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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

AS VIÚVAS DA LEOPOLDINA

 O trem chega de Paraíba do Sul e passa pelo centro das ruas de Além Paraíba

Nesta manhã de domingo eu percorri a estrada que liga as cidades de Volta Grande e de Recreio, estrada de terra de cerca de 40 quilômetros que acompanha a antiga Linha do Centro da E. F. Leopoldina, no sul de Minas e próximo à divisa do estado com o Rio de Janeiro.

A linha ainda é utilizada hoje, entre Barão de Camargos (pátio e estação seguinte à estação e cidade de Cataguazes) e Além Paraíba e dali seguindo até a estação de Barão de Angra, seguindo a partir de Três Rios em linha de bitola mista. Em Barão de Angra, ao lado do km 179 da BR-393, rodovia que liga Além Paraíba a Volta Redonda e que, na prática, é a estensão da BR-116 entre essas duas cidades. Por toda a sua extensão, acompanha, de perto ou pouco mais de longe, o rio Paraíba do Sul.
A estação de Trimonte, abandonada
 
A linha somente transporta bauxita, minério de alumínio que literalmente parece terra comum e que, extraído em Barão de Camargos, segue pela antiga linha da Leopoldina - praticamente a única linha ainda ativa da velha e saudosa ferrovia em meio a uma antiga e extensa rede, até Três Rios, onde junta-se por linha de bitola mista à antiga linha do Centro da também finada Central do Brasil, que sempre teve ali bitola larga. Seguindo dali até a cidade de Paraíba do Sul, passa pelo centro desta cidade e segue até Barão de Angra, onde a bitola mista termina. Aí, há um maquinário que transfere a carga dos vagões de bitola métrica para os da larga, para transporte até além de São Paulo, passando dentro da estação de Luz e seguindo dando uma enorme volta, passando por Campinas, descendo até Mairinque e dali seguindo até a cidade de Alumínio,  pouco antes de Sorocaba, onde a CBA a transforma em metal.
Estação de Providencia, fechada
 
A linha da Leopoldina é muito antiga. Foi construída nos idos dos anos 1870 e até hoje tem basicamente o mesmo trajeto das suas origens, o que não permite grande velocidade aos trens, que corre no máximo a 30 km horários. Como ele pitorescamente percorre trechos dentro de cidades dividindo as ruas com os automóveis, como em Cataguases, Recreio e Além Paraíba, a velocidade cai mais ainda.
Estação de São Martinho, também fechada
 
As povoações que se formaram a partir das estações são hoje bairros rurais. Não progridem; quem mora ali é teimoso. Longe da sede do município de Leopoldina, três das quatro pertencem a ele. Têm poucas ruas, onde se vê gente simples. A miséria não parece acampar ali; ali somente mora quem tem alguma renda para se manter. A vida é calma, cada uma tem sua igreja e sua escolinha. São elas as viúvas da Leopoldina: Trimonte (esta, a única que pertence a Volta Grande), Providência, São Martinho e Abaíba.

Perderam o trem de passageiros nos anos 1970, cem anos depois de terem se formado exatamente pela sua passagem por ali. Na sua retirada, a linha cargueira somente sobreviveu pela existência da mina de bauxita ali perto. Em troca do trem suprimido, a promessa de que viria uma estrada asfaltada como compensação, comlinhas de ônibus. O asfalto não veio. Os ônibus sim, mas lentos e sacolejantes na estradinha cheia de buracos, poeira e pedras. Uma vergonha que o Brasil carrega: excesso de promessas e falta de cumprimento delas. Por que retiraram dali os trens, então?
A estação de Abaíba virou escola de corte e costura
 
Volta Grande e Recreio, sedes de município, têm seu asfalto. O de Recreio vem da BR-116 e acaba ali, depois de 13 km. Todos os outros acessos - não há poucos - são em terra. Volta Grande também tem seu acesso asfaltado, também saindo da BR-116 próximo a Além Paraíba, seguindo dali para Pirapetinga, Santo Antonio de Pádua e outras cidades, já dentro do Estado do Rio.
Sempre se acha pelo caminho uma velha sede de fazenda no caminho. À frente dela, palmeiras imperiais e a linha de trem
 
