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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

1917: PROJETOS FERROVIÁRIOS

Antiga estação de Canoas, em 2011, transformada em estábulo: operou de 1890 a 1960.

Com as ferrovias brasileiras sendo motivo de chacota para os atuais seguidores do assunto, resta apenas a história para ser contada.

Obviamente precisaríamos de uma enciclopédia de vários volumes para contar a "ascensão e queda das estradas de ferro do Brasil", mas, como isso não vai acontecer, dedico-me a escrever e transmitir pequenos episódios que aconteceram dentro dos seus 153 anos de história.

Refiro-me nesta narrativa a uma data específica: 19 de outubro de 1917.

Quatro pequenas notícias publicadas no mesmo dia e na mesma página do jornal O Estado de S. Paulo davam conta que:

1) Foi dada autorização à Companhia Mogiana para o prolongamento do ramal de Mococa (que terminava na estação de Canoas, na divisa SP/MG) para chegar à estação de Monte Santo, no ramal de Passos. Tal obra jamais chegou a ser iniciada e o ramal foi extinto em 1960 (parte) e em 1966 (o resto).

2) Outra autorização foi dada à E. F. de Bragança, no Pará, para que se prolongasse a linha desde a estação terminal Bragança) à linha Caxias-Cajazeiras, no Maranhão. Esta ligação nunca foi executada. A estrada maranhense, no entanto, seria prolongada, atingindo São Luiz, ao norte, e Teresina, ao sul. Por volta de 1965, a ferrovia de Bragança foi extinta.

3) O chamado ramal de Santa Barbara, particular e pertencente à Usina Santa Barbara, no município do mesmo nome, recebeu autorização para ligar seus trilhos à estação da cidade (hoje Santa Barbara d'Oeste) para escoar sua produção pelo ramal de Piracicaba. Esta autorização foi efetivamente e imediatamente usada e a linha operou até os anos 1960.

4) Também recebeu autorização para sua construção a ligação ferroviária entre Mossoró, no Rio Grande do Norte, e Souza, na Paraíba. Esta ferrovia seria efetivamente construída, mas tão lentamente que, quando chegou a Souza, corria o ano de 1953. A ferrovia operou até o início dos anos 1990 em condições precaríssimas.

As notícias mostram que a atividade ferroviária era intensa nessa época, embora duas ferrovias não tenham sido efetivamente construídas. Mostra, também, que atrasos nas construções de ferrovias  fazem parte da história do Brasil.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

MOCOCA NO MEU BINÓCULO


“Levantei-me cedo nesse dia. Deixando o ambiente morno de minha casa, de portas e janelas fechadas, atirei-me à neblina de uma manhã invernosa, dirigindo-me à estação da Mogiana. A vida de Casa Branca despertava-se ali. O barulho das máquinas, do carregamento de mercadoria para os vagões, o vozerio de um bate-papo vespertino, caracterizam seus primeiros bocejos. Algumas pessoas, envolvidas em couraças de agasalhos, defendendo-se da imagem impertinente, passam afoitamente por mim, à procura de um lugar no carro, que leva uma placa: Canoas. A máquina do nosso trenzinho arrastava um vagão, uma plancha repleta de lenha, um carro de passageiros subdividido em duas partes, correspondentes à primeira e segunda classes; um outro vagão servindo de escritório e oficina de uma companhia de publicidade. Nosso meio-carro transformou-se, dentro em pouco, numa improvisada sala de visitas, sendo que a maior parte das pessoas, entretidas em conversas, pertencia ao corpo funcional do Asilo-Colônia-Cocais. Em poucos instantes chegávamos àquela localidade, ficando, daí por diante, privado da companhia de tão amáveis pessoas. Desceu aquele bloco de gente, quase num só ímpeto, numa algazarra de passarinhos contentes, que não ajuntam em celeiros.

A máquina suspirou... O trenzinho partiu de novo. Ia lerdo, parando de estação em estação, comendo e expelindo, penosamente, uns grãozinhos de mercadorias pondo na morosidade dos gestos de metal a alma do funcionário público.

Seis horas depois, Mococa.

Mococa, no meu binóculo!...

