quarta-feira, 13 de abril de 2016
TRENS PAULISTANOS: O QUE SE PERDEU
Já que não acontece nada de bom atualmente nas ferrovias brasileiras, o negócio é contar histórias ou imaginar situações de universos paralelos... Hoje vou contar histórias. Espero que sejam interessantes. A ideia: pensar nas chances que a capital paulista e algumas cidades ao seu redor tiveram de ter trens metropolitanos hoje e... que não deram certo.
Houve diversas ferrovias dentro de São Paulo que não vingaram. Algumas até funcionaram por um bom tempo, mas acabaram desativadas, ficando somente na memória de alguns cidadãos... quando ficaram. Vamos lá:
1) Tramway da Cantareira - linha-tronco: Estação Tamanduateí (João Teodoro) - Cantareira. Durou de 1893 a 1964. Funcionou na maioria do tempo em condições precárias, somente recebendo locomotivas diesel nos anos 1950. Foi desativada com a desculpa de construção da linha do metrô. Na verdade, o percurso da linha (quase 4 quilômetros), entre a João Teodoro até a estação de Santana, até foi, a grosso modo, servindo (parte subterrânea, parte via elevada) para parte da linha 1 do metrô; o resto desta última na área norte da capital, entre Santana e Cantareira, foi construída em percurso bastante diferente. Em suma, os bairros de Santa Terezinha, Mandaqui, Tremembé e Cantareira acabaram sem trem nenhum. Com algumas pequenas modificações de traçado, poderia ser hoje um ramal do metrô ou da CPTM.
2) Tramway da Cantareira - ramal de Guarulhos. Durou de 1910 a 1965. Como no caso do tronco, funcionou em condições precárias. A linha, partindo do tronco na estação do Areal (esquina da avenida Cruzeiro do Sul com a Estrada do Carandiru, atual General Ataliba Leonel) passava pelo Carandiru, Jardim São Paulo, Parada Inglesa, Tucuruvi, Vila Mazzei e Jaçanã, entrando em Guarulhos por outros bairros locais até chegar à estação central, não muito longe da atual via Dutra. Ainda havia um trecho final que seguia até o Aeroporto Militar de Cumbica, hoje ao lado do Aeroporto Internacional de Guarulhos (Este aberto em 1986). Com exceção de três bairros, Jardim São Paulo, Parada Inglesa e Tucuruvi, hoje alcançados pela linha 1 do Metrô depois de passar por um túnel aberto pelo próprio Metrô, os outros não ficaram com linha alguma. E mesmo o Tucuruvi somente teve linha de novo quas trinta anos depois (em 1991).
3) Tramway da Cantareira - ramal do Horto. Durou de 1908 até 1964, a linha seguia até o Horto Florestal, saindo da estação da Invernada, no tronco, e voltando à mesma pela estação de Parada Sete, num arco de cerca de 4 quilômetros. Depois de retirados os trilhos, eles nunca mais voltaram. Mais bairros sem trem até hoje.
4) Tramway de Santo Amaro - linha-tronco. Durou de 1886 até 1913 (parte) e 1968 (outra). No início, era todo percorrido por bondes a vapor ou locomotivas a vapor. Comprado pela Light, seguiu operando de 1913 até 1968 com bondes elétricos numa linha em diferente percurso (entre o largo Ana Rosa e o cruzamento da rua Job Lane e a avenida Adolfo Pinheiro e o centro de Santo Amaro dessa forma. A diferença com os outros bondes da cidade era que os veículos eram maiores e também tinham leito próprio na maior parte do percurso (aqui falo do trecho entre o Instituo Biológico e o tal cruzamento da rua Job Lane), na verdade uma grande reta onde o trem corria por uma via sem tráfego de automóveis (as atuais avenidas Ibirapuera e Vereador José Diniz). Mais tarde, a avenida Ibirapuera, no trecho entre as avenidas Indianópolis e Eucaliptos, ganhou vias laterias e se transformou em ruas para automóveis e ônibus. O resto somente foi pavimentado quando os bondes foram desativados em 1968. Pois é: aqui a coisa é mais complicada. Logo que removidos os bondes, foi anunciado que haveria uma linha do Metrô Ana Rosa-largo de Moema (ramal de Moema), que seguiria, por baixo da terra, a mesma linha de bondes de 1913. Porém, a linha foi esquecida e jamais construídas. Apenas agora, quase cinquenta anos depois, está (ainda) sendo construída a linha 5 do metrô, que seguirá desde o centro de Santo Amaro até perto da rua Pedro de Toledo, na Vila Mariana. Já o trecho inicial da linha original de 1986 (São Joaquim-Largo Ana Rosa), ganhou parte da linha 1 do Metrô em 1974.
Na outra parte da linha original, no percurso entre o Largo Ana Rosa e a rua Job Lane, que passava por bairros como Jabaquara, Aeroporto, Campo Belo, Brooklyn Paulista e Alto da Boa Vista, apenas a parte mais afastada da Vila Mariana e o Jabaquara foram beneficiados com o Metrô da Linha 1. O resto, babau.
5) Tramway de Santo Amaro - Ramal do Matadouro - linha de bondes que funcionou de 1897 (aqui a data tenho-a em dúvida) até os anos 1960. Curta, jamais teve compensação também.
