domingo, 19 de julho de 2015

BRASIL E SEU IMENSO PATRIMÔNIO ABANDONADO

Fotos Renan - Facebook, página RMV - Rede Mineira de Viação: link

São mostrados abaixo alguns exemplos bem recentes de patrimônios históricos brasileiros não conservados. Em alguns casos, como o de Três Corações (acima), trata-se de abandono de uma ferrovia que, até cerca de oito anos atrás, funcionava precariamente, mas funcionava, e além disso, era utilizada muito menos do que deveria e do que era nos tempos de RFFSA - no caso, até 1997.

Todo esse patrimônio, em diferentes cidades do país, são certamente apenas alguns dos casos em que o que existe é muito mal aproveitado. Em alguns casos, nem haveria necessidade de uma restauração e, outros, nem de demolição.

Listo abaixo outros, dou minha opinião e os leitores concordarão ou não. Coloco links em todos para que se possa ter mais detalhes. O único problema é que alguns desses links podem não levar todos os leitores a uma publicação, principalmente os que são do facebook.

Eu realmente me desespero quando vejo o que nós, brasileiros, temos como potencial em nossas mãos e que, por desprezo, ignorância ou até falta de verba, não fazemos.

Deixamos apodrecer nosso passado e nosso futuro.

PONTA GROSSA, PR
Tratam-se de gravuras rupestres no município, em sítio arqueológico em formação rochosa próxima a Vila Velha, este sim um ponto turístico visitado constantemente. Muitas das gravuras, como as mostradas na fotografia, estão arruinadas por entalhes na pedra feitos por vândalos e imbecis que as visitam.

ITUPEVA, SP
Esta tulha de café do século XIX em uma antiga fazenda em Itupeva está para ser demolida (talvez até já o tenha sido). Ela está dentro de uma área particular em que será construído um loteamento de casas. O que algumas pessoas se perguntam (algumas, porque a maioria não liga a mínima) é: porque o loteador e construtor não a mantiveram ali, dentro do loteamento? Não acredito que se perca mais do que pouquíssimos lotes potenciais para serem vendidos. O investimento na restauração dos prédios seria feito em prol do condomínio e poderia ser utilizado como sala de estar ou salão de festas ou de jogos, valorizando o loteamento. Link

JUNDIAÍ, SP
Esta é a locomotiva número 1 da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, a mais bem sucedida estrada de ferro em terras brasileiras. Trafegou no século XIX e XX em terras paulistas. Está há anos abandonada nos depósitos que um dia foram dessa empresa e que ainda estão de pé (mais ou menos, com se pode ver pela fotografia) em Jundiaí. O complexo todo é lindo e muito maior do que esta foto mostra. Está tudo abandonado há pelo menos quinze anos e pertence à Prefeitura.

Já vi essa área toda muito melhor do que isso e já depois da desativação em 1998. Ora, a Prefeitura comprou aquilo; por que não cuida e nem dá uma decisão sobre o que quer fazer, bem clara? Se não quer cuidar das locomotivas (nota: as locomotivas ficaram ali, mas são de propriedade do Governo Federal), porque não cedem para quem as quer? Que se as leiloem ou mesmo se as dêem para uma ABPF, por exemplo. É simples. Porém, as prefeituras morrem de medo de ceder este material, porque, talvez, no futuro, possam ter uso eleitoral... desde que não o prédio não caia antes ou, no caso das locomotivas, virem ferrugem e se pulverizem.