Que esplendor de céu! Quanta luz na terra! O sol focalizava, esplendidamente, a beleza impressionante do painel, onde se desenhava, em linhas perceptíveis, Mococa à distância. Dois braços abertos, de ruas, recebem carinhosamente o visitante, conduzindo-o à parte central da cidade, que não se conformou em permanecer no perímetro estreito da baixada; atirou-se, morro acima, num amontoado de construções, separadas, aqui e acolá, por enormes ilhas de frondosas palmeiras. As torres das igrejas levantam-se além, muito além dos telhados em aglutinação. (...)”.

O texto acima, transcrito de um jornal de Casa Branca, “O Município”, de 24 de junho de 1944, portanto há 68 anos, e escrito por Apolônio de Tiana, encompridava-se descrevendo a cidade de Mococa, mostra que uma viagem num trem misto na época, de apenas 63 km, indo de Casa Branca a Mococa, podia demorar seis horas!... Era esse o ramal de Mococa, que terminava sete quilômetros depois, em Canoas, à beira do rio.

Ele descreve bem a chegada a Mococa, que tinha a sua estação no ponto mais alto na entrada da cidade: dela se podia ver boa parte dela, no vale e além dele, como o autor descreve. Hoje, as filas de palmeiras ainda estão lá; os trilhos não. A antiga estação, descaracterizada como depósito da Prefeitura, cercada por grades e muros no meio de outras construções, ainda está hoje junto a uma das entradas da cidade; mas a magia do trem, descrita acima e em vários outros relatos, esta desapareceu para sempre da região. Eu me lembro de meu filho, que, indo a Mococa anos atrás, perguntou a um morador onde ficava a antiga estação ferroviária, e a resposta foi algo como “mas aqui nunca teve trem!”.

E, quanto à estação de Canoas, mais à frente, foi transformada em estábulo... mas ainda está lá.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

CASA BRANCA

A estação de Casa Branca - a "velha" - em 2008

Outro dia, conversando com amigos, saiu o nome de Casa Branca. Cidade que conheço, embora estando lá não frequentemente. O suficiente, entretanto, para gostar muito dela. Simpática, pequena, agradável e calma, agradaram-me bastante as minhas sempre curtas estadas em Casa Branca.

Pelo que li sobre ela, já foi mais importante e movimentada no passado. Um dos principais centros da Mogiana, de lá saía o ramal de Mococa, que levava a São José do Rio Pardo, Mococa e Guaxupé. Grandes armazéns de café, que trouxeram anos de glória à cidade, até hoje estão lá, infelizmente abandonados. Mas houve tempos em que houve que se construir uma estação auxiliar na entrada da cidade, a qual chamaram de Papagaios, dado o enorme movimento de cargas que sufocava a estação principal. E esta ficava na parte mais alta da cidade, longe do centro, e para alcançá-la com mais facilidade, foi construída uma linha de bondes, puxados a burro, dois deles, que levavam pela rua principal os passageiros da praça central à estação. Na volta, o bonde descia sozinho, e os burricos eram soltos das rédeas para também sozinhos retornarem à estrebaria na rua de trás. Eram, realmente, outros tempos.

Mas o tempo passou, e os trens da Mogiana acabaram, a própria Mogiana acabou. Antes disso, porém, a estação foi transferida para fora da cidade, para o Desterro, para uma melhor facilidade de circulação dos trens. Depois acabou o ramal de Mococa, foram-se os trilhos; foi-se Papagaios, demolida; foram-se os trens de passageiros, a estação velha virou sede da Prefeitura e a estação chamada por muito tempo de estação nova ficou às moscas, foi incendiada e saqueada. Depois reformada.

Acabou-se o movimento de Casa Branca. Mesmo assim, uma amiga dizia que embora não conhecesse a cidade, gostava dela. “Acho que deve ser algo relativo ao nome da cidade - sonoridade, ou semântica - porque eu também sempre senti algo especial por Casa Branca... nunca estive lá, quer dizer, passei por ela uma vez, numa viagem de trem quando ainda era bebê, só que cresci ouvindo meu pai falar que estava escalado para levar um trem para Casa Branca, ou que tal composição estava partindo de lá, enfim... de tal modo que se entranhou na minha cabeça esta estação em particular, tanto que quando vi fotos dela há alguns meses, no estado de abandono, parecia que as imagens não batiam. Acho que acabei criando uma Casa Branca particular...”, Um grande amigo, o Rodrigo, por sua vez, comentava que tinha “um gosto especial por esta cidade. Quando tive meu primeiro contato com o trem, em Evangelina, creio que em 1978, lembro-me que o maquinista me disse que o trem em que eu estava ia para Casa Branca. Bem, durante anos e anos eu falava que queria morar em Casa Branca. Essa era a minha Canaã... engraçado... coisas de criança”.