6) Tramway de Santo Amaro- ramal do Cambuci - linha que supostamente corria da estação Vila Mariana do Tramway (em frente à rua Sud Mennucci), seguindo pelas ruas Neto de Araújo e Lins de Vasconcellos até o largo do Cambuci. Digo supostamente por que não encontrei, até hoje, nenhuma evidência de que esta linha tenha funcionado, ou mesmo construída. Seria mais uma alternativa de trem metropolitano, VLT, metrô que nunca saiu.
Amanhã falarei de outras vias que poderiam ter sido utilizadas até hoje, caso tivessem sobrevivido: a E. F. Perus-Pirapora, a linha da Sorocabana na região de Marsilac e algumas linhas que já foram manejadas pela CPTM e foram abandonadas.
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ResponderExcluirA Job Lane começa - ou termina - na Vereador. Ao lado do posto, em frente à padaria da esquina - aquela famosa, cujo nome não me lembro agora. Realmente não chega à Adolfo. A linha estava na Vereador. No meio de tanta escrita, era obvio que alguma confusao ia ter. Vou ver se corrijo no texto
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ExcluirSim, Carlos, isso eu sei faz tempo. Só que a Job Lane dá voltas e voltas e eu fico na dúvida qual seria o ponto mais próximo da cidade (de Sto Amaro).
ResponderExcluirParece que era uma convenção. As avenidas Adolfo Pinheiro/Santo Amaro eram sempre o início da numeração. No Campo Belo, que eu saiba, só houve revisão da numeração na rua Piracicaba depois que ela mudou de nome(porque já havia outra no Sumaré), e, como ela foi seccionada pelo corte da linha de bonde, virou 2 ruas: Álvaro Luís Roberto de Assumpção (cuja numeração começa na Vereador) e João de Sousa Dias que começa na Estevão Baião. Já a rua Edison, que também ficou dividida pelo dito corte, manteve o mesmo nome (nos 2 trechos) e a numeração começando na Santo Amaro.
ExcluirPadaria Flor de Portugal
ResponderExcluirPedro, acho que é a Padaria Santa Marcelina.
ResponderExcluir2. Estadão de 21.04.1916, página 6: Notícias Diversas - Queixas e Reclamações:
"Alguns moradores da villa de Santo Amaro escrevem-nos, queixando-se de que está sendo objecto de descontentamento o modo por que a Light faz o serviço de transporte de mercadorias entre aquella villa e esta capital.
Como se sabe, o ponto terminal da linha de Santo Amaro é no mercado da rua Vinte e Cinco de Março.
O bonde recebe cereaes, porcos, cabritos, gallinhas e por cima de tudo, no mesmo carro, 50 a 60 passageiros, diariamente, em pé,sobre a mercadoria.
"Ora isto, accrescenta o reclamante, é serviço anti-hygienico e chega a causar estranheza que havendo serviço sanitário e uma legião de funccionarios muito bem pagos se permitta aquelle foco rodante, a comprometer a saúde do publico.""
é a Santa Marcelina mesmo. Eu já havia respondido aqui, mas deu chabu e a resposta não foi postada. E devia ser ótimo ter porcos, galinhas e cabritos andando pelo bonde.
ResponderExcluirÉ curioso dizer que o bonde de Santo Amaro tinha seu ponto inicial no mercado. Segundo o livro de Waldemar Stiel, desde a inauguração em 07.07.1913 o bonde saia da praça da Sé. À partir de 14.07.1945 passou a sair da praça João Mendes (a estação está lá até hoje, onde funciona uma floricultura).
ExcluirEle até cita no livro História dos transportes coletivos em São Paulo o decreto 2.399 de 09.07.1913 que autorizou a tração elétrica na linha de Santo Amaro e, em seu artigo 2º "o ponto do centro da cidade, onde a companhia se obrigou a levar seus carros de passageiros, até ulterior deliberação, será o Largo da Sé". Pelo artigo 3º, autorizava a companhia a fazer o despacho e o recebimento de cargas em Vila Mariana, na antiga estação do trenzinho a vapor. O Tramway a vapor continuou operando por mais 3 anos até a chegada dos bondes cargueiros. O missivista do Estadão não fala, mas acho que os bondes com porcos, galinhas e cabritos eram os tais cargueiros. Estes sim é que deviam sair do mercado municipal.
Muito estranho isso, realmente, de sair do mercado. Que mercado? Havia algum na Praça da Sé? Sei não
ResponderExcluirNão. Ele fala do mercado da 25 de março. Ele não disse, mas eu suponho que nesse mercado ficava só o ponto final dos bondes cargueiros de Santo Amaro (que pelo visto não eram só cargueiros mas mistos). Os bondes de passageiros saiam do largo da Sé.
ResponderExcluirÉ o mercado velho, que ficava na 25 de março, isso ele falou. O que ele não disse é que lá devia ficar só o ponto final dos bondes cargueiros de Santo Amaro (que pelo visto não eram cargueiros, mas mistos).
ResponderExcluirGovernos ditadoriais não possuem instituições para frear seus desejos. Logo, fica ainda mais injustificável a não conversão dos tramways para padrão metroviário. Bastava meter um Minhocão ali no eixo Zé Diniz, descer para a 23 de Maio aproveitando o projeto do Prestes Maia, tornar a subir próximo da Rota e seguir em elevado até o Pedra Branca e ao CECAP. O projeto HMD deve ter visto algo no Jabaquara mais importante do que em Santo Amaro...
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