segunda-feira, 22 de junho de 2015

AS DESGRAÇAS DO BRASIL E DA ITALIA DE HOJE

Estação de Serravalle Pistoiese, na provincia de Pistoia, IT - sofrendo de males brasileiros (Foto do autor em 20/6)
Como estou fora do país (ainda), abro o Facebook (e abro o UOL também) e vejo no primeiro um post de amigos transcrevendo uma notícia: o prefeito de São Roque, SP, quer de volta por meios judiciais para a Prefeitura o valor dispendido pelo prefeito anterior para comprar uma locomotiva a vapor para transformar em trem turístico - o que nunca fez e que, com isto, acabou indo parar na garagem de trens da estação ferroviária do município vizinho (Mairinque).

O prefeito pode estar até correto - mas, por outro lado, conhecendo os prefeitos brasileiros, no duro, no duro mesmo, ele está pouco se importando com o trem e com o dinheiro. O que ele quer mesmo é encher o saco do prefeito anterior, que deve hoje ser um de seus desafetos, fato muito comum entre políticos da nossa Pátria amada, idolatrada, salve, salve.

Mais uma vez, vou dizer que trens turísticos não devem jamais ser financiados com dinheiro público. Deve-se utilizar este dinheiro para conseguir trens de passageiros para a população e não para brincar de trenzinho.

Agora, ele, preocupado com o trem turistico que o prefeito anterior anunciou e não fez, tendo gasto dinheiro que foi literalmente jogado no lixo, ele deveria estar era preocupado com o fato de que, vinte anos depois, o trem metropolitano que atendia os municípios de Mairinque e de São Roque ainda não foi ativado novamente (ele é a continuação da linha 8 da CPTM, que chega até Amador Bueno, pequeno bairro de Itapevi na divisa deste com o município de São Roque), deixando estações de locais com populações bem maiores do que a do bairro de Amador Bueno, como São João Novo, Mailaski, São Roque e Mairinque, sem o trem que tanta falta lhez faz.

Afinal, a estrada de rodagem que liga São Roque e estes outros locais é péssima, cheia de lombadas e com ônibus que chacoalham mais do que nunca e que têm de passar pelo centro das cidades, atrasando todo mundo que tem de chegar a São Paulo, Osasco e Barueri.

Até hoje, não há quem convença a CPTM a trazer seus bons serviços e seus trens de volta a esta região, mesmo tendo a infraestrutura pronta - leito e trilhos, pois a eletrificação, que teoricamente segue até Mairinque, já tece seus fios roubados há muito tempo. Quanto aos trilhos, já há um ano estão debaixo de mato, pois a ALL, que se utilizava da linha para carregamentos de areia, abandonou o transporte.

Enfim, o que realmente, interessa, não importa para os míopes prefeitos que cada vez mais teimam em nos governar (talvez por falta de escolha para o povo, mesmo).

Seria este um dos poucos absurdos com que temos de conviver?

Não: a situação do país é péssima, mesmo. Tanto é que o presidente da Mercedes-Benz alemã declarou perguntou à imprensa que "quem é louco de trazer investimentos para o Brasil, hoje em dia?" Ele mesmo acaba de demitir 500 funcionários da empresa. Como ele não fechou a fábrica - ainda - ele está entre os loucos, mas ainda parece ter um resto de esperança. Ou a decisão não é dele e sim dos chefes na Alemanha. Minha opinião sobre a frase que ele disse? Concordo plenamente. Infelizmente concordo.

Finalmente, eu, que estou em meus últimos dias de viagem aqui a Pistoia, Itália, ontem presenciei um fato "brasileiro" aqui - e lamentável.

Vivemos a reclamar que o trem (e os transportes coletivos, em geral) são relevados a segundo plano no Brasil. Parece, no entanto, que as aves que aqui (na Itália) gorjeiam passam a gorjear como lá (Brasil)... o prefeito do distrito (comuna) de Serravalle Pistoiese, aqui ao lado de Pistoia, quer desativar a estação de trem do distrito (estação que também é chamada de Stagione Masotti).

A estação é utilizada pelos trens paradores que ligam Firenze a Viareggio, passando por Pistoia, Lucca e outros distritos e facilita a vida dos passageiros da montanhosa região que se dirigem às cidades maiores. E a população do distrito entrou em greve tentando impedir o fechamento. Já vimos isto no Brasil mais de mil vezes antes - quase sempre sem reação do povo, que, depois, segue reclamando.

Aqui, parece que a crise italiana, iniciada em 2008, chegou à cidadezinha de Serravalle Pistoiese. E quem fecha a estação aqui é o prefeito e não a estatal TrenItalia. De acordo com o que meu genro me explicou, a TrenItalia cede uma quantidade de dinheiro por ano para as cidades por onde ela passa manterem a linha e a estação - os serviços, enfim.

É porisso que a decisão é do prefeito - como ele não pode fechar a linha que passa por outras cidades também, ele desativa a estação, prejudicando os munícipes e forçando-os a usar ônibus, que, com as curvas existentes por aqui, tomam mais tempo para fazer os caminhos do que os trens.

É o mau exemplo brasileiro chegando à Italia. Será que o prefeito descende de brasileiros? Recebeu a visita de algum funcionário da FEPASA, seu amigo? Que tristeza. Parafraseando uma frase que uso muito em minhas postagens: "Tristeza, bem italiana".

Agradeó aos amigos do Facebook pela comunicação e comentário do fato de São Roque, e a Alberto Menchi pela exposição do problema de Serravalle Pistoiese.

Um comentário:

  1. Não tem jeito: parece que tudo o que querem é que veículos automotores, que pelo menos no Brasil geram grande receita aos "nossos" cofres, exerçam supremacia em transportes, óbvio , não de massa, pois como já comecei com alguém, passagens de tem não geram grande receita! Por estas e outras somos cada vez mais individualistas e estamos cada vez mais distantes do que um dia significou o termo sociedade.

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