sábado, 5 de abril de 2014

OS TRILHOS DO MAL (XVI) - A HORA E A VEZ DE CATANDUVA, SP

Catanduva, 1955: chegada da bitola larga de 1,60 (acervo Alberto del Bianco)

Era uma bela ferrovia, a E. F. Araraquara. Ainda mais depois da mudança para a bitola larga, em 1955 até São José do Rio Preto. Em 1962 chegou com o alargamento a Presidente Vargas, nas barrancas do rio Paraná. Uma fotografia de Catanduva, mostrando a festa do dia de inauguração da nova bitole, em setembro de 1955, é famosa entre quem gosta do assunto. As bitolas foram mudadas em uma madrugada no trecho até essa estação. Com empenho e entusiasmo, sem ecochatos discutindo se havia algum índio a cinquenta metros da linha, era possível.

Cinquenta e nove anos depois, a cidade não quer mais os trilhos. E os trens, embora cargueiros, ainda passam por lá, no mesmo local em que passava em 1910 na então Villa Adolfo.

Medo da ALL descarrilar? Pode ser, mas é mais provável que seja apenas uma desculpa e que Catanduva tenha adquirido a "síndrome dos trilhos do mal", que atinge hoje diversas cidades no Brasil, até algumas que os têm como trens metropolitanos de alto nível (remember Mogi das Cruzes há alguns anos).

Catanduva já tinha autorização do DNIT desde 2012 e agora lançou concorrência para arrancá-los (nem para deixar para trem metropolitano ou VLT, caro desmiolado prefeito?). Com isso, será construído um desvio de 16,5 km por fora da cidade, partindo da estação de Catiguá, passando ao lado de uma usina de açúcar e dezembocando na linha "velha" já em Pindorama.
Catanduva, pátio e linha em 1934

Está faltando um procurador do Ministério Público culto e peitudo como aconteceu em Ribeirão Preto há três anos atrás, impedindo tal absurdo, com o argumento (aqui, bem resumido) de que para gastar tal soma de dinheiro, haver-se-ia primeiro de apresentar um plano sobre o que ir-se-ia fazer com o leito da ferrovia? Avenida? Deixar favelizar, largando ao léu? Fazer pista para bicicletas? Deixá-los para fazer um Veículo Leve sobre Trilhos, que alguns prefeitos com cérebro estão fazendo (poucos) hoje?

Ir na contramão da história, colocando mais vias para carros poluentes e fechadores de tráfego em vez de ter um bonde elétrico não-poluente em termos de ar e de ruído atendendo o deslocamento da população? O que há com os políticos deste país que acham que o Brasil é diferente do resto do mundo? Que nós não estamos na Terra, ou que estamos numa dimensão paralela? Numa "Terra-2", como diria o Clark Kent, vulgo Superman?

Ou será que eles próprios é que se acham o Superman e podem fazer burrices e besteiras à sua inteira vontade? Acorda, Catanduva! Acorda, Ministério Público! Acorda, Brasil! Sem ou com VLT, duvido que Catanduva tenha qualquer plano que seja.

A sorte é que no Brasil, hoje em dia, esses desvios levam tanto tempo para serem construídos que até lá pode ser que um raio atinja o prefeito e a Câmara de forma a fazê-los pensar antes de retirar os trilhos, que, afinal de contas, têm de ficar lá até o dia da entrega da "grande obra que será a variante que livrará a fantástica cidade de Catanduva de tidos os seus males".

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