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No último dia 16 de novembro "próximo passado", como se dizia até não tão antigamente, escrevi sobre a linha-tronco da Sorocabana desativada no início dos anos 1950 entre as estações de Juquiratiba e Botucatu, no artigo A estação de Victoria da EFS, central de desastres.
Hoje vou um pouco além destrinchando algumas notícias do jornal O Estado de S. Paulo da época. Eu sempre gostei de ter datas. E elas são difíceis. Dependendo das fontes, umas mais confiáveis, outras não, e outras até inexistentes, não é fácil se ter certeza ou uma data bem aproximada referente à inauguração e término de operações em linhas férreas.
Aliás, uma curiosidade: quanto mais próxima dos dias atuais são essas datas, menos fontes se têm. Isso se deve ao fato de os relatórios das empresas darem cada vez menos dados (até os anos 1950, havia relatórios anuais que davam vez por outra até o número de parafusos comprados) e até mesmo desaparecerem na segunda metade do século XX.
Além disso, com a decadência dos serviços ferroviários e o consequente desinteresse dos passageiros, que passaram a usar ônibus e até aviões, os jornais nem sempre noticiavam o fim das atividades das diferentes linhas que fechavam em penca dia após dia a partir dos anos 1960.
Vejama região da estação de Vitoria - chamada de Vitoriana após a metade dos anos 1940 - em Botucatu e que estava na linha-tronco, sendo ela também o ponto de entroncamento com o ramal de Porto Martins. Com isso, quando acabou o tráfego na linha-tronco antiga no trecho citado, ainda se manteve - isto citado com tendo sido em 1952 - a linha direta entre Botucatu e Porto Martins, sendo que os trens que vinham de São Paulo para Botucatu já em Juquiratiba desviavam para a nova linha, mais ao sul da antiga e passando com estações novas.
Mapa que mostra a linha velha da Sorocabana e o ramal de Porto Martins com o pequeno ramal de Araquá (Data desconhecida, provavelmente anos 1930-40)\
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Porém, em 1954, acabou a linha Botucatu-Porto Martins, o que afetou (ou foi a sua causa) a linha fluvial originária da Ytuana e que ligava Porto Artemis a Porto Martins por barcos pelos rios Piracicaba e Tietê.
Há de se imaginar, no entantom que as coisas não eram tão preto-no-branco assim. Há anos, conheci um senhor (infelizmente, falecido pouco depois) que morava numa das casas de um pátio ferroviário da antiga linhe-tronco desativado nessa época. Ele me disse que os trens chegaram a trafegar pela linha velha por algum tempo ainda, mesmo com a linha nova já aberta. Ressalte-se que a linha nova era trafegada por trens elétricos, enquanto as velhas, somente por locomotivas a vapor.
E, realmente, uma notícia do jornal O Estado de S. Paulo do dia 15 de novembro de 1951, fala que "desde o dia primeiro (de novembro) os trens têm trafegado até Botucatu pela linha nova; (...) dos entendimentos havidos ficou estabelecido que o tráfego no trecho Juquiratiba-Boticatu (a linha velha, no caso) não será abolido". A reportagem inteira dava a impressão que os trens estavam trafegando nas duas linhas. Veja que o ano é 1951, e não 1952, que é citado como o de início de operações na linha nova e fim na linha velha.
O Estado de S. Paulo, 12/9/1952
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E vejam que num anúncio no mesmo jornal, dez meses depois, (logo acima), anunciava-se que, realmente, ainda no início de setembro os trens ainda trafegavam pelas duas linhas. Por outro lado, dava a data para começarem a fazer o techo Botucatu-Porto Martins para 15 de setembro., de acord
Em 1953 - quando, tudo indica, a linha velha não funcionava mais, apenas o ramal Botucatu-Porto Martins, uma reportagem no mesmo jornal em 8 de março, falava das vantagens de não se ter a linha velha mais funcionando entre Juquiratiba e Vitoriana, com a expectativa de novas e mais modernas plantações na área pois o trem a vapor não jogaria mais fagulhas que constantemente destruíam as culturas com o fogo. O anúncio de 1952 realmente foi cumprido.
O Estado de S. Paulo, 20/10/1955
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Finalmente, a cana invadiu a área exatamente quando o ramal parou em 1954. Teria isto sido bom ou mal/ Vitoriana recebeu uma grande ind~ustria canavieira por causa do fim da linha ou foi coincidência? Afinal, as estradas da região ainda eram muito ruins. Vejam o anúncio logo acima, de 20/10/1955. A construção da indústria havia sido anunciada no início dos anos 1950.
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