A expressão que dá título a este artigo era a manchete de muitas notícias nos anos 1950 e 1960. Sempre igual ou com algumas variações, mudavam apenas mesmo os nomes dos ramais. No princípio dos anos 1960, quando os ramais começaram a ter anunciados os seus términos de operação, era comuníssimo ler-se isto em jornais como a Folha e o Estado, aqui em São Paulo. Porém, nos outros Estados acontecia a mesma coisa. Foi nessa época, realmente, o momento do Armagedon ferroviário.
As desculpas eram sempre as mesmas: eram "anti-econômicos", ou seja, deficitário. E, realmente e infelizmente, deveriam ser mesmo. Porém, ninguém falava no que seria o mais óbvio: o investimento e a recuperação de alguns deles, com novas linhas e maquinário mais moderno.
Às vezes a politicagem local conseguia prolongar a vida de alguns deles. Mas, no fim, demorando mais ou menos tempo, todos se iam. Já escrevi várias vezes sobre este assunto neste blog.
Mapa do Arquivo Publico Mineiro (1939). Notar a linha da Mogiana entre Mococa e Canoas.
O interessante é que alguns ramais, mesmo nessa época, quando o sumiço de uma linha ainda incomodava bastante os usuários, não tinham seu fim anunciado, nem antes nem depois. Um caso típico foi o ramal da Água Vermelha, da Paulista, em São Carlos. Foi ele o primeiro ramal da era estatal da Paulista a ser erradicado, isto em fevereiro de 1962, e não se encontra uma linha sobre isso em jornal algum - nem nos da própria cidade de São Carlos, onde ele era praticamente um trem de subúrbios na época.
Eu em minhas pesquisas sempre procuro saber o antes e o depois da suspensão de atividades de qualquer linha ferroviária. Uma delas, que também já postei aqui, foi a da erradicação de um pequeno trecho final de um ramal: o trecho Mococa-Canoas, no ramal de Mococa da Mogiana, que ocorreu no finalzinho de 1960. Ele foi anunciado nos jornais, sim. Era um trecho de cerca de sete quilômetros apenas. Nessa distância, a linha descia quase 70 metros até o vale do rio Canoas, que divide o Estado de São Paulo do de Minas. A intenção, realmente, quando foi construído em 1891, era seguir adiante. O município do outro lado da divisa é Arceburgo.
O bairro rural de Canoas é pequeno e pouco povoado até hoje. A estação terminal virou um estábulo, mas está de pé. É construída no padrão típico da Mogiana do final do século XIX e início do XX. Porém, a minha grande curiosidade era saber o que havia em Canoas nessa época, enfim, o passado do bairro, para pararem um ramal ali, mesmo com a possibilidade de prosseguir com a linha.
Google Maps - 2013. Vejam que nem aparece o nome "Canoas", junto à divisa mineira.
Se a linha seguisse acompanhando o vale do rio Canoas até perto da nascente, poderia alcançar a cidade de Guaranésia, onde vinte anos mais tarde foi construída uma linha da Mogiana que ligava Guaxupé a São Sebastião do Paraíso e Passos. Se seguisse para leste, acomapnhando a divisa de Estados, chegaria ao ramal de Guaxupé, perto da estação de Moraes Salles, ainda em território paulista e perto do bairro rural de Igaraí.
Tentei obter alguma informação de Canoas. Tento há anos. Nunca consegui nada. Internet, livros, nada. Parece que é um lugar fadado a ser o que sempre foi: nada - ou quase nada. A estrada que liga Mococa a Canoas é parte asfaltada. Perto de Canoas, acaba o asfalto. Para seguir para Arceburgo por uma ponte bem simpática (já postei foto dela por aqui), é terrão mesmo e a área urbana de Arceburgo não é próxima.
Conta um amigo meu, o Benê, que nasceu em Arceburgo, que depois que veio morar em São Paulo com os pais tomava o trem para Casa Branca, mas raramente baldeava para Mococa e Canoas para seguir para Arceburgo. Era mais fácil descer em Casa Branca e tomar uma jardineira direta para Arceburgo, que a estrada era mais curta e melhor.
Estes dias mandaram-me um mapa daqueles antigos, bem feitos, no caso de 1939, que mostrava a linha entre Mococa e Canoas. Reparem que a estação de Mococa ficava fora da cidade. Ainda fica, de certa forma, o limite da área urbana é bem próximo a ela, que hoje serve como depósito da Prefeitura. Pus como comparação e em escala próxima o mapa atual do Google. Neste último mapa, a linha do ramal de Mococa não existe, claro, foi arrancada há mais de quarenta anos.
E eu continuo sem nada saber sobre Canoas, embora já tenha estado lá por duas vezes nos últimos treze anos.
E que Deus salve o Brasil.
Olá! Quero agradecer pela riqueza das informações no site http://www.estacoesferroviarias.com.br. Eu trabalho com documentação histórica no Instituto Butantan, SP e utilizo diariamente o site para conferir as localidades de animais coletados entre as décadas de 40 e 50. Sempre que faço uma consulta, não consigo deixar de ler toda a história da estação. Parabéns pelo belíssimo trabalho!
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