quinta-feira, 11 de junho de 2015

PISTOIA

Uma rua de Pistoia, hoje - foto Ana Maria Giesbrecht
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Apesar do fato de ter estudado com muito interesse a história da Europa por muitos anos de minha vida, eu somente estive no Velho Continente três vezes em minha vida, cada uma por cerca de apenas quinze dias. Aliás, a terceira vez é esta, e estou no terceiro dia apenas.

Estou em Pistoia, na Toscana, Itália. Vim com minha esposa (que chegou aqui três semanas antes) para conhecer meu segundo neto, Massimo Pietro, o primeiro filho de minha querida filha Verônica, que aqui vive há quase três anos.

Começo a conhecer a cidade de 120 mil habitantes. Pelas minhas primeiras impressões, é uma cidade antiga — e nem tão antiga, se considerarmos que aqui é a Europa e não o Brasil, uma cidade na qual prédios de apartamentos de seis andares (incluindo o térreo) são raros e com mais andares são moscas brancas (vi um hoje, bem ao longe, quando andava de ônibus, que parecia ter uns oito).

Estive hoje no centro histórico, a Piazza Duomo, local muito simpático, assim com as ruas em volta.
O que mais existe aqui são prédios amarelos, alguns mais claros, outros mais escuros em termos de tonalidade. Difícil estimar a idade deles, pois há muitas reformas e eu estou muito longe de conhecer a arquitetura italiana para saber, com sei em São Paulo, em que década tal prédio foi construído - e aqui se fala não realmente de décadas, mas de séculos.

Fiquei imaginando o Jason Bourne ou o James Bond (é coincidência os dois terem nomes com as iniciais JB?) correndo e perseguindo bandidos sobre os telhados das construções de Pistoia (muitos dirão que elas nada têm a ver com as construções em que eles fizeram isso em alguns filmes, mas não interessa - eu pensei nisso e acabou-se). E também em soldados da Wehrmacht se espremendo pelas estreitas ruas da cidade intramuros atirando ou recebendo tiros dos exércitos americano, inglês e brasileiro (houve batalhas em Pistoia? Eu não fui verificar).

Vi a rua Cavour, de comércio chic no centro histórico e pensei na rua Barão de Itapetininga por causa da harmonia em suas construções, embora provavelmente mais por causa dos postes de iluminação colocados no centro da rua - embora (outra vez!) os postes de uma rua e de outra sejam completamente diferentes. Este escritor é uma piada, mesmo.

Há bicas por toda a cidade velha, algumas esbranquiçadas por causa do acúmulo de calcário causado pela água dura que existe aqui. E embora sejam históricas e a cidade tenha água encanada, as bicas ainda funcionam para quem quer usar.

As construções geralmente têm mais de um andar (dois a três), são caixotes, mas caixotes antigos, quase sempre amarelas, como já disse, com portas duplas de madeira maciça, algumas realmente antigas e outras imitando as antigas, e as janelas em geral são sempre novas e retangulares, com persianas sempre verdes; em alguns prédios pode-se ver arcos e até colunas descascadas de baixo da massa que as cobriu em alguma época - mostrando que as janelas eram originalmente em arco.

As ruas dentro do muro antigo - que ainda sobrevive em quase toda a volta, com pequenos pedaços derrubados - são tortuosas e estreitas. Algumas muito estreitas.

O grande legado, no entanto, é que a cidade não tem uma muralha de edifícios altíssimos, de 20, 30 e 40 andares ou mais, que hoje proliferam em diversas cidades do Brasil, especialmente as maiores e especialmente em São Paulo. É um alívio que consigamos ver o céu bem perto de nós, mesmo nos corredores de ruas entre construções de 3 a 4 andares.

E não pude de deixar de me lembrar de uma reportagem que vi num jornal de TV, em São Paulo, há cerca de um mês e que mostrava o quão idiotas o povo brasileiro e alguns jornalistas estão se tornando. Nela, moradores de uma rua (se não me engano, na zona norte da cidade de São Paulo, mas a região nem interessa tanto), reclamando de que a calçada de tal rua era estreita, que não dava para as pessoas passarem por que havia postes, que a calçada era estreita até para o cadeirante que morava numa das casas, que el somente pode passar no meio da rua pois pela calçada não dá, etc.. Reclamam, reclamam, reclamam.

Citavam os repórteres que a legislação da cidade prevê que há um tamanho mínimo para as calçadas e que lá não foi seguido, que isto é um absurdo, culpa da prefeitura, blá blá e blá blá, sem notarem que nos bairros em que isso acontece, ou as ruas foram loteadas antes de tal legislação, ou surgiram de loteamentos clandestinos onde os moradores construíam de forma a colocar as frentes e os muros próximos a uma rua então sem pavimento e sem calçadas, que foram colocadas depois...

E que agora as únicas soluções são absurdas: ou se aumentam as calçadas diminuindo o leito carroçável da rua a uma largura de forma a que carros não passem, prejudicando quem os guarda em garagens, ou então que botem abaixo as casas e jardins - muitas casas estão à beira da calçada - para se fazerem as calçadas da forma certa.

Ninguém vai fazer isto, claro. Mas as reclamações somente cessarão se um dia a Prefeitura mandar tratores e escavadeiras para lá para fazer valer a lei — o que não fará.

O que tem isso a ver com Pistoia? Tem, que, nesta cidade, a grande maioria das ruas tem calçadas estreitíssimas, algumas vezes nem as tem pois são estreitas demais e ninguém reclama - afinal, a situação ;e assim há centenas de anos. A área nova da cidade, extra-muros, tem calçadas e ruas mais largas. O que passou, passou. Quem mora no centro da cidade velha e não tem o espaço, que se mude ou não reclame.

O Brasil, depois de mais de quinhentos anos, ainda tem muito a aprender com cidades como Pistoia ou com a velha Europa em si.

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