As vilas viúvas não pedem a volta do trem, porque sabem que ele não voltará. Os governos brasileiros detestam trens e não resistem ao lobby das empresas de ônibus. Ônibus que, na estradinha, vi passar um durante a uma hora em que a estive percorrendo ontem.
A estação de Recreio virou museu
 
As fotografias que acompanham o texto foram todas tiradas ontem por mim.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

ANTA, RJ, PERDE SEU TREM

A estação da Anta, em 2009. Foto Jorge Alves Ferreira

A estação da Anta, no bairro do mesmo nome, município de Sapucaia, RJ, acaba de perder seus trilhos. As duas estações, muito antigas - dos anos 1870 - ficam muito próximas às margens do rio Paraíba do Sul e pertencem à antiga Linha Auxiliar da Central do Brasil - que, dos anos 1970 em diante, passou a ser percorrida somente por trens oriundos da Leopoldina.

Essa linha perdeu os trens de passageiros entre a estação de Japeri e de Porto Novo do Cunha no início dos anos 1980. Só sobraram os trens de subúrbio até Japeri, hoje operados pela Supervia. A linha é de bitola métrica, mas originalmente tinha bitola de 1,60 m. Onze anos depois de a linha Auxiliar, métrica, chegar a Entre Rios (hoje Três Rios), em 1911, ela teve a bitola estreitada para métrica para servir como continuação da outra linha.

Ampliando o mapa, clicando sobre ele, dá para ver Sapucaia no alto e Anta, embaixo à esquerda (Google Maps, 2010) - Foto aérea tomada antes da construção da nova ponte

Em 1996, com a privatização das linhas da antiga Central do Brasil, o trecho da serra, entre Japeri e Paraíba do Sul, deixou de ter movimento dos cargueiros e foi abandonada. Vários quilômetros de trilhos nesse trecho já foram arrancados e boa parte roubados. Porém, o trecho final entre Paraíba do Sul e Porto Novo continua com tráfego, principalmente - ou somente - pelos trens de minério de bauxita que vêm de Cataguazes, mais especificamente de uma estação além, de nome Barão de Camargos. Na estação de Barão de Angra, em Paraíba do Sul, a carga é transferida para os trens de bitola larga da MRS e segue para São Paulo, até a estação de Alumínio, na antiga Sorocabana, passando pelas linhas das extintas Central, Santos-Jundiaí, Paulista, Fepasa (trecho do "corredor de exportação", entre Boa Vista e Mairinque) e Sorocabana.

Ampliando o mapa, clicando sobre ele, vê-se a velha ponte de Anta, à esquerda, depois de uma curva em ferradura (Google Maps, 2010) - Foto aérea tomada antes da construção da nova ponte

Na semana passada, mais uma modificação na velha linha Auxiliar: um trecho próximo ao rio Paraíba que deverá ser inundado pela represa de Simplício foi refeito mais londe do rio e agora passou a cruzar o rio não antes da estação de Anta, mas depois: foram-se os trens de Anta e logo, logo, deverão ir os trilhos, transformados por enquanto num curto ramal já abandonado. A velha ponte, creio, será ou desmontada ou inundada.

Ampliando o mapa, clicando sobre ele, vê-se o local onde foi construída a nova ponte de Anta, no centro, depois de uma curva em ferradura (Google Maps, 2010) - Foto aérea tomada antes da construção da nova ponte

Aliás, a existência da ponte é curiosa: de Três Rios, RJ, a velha linha Auxiliar parte e logo cruza o rio, entrendo no Estado de Minas Gerais. Acompanha o rio, passando pelo município mineiro de Chiador, até cruzá-lo novamente, em Anta, voltando ao estado fluminense, passando pela estação da sede do município de Sapucaia e logo depois cruzando novamente o rio para voltar a Minas, dando pouco depois em Porto Novo, município de Além Paraíba. Ali se liga com a velha linha do Centro da Leopoldina e segue para Cataguases, Ubá e Ponte Nova.

Agora, a nova ponte mudou o ponto de cruzamento, tirando a velha de uso.