quarta-feira, 30 de outubro de 2013

SUD MENNUCCI E A GRANDE SÃO PAULO

A área metropolitana de São Paulo de hoje (em vermelho): 39 municípios.
Então. Meu avô Sud Mennucci, do qual já falei neste blog dezenas de vezes, era um profundo conhecedor da história e da geografia do Brasil, mas principalmente do Estado de São Paulo, onde nasceu e onde morou por todos os seus 36 anos de vida (1892-1948).

Tanto conhecia que fez parte da primeira comissão de estudos para a redivisão municipal do Estado, criada por Vargas logo que assumiu a Presidência da República no final de 1930. Sud e alguns de seus amigos foram os escolhidos para São Paulo não por acso. Era uma comissão séria, que rejeitava as pressões políticas e buscava ser lógica quando se decidia pela criação, extinção e modificação de limites de municípios em nosso Estado.

Acreditem ou não, era verdade. Houve, no entanto, exceções. Depois de criados os critérios para a redistribuição (em 1930 eram cerca de 200 municípios contra os mais de 600 de hoje), quem não preenchesse os requisitos mínimos era rebaixado a distrito. Foram os casos, por exemplo, de Jataí, Conceição de Monte Alegre, Araçariguama, Santo Amaro e alguns outros. As exceções foram alguns que eram para desaparecer (Santana de Parnaíba, então Parnahyba, era um deles), mas tal não ocorreu (certamente a pressão política aqui venceu - estranho, para uma cidade decadentíssima já havia mais de cem anos) e alguns outros que foram extintos, mas que reapareceram poucos anos depois, ou foram criados e desapareceram em seguida (Sapezal e Piramboia, por exemplo).

Como isto é apenas uma pequena postagem em um blog, não dá para entrar em detalhes. Caso queiram ler um pouco mais, que leiam o interessantíssimo livro "Brasil Desunido", de Sud, escrito em 1931. Vale a pena. O duro é encontrá-lo.

Mas o que me deixa reamente curioso é a atual área metropolitana de São Paulo, também chamada de "Grande São Paulo", hoje com trinta e nove municípios. Na época do estudo que durou de 1931 a 1935 e que causou a anexação do município de Santo Amaro a São Paulo, a área metropolitana não existia. Cidades que estavam fora da capital eram interior, mesmo. Hoje em dia, não se pode dizer que Santana de Parnaíba, Franco da Rocha ou Itapecerica da Sera, ou mesmo São Bernardo do Campo sejam interior do Estado. As cidades da Grande São Paulo são hoje praticamente todas conurbadas e isto já se estende para fora desta área, como Jundiaí, por exemplo.

Li muito sobre Sud, pois sou seu biógrafo. E nas suas memórias, anotações e fotografias, reportagens de jornais etc, a impressão que temos é que ele andava muitíssimo pouco pelas cidades que hoje compõe a metrópole. Isso não significa que ele nunca tenha vindo a várias delas - afinal, ele ia a cidades muito mais distantes. Só não chegou ao rio Paraná porque naquela época o acesso praticamente náo existia 'aquela região, quase desabitada.

Vejamos Parnahyba, por exemplo. As únicas referências que tenho a esta cidade onde moro hoje são uma fotografia de 1927 onde ele discursa na inauguração do Asilo Santa Teresinha, em Carapicuíba, que na época era zona rural do município de Parnahyba, e os estudos que quase causaram o desaparecimento deste município, mas que levaram ao desmembramento de uma longa área a leste, que hoje faz parte dos municípios de Franco da Rocha e de Caieiras.

Em 1931, a Grande São Paulo, se já existisse como entidade e com os mesmos limites de hoje, teria apenas onze municípios: Cotia, Guarulhos, Itapecerica da Serra, Juquery (Mairiporã), Mogi das Cruzes, Salesópolis, Santa Isabel, Santana de Parnaíba, Santo Amaro (extinto em 1935), São Bernardo do Campo e São Paulo. (Nota deste autor: que me corrijam se esqueci algum município nesta lista). Assim como Parnaíba, as notícias de que ele teria visitado estas cidades, fora, claro, São Paulo, são praticamente zero. Mais tarde, em 1941, ele comprou uma chácara para ir nos fuins de semana, em Mogi das Cruzes.

E, como ia para Santos algumas vezes (para dizer a verdade, só sei de idas para este litoral nos anos 1930 e 40 para tomar o navio em idas para Buenos Aires, Beém do Pará e Nordeste poucas vezes), devia conhecer, pelo menos de vista, as cidades da linha, como São Bernardo, por exemplo. Vale o mesmo para viagens de trem ao Rio e ao interior, quando passava por outras estações que ainda hoje existem, funcionando ou abandonadas.

Também ele falava pouco sobre estas cidades ou, na época, bairros rurais e estações que hoje são cidades. o que me leva a crer que eram cidades pequenas e que pouquíssima importância tinham. Algumas delas, sabemos, são hoje bastante grandes em população (como Guarulhos, Osasco, Sao Bernardo e Santo André) ou em renda (Barueri, que pertenceu a Parnahyba atpe 1949, é hoje um dos dez municípios mais ricos do Brasil, tendo 1/3 da população de São Bernardo, Santo André e Guarulhos, por exemplo).

A verdade é que o crescimento dessas cidades realmente veio a partir dos anos 1960, quando Sud já havia falecido. O que facilitou isto foi o crescimento da venda dos automóveis, que facilitou a migração de pessoas e de fábricas para todas elas, ficando próximas à Capital. O trem, sozinho, não dava conta. Sem importância, o interesse de Sud era menor, quase nulo. Isto é uma observação minha que parece ser verdadeira.

Sud, inclusive, achava que, no futuro, as cidades próximas seriam todas incorporadas à Capital, que se tornaria um município com área e população grande, facilitando, segundo ele, seu desenvolvimento. Erro grande dele. Ainda bem que ele errou em sua previsão. E vou parar por aqui, pelo menos por hoje.

Um comentário:

  1. Muito bacana termos referências como esta:
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Sud_Mennucci
    Pena que os seus livros, como o citado, sejam encontrados apenas em sebos.

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