domingo, 6 de outubro de 2013

PETROLÂNDIA, ONDE CIDADE E FERROVIA DESAPARECERAM

A fotografia é rara: é a única que já encontrei que mostraa estação com uma composição ferroviária no pátio. Notem que há uma outra foto, com a ponte que liga Juazeiro a Petrolina, construída rio acima na mesma época da foto. Não confundir Petrolina com Petrolândia. A reportagem falava mesmo era do rio São Francisco. (Folha da Manhã, 5/7/1959).

Eu achei uma fotografia da estação ferroviária de Petrolândia, em Pernambuco, divisa com Alagoas, em um jornal paulista (Folha da Manhã, hoje Folha de S. Paulo) de 1959. O curioso era que a foto mostra vagões da RFN - Rede Ferroviária do Nordeste - que na época já havia encampado a velha ferrovia de Paulo Afonso.

Esta linha era uma ferrovia isolada das outras e fora construída no início dos anos 1880 - mais exatamente foi inaugurada em 1883 - para ligar dois pontos do rio São Francisco onde, entre eles, não era possível a navegação por causa de uma série de cachoeiras e corredeiras ali existentes. O ponto final era a cidade de Piranhas, em Alagoas. A ferrovia durou até 1964 e não cruzava o rio São Francisco, percorrendo sempre sua margem esquerda. A maior parte da linha ficava em Alagoas.
Localização de Petrolândia em 1958, em mapa do IBGE: o município está na divisa tripla entre PE, BA e AL. A outra cidade hachurada à direita no mapa é Recife.

Não conheço a cidade, jamais fui lá, embora (pasmem), conheça a hidrelétrica de Paulo Afonso, próxima a Petrolândia e local que deu o nome à ferrovia. Visitei a usina com meus pais em 1965, um ano depois da extinção da ferrovia.

Segundo a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume XVIII, publicado em 1958, Petrolândia não era nada mais do que um bebedouro de gado junto a um pé de jatobá. O local era, então, conhecido pelo nome de Jatobá. Com a notícia de que a ferrovia chegaria ali, muita gente começou a mudar-se para onde estava sendo cosntruída a estação e, quando esta foi inaugurada, em 1883, já havia ali diversas casas e moradores. A estação recebeu o nome de Jatobá. Junto a ela foi construído um porto fluvial para receber e embarcar cargas que vinham pelo rio e que seguiam de ou para Piranhas, cerca de 115 km rio abaixo.
O cais junto à estação ferroviária de Petrolândia, em foto do IBGE publicada em 1958. Notar que já estava semi-abandonado e a ferrovia ainda funcionava.

A nova vila ferroviária cresceu tanto que já em 1887, quatro anos depois, a sede do município, que era Tacaratu, ali perto, foi transferida para Jatobá. No entanto, as lutas políticas das famílias da região e mais a construção de outras ferrovias que atingiram Juazeiro e Pirapora, também nas margens do rio e que passaram a ser ligadas por vapores fluviais, o comércio em Jatobá decaiu bastante. Para piorar, em 1906 e em 1919 o rio transbordou e destruiu diversas casas em Jatobá.

O resultado de toda a decadência foi a mudança da sede do município novamente para Tacaratu, em 1928. Em 1935, Jatobá passou a se chamar Itaparica, nome de uma das cachoeiras próximas. A estação mudou de nome também e, em 1943, voltou a ser a sede do município e, no final desse mesmo ano, mudou de nome outra vez, desta vez para Petrolândia.

Em 1950, ainda com a ferrovia, a população do município era de 8.500 habitantes. Em 1964, fecharam a ferrovia, alegando ser altamente deficitária; na verdade, os rumores desse fechamento vinham desde o ano de 1942 e somente por pressões políticas a ferrovia continuou funcionando.

Nos anos 1980, a cidade foi alagada por causa da construção da barragem de Itaparica. Uma nova cidade foi construída mais longe do rio, junto à BR-316. É uma cidade totalmente nova, enquanto a velha está debaixo das águas da represa. Teve mais sorte: a população cresceu para cerca de 33.000 habitantes em 2011 e hoje vive da cotonicultura em pleno sertão pernambucano.

Já a ferrovia, a estação, o velho cais... tudo desapareceu. É verdade que a ferrovia não foi extinta por causa da construção dabarragem, que, em 1964, ainda nem era prevista: mas iria certamente para o saco se tivesse sobrevivido até os anos 1980, funcionando ou não. No Brasil, as ferrovias sempre pagam o pato e são as culpadas de tudo.

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