Minas, da antiga Minas e Rio) está com empedramento novo.
Há trilhos dos dois lados do rio Verde. Na margem esquerda do rio, fica a estação ferroviária, fechada com portões sobre a linha. O prédio, aparentemente, está fechado e mal cuidado, mas seu pátio também tem os trilhos empedrados. Dela saem os trilhos que não são mais usados há mais de dez anos e que seguem para Soledade de Minas e Cruzeiro. Para o outro lado, saem para as oficinas (totalmente abandonadas e das quais falarei nos próximos dias) e para a ponte metálica sobre o rio Verde. Esta área também têm portões, mas eles estavam abertos (entre a oficina e a estação há uma rua) e pode-se entrar ali e cruzar o rio pela ponte dos trilhos, coisa que muita gente faz.
Na parte principal da cidade (à direita do rio), os trilhos, depois de cruzarem a ponte citada, abrem um triângulo. Para a esquerda, seguem para Varginha e é uma linha que tem quase cento e trinta anos. Para a direita, são da linha Três Corações-Lavras, bem mais recente: 1918. Para seguir para Lavras, foram usados leitos de ruas que certamente já existiam, pelo menos próximas à ponte.
A rua principal, que segue para o quartel do Exército, tem os trilhos do lado esquerdo da rua em leito de terra. Casas e prédios existem dos dois lados; para se entrar com o carro nas construções do lado dos trilhos, há de cruzá-los em nível. A linha está toda empedrada com pedras novas, o que significa que tem tráfego. Essas linhas estreitam o leito das ruas, que já são estreitas e têm de ser mantidas em mão única. No período em que estive hoje na cidade, tudo estava congestionado. Porém, nem se pode dizer que os trilhos são os causadores do estreitamento sozinhos; as outras tuas da cidade são mais estreitas ainda e não há trilhos.
Três Corações e Varginha não aguentarão mais a entrada de mais automóveis, caminhões e ônibus do que já têm hoje. Que usem suas linhas para transporte público, tirando pelo menos vários veículos de suas ruas? Vão fazer isso? A história recente diz que não. Espero estar enganado.
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