terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O TRANSPORTE EM SÃO PAULO

O ônibus de 1929 e a CPTM de hoje - a imprensa e a população age como se o que rodasse hoje fossem os transportes de 87 anos atrás
Nas últimas semanas, tenho visto diversas acusações aos transportes de São Paulo - a cidade, bem dizendo - como sendo "péssimos", "horríveis", etc.

Três parecem ser os motivos para esses comentários, partindo em reportagens da imprensa falada e escrita e também na chamada "mídia social", que, às vezes, poderia ser chamada de "mídia anti-social".

O primeiro, devido a um fato ocorrido na linha 7 da CPTM (antigo trecho da EFSJ de Jundiaí à Luz) no início deste ano, quando um trem teve de parar por problemas do sistema elétrico e os passageiros forçaram a abertura das portas e, como consequência, em seguida desceram e foram andar pela linha até a primeira estação. Isto tudo aconteceu na região de Perus. Este incidente, claro, bagunçou toda a linha - os trens não podiam voltar a se mover, pois havia gente sobre os trilhos; além disso, o pessoal que queria entrar na estação de Perus foi impedido de fazê-lo por todas as entradas (pois é melhor ter aglomeração na rua do que dentro das plataformas que não foram previstas para uma quantidade tão grande de usuários) e, portanto, encheu todo o espaço exterior da estação, incluindo ruas e calçadas.

Em minha opinião, a CPTM agiu corretamente. Quem errou foram os passageiros que desceram para a linha, forçando as portas. Realmente, é desagradável ficar em ambiente fechado com o trem lotado; porém, o povo não tem o direito de espernear da forma que fez por ter tomado a decisão que tomou.

Boa parte da imprensa passou a chamar os transportes paulistanos de "péssimos", "horríveis" e outros adjetivos nada elogiosos. Isso acaba por convencer os usuários de que é assim mesmo.

Não é.

Imprensa e usuários teimam em se esquecer de como eram esses trens a até quinze anos atrás: sujos, andando com portas abertas, com pingentes para todos os lados e acidentes que não paravam de acontecer.

O segundo motivo - o recentíssimo aumento dos preços do ônibus e trens da CPTM e metrô. O aumento foi um erro descomunal do governo. Os governos estão acostumados a "ano novo, preço novo". Tempos de inflação altíssima e correção monetária idem. Embora a inflação tenha aumentado demais neste ano, não se justifica novo aumento, especialmente  numa situação de crise e desgoverno como estamos. Se o governo não tem dinheiro, o povo tem menos ainda.

Dos trens a imprensa passou para quem, naquele momento, nada tinha a ver com isto: metrô e ônibus. Os ônibus em São Paulo não são nenhuma maravilha, mas, por outro lado, estão longe de ser desastrosos. O metrô é certamente o melhor do Brasil.

Os problemas de metrôs e trens da CPTM (que no fundo são a mesma coisa - trens, mas operados por duas companhias diferentes, ambas do governo estadual) é que o serviço melhora quanto mais linhas haja - e essas linhas demoram no mínimo de três a quatro anos para serem construídas. Aqui, passamos de um problema de operação dos trens para o de administração de linhas existentes e de projetos futuros. Neste último caso, os governos, com suas burocracias, falta constante de verbas e eterna corrupção, não agem nem de longe com a maior eficácia possível.

O último motivo influencia o resto: quem é que sabe comparar o que existe de similar aos nossos trens metropolitanos e metrôs (redundância: é tudo a mesma coisa) com o que existe nos outros estados da Federação e com o que existe no resto do mundo? Bem pouca gente. E confesso que eu não sou o ideal para isto (porque viajo pouco, muito menos do que gostaria), mas também acho que em termos de conhecimento da área de ferrovias em geral, acabo podendo comparar melhor do que a média neste país.

O que ganhamos com o Sr. Datena, apresentador do programa Brasil Urgente nas tardes de São Paulo (do qual discordo nesse caso, mas concordo em muitos outros), xingando os transportes paulistanos como fez nos últimos dias? Estes podem ser piores do que no resto do mundo (não são, exceto com os países mais ricos), mas são os melhores do Brasil. Podiam ser melhor? Podiam. É tudo uma questão de dinheiro e educação - coisa que está faltando por aqui. Mas como São Paulo é o estado mais rico da federação, é também o menos pobre na atual situação de marasmo e incompetência em que vive a pátria amada (nem tanto), idolatrada (muito menos), salve, salve (salve-se quem puder!).

2 comentários:

  1. O problema não é que o transporte é ruim. A maioria dos serviços ferroviários ganharam atualização, só restando poucas composições antigas e de péssimo conforto.

    O problema é que o transporte é subdimensionado para a região metropolitana.

    Esse subdimensionamento resulta na superlotação, que resulta no desconforto dos passageiros. O mal aqui é a falta de um lado (linhas de conexão, trens), que resulta no excesso de outro (superlotação).

    Há um detalhe extra: quando se fala em subdimensionamento, também se fala em questões de uso do espaço. O sistema ferroviário ainda funciona como "pêndulo" de transporte, levando de manhã as massas de trabalhadores da periferia para os centros, e no final da tarde, levando estes de volta para suas residências em periferias. Soma-se também estudantes e pessoas que veem no trem uma forma de locomoção rápida.

    Talvez o "ruim" aqui se refere a falta de mais linhas, do que a qualidade das linhas atuais (tirando a superlotação, esta que também contribuí para a má fama).

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  2. Como morador de Francisco Morato e usuário dos trens da CPTM tenho que discordar do senhor Ralph Mennucci.É bem verdade que os trens e a operação eram piores alguns anos atrás.Porém,o número recorde de ocorrências de falhas denota má administração em especial da linha 7 Rubi.Por ser a linha mais antiga ,sinuosa e que enfrenta grandes desníveis no seu percurso é algo que pode ser esperado e portanto,passível de intervenções.O fato de se interromper os serviços durante os Domingos para manutenções sem os resultados esperados,a eterna reforma de algumas estações(5 anos em Francisco Morato e NADA foi feito),os trens reformados dos anos 50 que já não dão conta do serviço pesado vem irritando constantemente os usuários de forma preocupante.Qualquer falha que aconteça é seguida de ações lentas que colocam em risco a segurança dos usuários,como pode ser observado ontem na estação Vila Clarisse,que ficou superlotada com a parada de um trem.Não se vê mais em operação a locomotiva que ficava parada na estação Jaraguá que rebocava trens avariados neste trecho.Isso é algo que antigamente funcionava e que poderia ser feito para amenizar o sofrimento dos usuários quando a falha ocorrer. As linhas da zona Leste e da Sorocabana já foram muito piores e hoje funcionam relativamente bem. Chegou agora a vez da linha 7 ser recuperada. Merecemos respeito.Merecemos um serviço decente.Estamos longe disso.

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