Basicamente, é isto que se discute. A incompetência de nossos governos, sempre empurrando com a barriga, prometendo mundos e fundos e não cumprindo nada e, ainda por cima, agindo como se isso não fosse um problema. Seria melhor dar para um shopping... desde que ele mantivesse os prédios e, talvez, até cuidasse de (algumas) locomotivas que lá estão. Link

GUATAPARÁ, SP
Em Guatapará, município paulista desmembrado há cerca de 20 anos do de Ribeirão Preto, era a sede da fazenda do mesmo nome que, no início do século XX, pertencia à família Prado. Foi vendida depois e atualmente serve como plantação de cana, basicamente. Praticamente todas as construções, inclusive a bela casa-sede, foi demolida. Algumas ruínas de depósitos e até de um cinema da colônia rural ainda sobrevivem em meio ao matagal. Ficam próximos à antiga estação ferroviária de Vila Albertina e, com exceção da ponte ferroviária sobre o rio Mogi-Guaçu que aparece no canto superior direito destas fotos (de Marcelo Thomas), estão muito próximas umas das outras.

Evidentemente, o visionário aqui pensa que isso poderia ser transformado pelo proprietário em um parque, mantendo as ruínas (sem restauro, mas protegidas) em seu interior. Sem tombamentos, sem nada. Apenas por idealismo e como, talvez, fonte de algum rendimento.

Evidentemente, seus donos não pensam assim. Ah, se fosse na Europa ou nos Estados Unidos...

PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA, PI
Este parque, que existe, mas que, na prática, tem verbas federais insuficientes para a sua manutenção, está cada vez mais abandonado, no distante Piauí. A equipe de Niède Guidon, de 82 anos, que preside a fundação, contava com 270 funcionários. Hoje, são 50. Segundo a arqueóloga, a demissão dos empregados remanescentes implicaria no pagamento de indenizações. Para isso, seria necessário encerrar as atividades até dezembro. Conheci Niéde há mais de vinte anos, durante uma viagem de avião dos Estados Unidos para o Brasil. Ela já lutava pelo parque. Link

Querem mais? Não é difícil encontrar fatos como este na Internet... ou até perto de suas casas. Sempre lembrando que povo sem história não constitui uma verdadeira nação.

3 comentários:

  1. Fala-se em descaso e em restaurações como se fosse um processo rápido e barato, mas não é. A referida TULHA em Itupeva está agora em processo de negociação e mesmo mediante o eminente risco de desabamento, foi mantida dentro do loteamento e seu proprietário lutou por 4 gestões com o município nunca recebendo um único olhar para a possibilidade de tombamento, muito menos para restauração. Uma edificação desse porte pode levar até dez anos para ser concluída e o custo é altíssimo, mesmo para os cofres públicos. As máquinas de beneficiamento de grãos foram doadas para a municipalidade e um estudo mais minucioso, alem de negociações de troca dos lotes dentro do empreendimento para manter inclusive os terreiros de café estão sendo feitas, mas somente agora, depois de 25 anos de luta de seus proprietários que buscavam parcerias e socorro, sem nada conseguir. Vamos dar mais um tempinho, pois estamos buscando solução para o salvamento da Tulha da Fazenda Inhandjara.

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  2. A postagem é antiga, mas eu gostaria de comentar. O atual Complexo Fepasa de Jundiaí hoje abriga a FATEC, o Poupatempo e alguns outros órgãos do município, além do Museu da Cia Paulista. De fato tem sido utilizado pela população, mas não completamente, onde está atualmente fora os locais que estão sendo utilizados, temos a antiga estação de trem de viagens longas, principalmente a parte administrativa no Complexo que está abandada, o local é de beleza absurda, mas temos entulho para todos os lados, janelas, assoalhos quebrados, alguns móveis, e queria salientar a pintura em uma das paredes com um mapa do estado com as ferrovias, magnifico! Porém só é abrigo de morcegos, pombos e urubus, detalhe que faz parte do patrimônio histórico e está largado e impossibilitado a visita. Quanto aos trens, os passaram para um deposito no próprio complexo, mas continuam largados, fiquei chocada com o vagão de viagem ainda com colchões e pia, fora as cristaleiras que estão lá nesse mesmo deposito começando a serem cobertas pelo mato. Incrível como um lugar cheio de beleza e história possa ser tratado com tanto descaso, e creio que a população não tenha ideia dessa parte que o Complexo abriga, pois está escondido com tapumes e barras e não há vestígios ou escritos do que é ali.

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