E então eu me recordei do velho Jorge, já falecido, um senhor que embora nascido em Porto Ferreira, cresceu em Casa Branca. Foi enterrado lá. Na sua cidade. Casa Branca, da qual ele sempre falava quando eu conversava com ele e ele dizia que “isto me faz lembrar um caso que aconteceu comigo quando eu morava em Casa Branca...” e lá ia ele contando mais uma história, que eu ouvia e não anotava... uma pena. Aécio, seu genro, quando ouvia essas histórias e dizia que “eram conversa para fazer lagartixa cair da parede”... O velho Jorge ria e continuava contando.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

CANOAS, FRONTEIRA DE SÃO PAULO

Ponte que divide São Paulo de Minas. Do lado de lá, Minas Gerais

O bairro de Canoas é um bairro de sítios que fica no município de Mococa, em São Paulo. Faz divisa com o estado de Minas Gerais, separado aqui dos paulistas pelo rio Canoas. Sobre ele, numa estrada de terra, uma ponte até que simpática, no meio do nada.
Rio Canoas. São Paulo está do lao direito da foto (esquerdo do rio).

Do lado mineiro, uma plaquinha onde está escrito: "área de segurança - divisa estadual - Estado de Minas Gerais". Dá para ver que segurança por ali é um item que não existe mesmo. O Brasil é um país estranho.

Mesmo sendo um bairro de sítios, Canoas tem pouquíssimas construções. Não deve ser fácil conhecer o vizinho por ali. De uma propriedade para outra pode demorar minutos para chegar nas estradas de terra - só de terra - que existem por ali.
Antiga estação de Canoas, terminal do extinto ramal de Mococa da Mogiana
Ao lado de um pequeno córrego que flui para o rio Canoas, existe ainda uma estação ferroviária desativada em 1961. Pertencia ao ramal de Mococa, da Mogiana. Era a estação terminal do ramal. O trecho Mococa-Canoas, de cerca de 6 quilômetros, foi desativado no início desse ano - está fazendo cinquenta anos - enquanto o resto (São José do Rio Pardo-Mococa) foi desativado cinco anos depois.

A antiga estação foi transformada em uma espécie de depósito. Derrubaram as paredes laterais, deixando somente uma pequena altura e as vidas de sustentação do telhado. O resto do pátio, bastante longo, virou um gramado. Somente esse prédio e uma caixa d'água lembram a ferrovia. A propriedade pertence à fazenda Angico, de posse, pelo que entendi, de padres que ali montaram um retiro.

Resta saber por que a linha seguia até Canoas. O que se vê hoje por ali é cana e alguma produção de leite. Creio que antes era só café, mas mesmo assim, o local é ermo demais para justificar uma estação e uma linha seguindo até ali. Parece que o único motivo para esse prolongamento (feito em 1891) foi o de ser o trecho inicial de um prolongamento mais longo que adentraria o Estado de Minas, o que, sabe Deus por que, jamais aconteceu.
Armazéns, aparentemente ferroviários, próximos ao antigo pátio ferroviário de Canoas.

Num dos sítios encontrei uma família de marido, mulher e um filho. Segundo eles, só eles trabalham ali nas plantações. No sítio, que não é tão pequeno assim, existe uma casinha e um galpão, além de cachorros, gatos, porcos, galinhas e cabritos. O chefe da família estava tentando salvar uma das plantações das capivaras que existem por ali.
Igreja de Canoas

Perto do sítio, uma igreja que parece estar fechada - pelo menos a maior parte do tempo. Não deve ter muita frequência, dada a baixíssima população por ali. O casarão depois da igreja parece ter sido da ferrovia. Bonito, está aparentemente fechado e talvez abandonado.