sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

HISTÓRIAS DE TAMBAÚ, SP

 Na estação de Tambaú-nova, fechada e abandonada, o recado: acabaram os trens (foto minha, de maio de  1999)
.

A cidade de Tambaú teve duas estações ferroviárias com seu nome. A primeira, aberta em 1887 e desativada em 1959, existe ainda, com uso completamente diferente, praticamente no centro da cidade. Os trilhos da linha original de Mogiana foram retirados loco depois que a variante Lagoa-Tambaú (a mesma que criou a estação de Casa Branca-nova) começou a funcionar em Tambaú.

A segunda estação, "Tambaú-nova", foi inaugurada em 1959, bem depois de Casa Branca-nova, porque a variante parava na região de Coronel Corrêa por falta de dinheiro para seu término, nos anos 1950, os piores tempos da Mogiana, quando foi estatizada para não ser fechada (1952).

Esta estação ainda existe, e, depois do último trem que por ali passou (1997), teve diversos usos, inclusive tendo ficado semi-abandonada. Ainda está lá com seus trilhos, por onde passam os cargueiros da FCA, concessionária que assumiu a Mogiana em 1999.
A ex-estação de Tambaú-nova, em foto de 2013 (Carlos Roberto de Almeida)
.

Rodrigo Cabredo passou muito por lá de trem na época em que era ainda um adolescente vidrado em trens. É dele o relato que foi reproduzido no meu site e no meu livro Um dia o trem passou por aqui, de 2001: Ele fala da importância dessa estação mais nova, que ainda fica nos limites da cidade e servia de ponto de cruzamento de trens de passageiros:

"Os trens PM1 (vindo de Campi-nas) e PM2 (de Araguari) cruzavam lá (em Tambaú-nova) e eu, enquanto esperava o cruzamento, dava uma voltinha a pé pela estação para ver aqueles antigos cofres, os aparelhos de staff, etc.. Na fachada, há um grande logotipo C.M. Perto dali, há o único túnel da linha. Antigamente, eles cruzavam em Ribeirão, Evangelina, São Simão, Cravinhos, Canaã, dependendo do atraso. Hoje, cruzam em lugar nenhum, foram cortados... já sabe, se privatizarem a Fepasa esse trem não volta, porque foi suprimido antes... era simpático. Havia duas composições. Uma tinha dois ou três carrinhos de aço-carbono, construídos pela C.M. em 61, e um restaurante, também desta data, e era também de aço-carbono. O outro trem era de aço-inox, com janelas ovais com dois ou três carros da Mafersa, de 61, e um restaurante. Então, de Campinas saia um dia um trem, e um dia outro. Saía às 9 da manhã de Campinas e no domingo saía às 10, porque era o trem Bandeirante da Refesa, com leitos, etc.. Dava para pegar o PP-1 na Luz e chegar a tempo, porque o Bandeirante só saía quando chegava o PP-1 em Campinas. Eu peguei muito este trem, e descia em Evangelina, onde residem meus parentes. Lembro-me de um dia em que eu estava almoçando no carro-restaurante, quando o trem adentrou a estação de Aguaí. Naquele momento, tive uma premonição: um dia isso vai acabar. Dito e feito. Ultimamente, um carro era reservado para carregar a miséria para cima e para baixo. Mendigos com passe da prefeitura. Que contraste... Começou transportando a esperança de progresso, a riqueza, nossos imigrantes e terminou transportando o fracasso, a pobreza, a falta de perspectiva... O que fizeram com nossas ferrovias? Quando o trem passa pela linha nova, nas imediações de Cerrado e Santos Dumont, é perfeitamente possível ver a linha velha serpenteando paralelamente à nova. Pode-se ver lastro, dormentes e algumas estações antigas, já fora da linha atual. A linha nova cruzou o ramal de 0,60 que ali existia e existe ali uma estação (Cerrado), que fica perto da linha nova. Agora, só passando de carro para ver".

Tristeza, bem brasileira. O relato foi-me feito num e-mail de 1999.

Nenhum comentário:

Postar um comentário