domingo, 7 de novembro de 2010

NOS LIMITES DA METRÓPOLE

Rio Icavetá, sentido foz, fotografado da estrada da Capela Velha (Ralph M. Giesbrecht, 7/11/1910)

Hoje estive nos confins da Grande São Paulo. Ou melhor, em um dos seus confins, visto que o perímetro dele é realmente enorme. Não sei quanto daria em quilômetros, mas... talvez uns 300 quilômetors ou mais. Os confins a que me refiro estão aqui perto de casa: mais precisamente, num junto à divisa tripla entre Santana de Parnaíba, Itapevi e Araçariguama.

Essa divisa remonta ao início do século XIX, quando São Roque separou-se de Parnaíba (1842). Depois, Araçariguama separou-se de São Roque e ficou com essa divisa. Já a divisa Cotia-Parnaíba (hoje, ali é Itapevi-Parnaíba) é mais antiga: ambas eram parte de São Paulo, Capital, até 1625, quando Parnaíba se separou, e de 1856, quando Cotia desmembrou-se também da Capital. Em 1842, portanto, formou-se essa divisa tripla, junto à estrada real de Ytu, que, ali, fica no ponto mais alto, no divisor de águas entre as bacias do rio Tietê e do rio Cotia.

Para chegar ali, eu não fui pela rodovia Castelo Branco, mas pela estrada da Bela Vista, que liga Alphaville ao centro histórico de Santana de Parnaíba; em seguida, tomei a antiga estrada de Araçariguama (que hoje tem nomes como rua Anhembi, estrada do Suru e estrada da Capela Velha) e fui até a rodovia Castelo Branco.


Antes de chegar a ela, noto que a estrada está toda asfaltada; há um ano atrás, não estava. Cerca de um quilômetro antes da Castelo, cruzo um pequeno povoado com algumas casinhas antigas: é o Icavetá, cruzado por um córrego - que tem o mesmo nome - que deságua no Tietê, perto da barragem de Pirapora. Ainda se vê o riozinho, que passa sob uma ponte (foto acima) com corrimãos de metal pintados de amarelo. Aparentemente, o rio barrento não cruza a estrada por aqueles imensos canos de concreto. Não se vê o nome - nem do bairro, nem do rio. Sei que ali ainda é Parnaíba.

Entrei na Castelo, atravessei-a no km 44 e fui no sentido da antiga estrada real de Itu. Lá, chegando, a velha placa azul de metal diz: avenida Manuel Candido de Paula. Em qual município estamos? Ao cruzar a Castelo, em Itapevi. Ao chegar na velha estradinha, pode ser ele ou Araçariguama. Não há placas que digam isso. Se for Itapevi, estamos ainda na região metropolitana. Já se for Araçariguama, estamos no interior. Mas olhando em volta, não há diferença alguma.


Segui à esquerda, sentido Cururuquara (um bairro dividido entre Parnaíba e Itapevi, mais no primeiro) e entrei na primeira estrada à direita. Ah, esqueci de dizer que o asfalto havia acabado logo depois que cruzei a Castelo. Na esquina, duas placas antigas com uma propaganda apagada de uma imobiliária no topo do pau, indicam que a Estrada do Paiol sai à direita, descendo o morro. Embaixo do nome , entre parênteses, "São João Novo". Por que isso? Por que ela leva a essa localidade ou porque está nesse distrito (que fica em São Roque, mas São Roque não chega ali).



Desço a estrada e meço cerca de dez quilômetros no hodômetro (com h ou sem?). Passo por matas, por morros, por pequenos sítios e chego na frente da estação ferroviária de São João Novo, onde começa de novo o asfalto. Na foto acima (de 2007, tomada por Ricardo Koracsony), cheguei pelo outro lado do prédio, vindo da esquerda. O trem da CPTM para uma estação antes, em Amador Bueno; desde 2000, ele não segue mais até Mairinque. A estação, de madeira (uma raridade) é hoje um velório: várias pessoas estavam sentadas em seus bancos do lado de fora das salas. Aqui, estamos em São Roque. Onde foi a divisa? Não tenho a menor ideia. Atavesso o pequeno bairro e chego à rodovia que liga Itapevi a São Roque. Sigo pelo asfalto e volto para casa.

Em zona rural, alguém só sabe em que município está quando um fiscal municipal aparece para cobrar impostos.

2 comentários:

  1. Isso se não aparecerem dois fiscais. Se fosse naquela ilhazinha entre a Costa Rica e a Nicarágua...

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  2. Caro colega, estava realizando uma pesquisa quando me deparei com a sua foto das placas na bifurcação.
    vou explicar um pouco, ali naquela parte você estava em Araçariguama, se tivesse pego a estrada à esquerda, teria chegado em Itapevi pelo bairro Maravilha (uma informação importante, Araçariguama não chega a fazer real divisa com Itapevi, há uma faixa de encontro de mais ou menos 2km que liga Santana com São Roque separando Araça de Itapevi, mas como você disse, não há placas, apenas mapas e cobrança de IPTU), nessa época era fácil de saber que era Araça pois os postes do município eram pintados de verde, como esse ai da foto! por mais que não se tivesse acesso à ônibus ou saneamento básico, pelo menos você poderia ter um lindo poste verde na frente da sua casa.
    Enfim, na verdade, morei nesse bairro da foto, um pouco mais pra frente e escondido, por 17 anos. Ali na foto ainda passa ônibus fazendo Rally em tempo de chuva. Para eu chegar nesse Onibus eu tinha que andar cerca de 3km. Ainda bem que tinhamos carro, apesar de na época da chuva ter que deixá-lo em algum ponto da estrada atolado e subir à pé.
    A minha chácara fazia divisa com Santana, sendo que na verdade, quando minha família chegou ali e meu vizinho de Santana também começou a construir, perceberam que entre os dois municípios havia uma faixa de uns 5 metros que não pertencia a nenhuma das cidades. Em relação aos impostos, bom isso é bem interessante, pois recebíamos nossa conta de telefone por Santana, a de Luz por Itapevi, nossa água era de poço artesiano e nosso IPTU era de Araçariguama.
    Depois que entrou o prefeito das coisas verdes que eu realmente me senti uma cidadã Araçariguamense, afinal, agora eu tinha um poste verde em frente à minha casa para ter certeza do meu município (ironia tá?).
    Enfim, eu posso dizer que houve uma época em que estive em 3 lugares ao mesmo tempo e, se eu chegasse próximo à minha cerca, eu não estava em nenhum lugar! Superei as leis da física! Hahahaha.

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