quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O HOMEM QUE PREVIA O FUTURO


Juquinha adorava passear com o pai. Naquele ano de 1890, a cidade de São Paulo já começava a crescer depois de uma relativa estagnação desde que foi fundada.

Trinta anos antes, a cidade tinha cerca de 20 mil habitantes. Agora, com a estrada de ferro, esse número já havia aumentado bastante. Mas isso somente acontecia no centro, o que por muitos anos nós chamamos de "cidade".

Juquinha e seus pais moravam em Pinheiros. Hoje um bairro cheio de construções, Pinheiros naquela época era o que se chamava de aldeia, ou povoado. Algumas centenas de habitantes, se tanto.

Para se chagar à "cidade", havia que se ir a cavalo, charrete, tílburis... ou, em muitos dos casos, a pé mesmo. E era necessário, quando você precisava de alguma coisa realmente diferente, ou mesmo simplesmente para ver um movimento diferente do que se via no largo de Pinheiros.

Nesse dia, Juquinha e papai foram a pé para a cidade. Demorava... O menino, com dez anos, gostava de falar com o pai. José, seu nome, via o fuuto. Como, ninguém sabe. Mas ele sabia de tudo. Alguns o consideravam um mentiroso. Será que ele era?

Eles moravam na rua do Butantan. a que ia para a ponte de ferro que atravessava o rio Pinheiros e chegava ao início das estradas de Itapecerica e da de Itu. José dizia para Juquinha: "Daqui a cem, cento e trinta anos, isto tudo vai estar bem mudado. Está vendo a igreja? Ela vai ser posta abaixo e reconstruída, já maior. A rud o Butantan vai se chamar rua do Commercio e depois vai voltar e ter o nome de hoje". Juquinha acreditava em tudo que José falava. Outros ouviam e chamavam-no de palerma, etc..

"A ponte de ferro vai ser retirada e outra vai ser construída, mas não ali. Vai ser mais para cima do rio. Perto, mas para cima. Depois, vão construir outra ponte, bem mais alta". Juquinha perguntou por que. O pai respondia que era porque haveriam tantos automóveis que uma ponte somente não daria conta. "O que é um automóvel?" perguntou o filho. "Automóvel é algo que ainda não existe, mas assim como as carroças e tílburis, vai conduzir as pessoas, mas sem cavalos puxando. Ele roda sozinho. Tem quatro rodas e é de metal colorido. Todo mundo vai ter seu automóvel."

"E vão ser tantos assim, papai?" "Ah, filho, vão sim. Vão entupir as ruas, que vão ser arrumadinhas, não de terra, como hoje, mas com pisos bem feitos. Quer dizer, bem feitos, mas com alguns buracos. O brasileiro nunca se preocupou muito em conservar as suas estradas".

De repende, passa uma boiada. Eles encostam ao lado da estradinha para ver os bois passarem. Eles estavam na estrada da Boiada, caminho obrigatório para a cidade. Também a chamavam de estrada de Pinheiros ou de estrada para Sorocaba. As ruas não tinham um nome só. "Esta aqui vai se chamar rua de Pinheiros. A boiada vai entrar à direita ali na frente, numa rua que vão chamar de Joaquim Antunes e, depois da chácara dos Rosa, de Groenlândia".

"Por que mudam os nomes das ruas? Por que ruas têm mais de um nome?", pergunta Juquinha. "Não sei, filho. Hoje, elas têm um motivo para isso. O comercio está na rua Butantan. As boiadas passam pela estrada delas. Mas no futuro? Isso vai desaparecendo e as pessoas começam a homenagear pessoas e lugares que pouco têm a ver com a cidade..."

"Juquinha, você está vendo ali, à direita, onde não dá para ver nada, quase que só mato? Ali, daqui a cem anos, vão estar coalhados de casas com mais de dez, vinte andares. Vão formar blocos e barreiras que barram a luz do sol em certas horas do dia. Vai ser o bairro da Paulista, ou Cerqueira César, ou Jardins... não se usar"ao muito esses nomes, mas eles serão corretos."

"O barulho nesta rua em que estamos, que

2 comentários:

  1. Impressão minha, ou falta o "Gram Finale" de seu texto?

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  2. Acho que realmente falta o final da historia mas não creio que o Ralph esqueceu, alguma coisa aconteceu vamos aguardar!

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