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domingo, 3 de julho de 2011

LINHA AUXILIAR: SOBRAS DE GUERRA


O desperdício histórico de dinheiro sempre foi uma regra nas obras construídas no Brasil. Nas estradas de ferro, vê-se isto, infelizmente, com muita clareza. A chamada Linha Auxiliar, em bitola métrica, construída no Estado do Rio de Janeiro, mostra isto.

Ela foi construída nos anos 1890 e aberta em 1898 pela Companhia Melhoramentos do Rio de Janeiro, uma empresa privada e comandada na época pelo Engenheiro Paulo de Frontin. Foi aberta em 1898 e ligava o centro do Rio de Janeiro, na estação Alfredo Maia (hoje desaparecida e não muito distante da estação D. Pedro II) até a cidade de Três Rios. Início e fim de três linhas nessa época: a da Central do Brasil (que já conntinauava com sua linha para Ouro Preto e Belo Horizonte), da Leopoldina (que já continuava de Três Rios até Ponte Nova) e da própria Melhoramentos.


Ou havia nessa época muita carga e passageiros para transportar, ou havia falta de conhecimento do potencial das três linhas. É verdade que entre a Leopoldina e a Central havia uma enorme diferença de percurso, embora início e final fossem os mesmos. Já o da Auxiliar, variava apenas na serra do Mar: subia a serra a leste da Central. Era, no entanto, a Auxiliar - que somente ganhou este nome em 1903, quando foi encampada pela estatal Central do Brasil - uma linha construída sem túneis e em subida mais suave que a da Central. A Leopoldina utilizava cremalheira, passando pela cidade de Petrópolis.

Aqui já não existem mais trilhos.
A encampação da Melhoramentos pela Central já denotava um problema de prejuízo na linha, dada a conceorrência. E, realmente, durante toda a sua vida útil, a Auxiliar esteve longe de utilizar sua plena capacidade. Com a desativação da linha da Leopoldina no trecho entre a Raiz da Serra e Três Rios, que passava por Petrópolis, em novembro de 1964, a Auxiliar passou a ser a linha por onde a Leopoldina subia e descia a serra. Já eram, porém, tempos de declínio das cargas ferroviárias.

Antiga estação de Arcádia.
A linha Auxiliar continuou a ser utilizada cada vez menos até 1996, quando houve a privatização. Após este ano, com concessão da FCA/Ferrovia Centro-Atlântica, passou a não servir para mais nada: vários trechos foram simplesmente abandonados. O maior deles, na serra, entre Paraíba do Sul e Japeri. Apenas o seu trecho de baixada - e, mesmo assim, não todo ele, pois entre Japeri e Tomasinho também foi largado às traças - seguiu e segue sendo utilizado pelos trens metropolitanos hoje da Supervia.


Laercio Tobias fotografou um desses trecho, na serra do Mar, entre as estações de Arcadia e de Vera Cruz. São cerca de 10 quilômetros. Ao constrário de outros trechos, este ainda tem a linha em boa parte dele, embora coberta de mato, e "protegida" pelas vaquinhas que pastam sem ter de se preocupar com qualquer trem que já por ali não passa há mais de dez anos.
Aqui os trilhos existem, bem escondidos. Os antigos postes de telégrafo ajudam a achá-los.
Pois é: uma linha que ainda poderia estar sendo aproveitada, inclusive para transporte de passageiros regionalmente na região de Governador Portela, Pati do Alferes e Miguel Pereira, serve apenas para mostrar como se joga dinheiro fora neste país.
Aqui, as vaquinhas cuidam do antigo leito.
As fotografias foram tiradas por Laercio Tobias durante este mês de junho.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

ANTA, RJ, PERDE SEU TREM

A estação da Anta, em 2009. Foto Jorge Alves Ferreira

A estação da Anta, no bairro do mesmo nome, município de Sapucaia, RJ, acaba de perder seus trilhos. As duas estações, muito antigas - dos anos 1870 - ficam muito próximas às margens do rio Paraíba do Sul e pertencem à antiga Linha Auxiliar da Central do Brasil - que, dos anos 1970 em diante, passou a ser percorrida somente por trens oriundos da Leopoldina.

Essa linha perdeu os trens de passageiros entre a estação de Japeri e de Porto Novo do Cunha no início dos anos 1980. Só sobraram os trens de subúrbio até Japeri, hoje operados pela Supervia. A linha é de bitola métrica, mas originalmente tinha bitola de 1,60 m. Onze anos depois de a linha Auxiliar, métrica, chegar a Entre Rios (hoje Três Rios), em 1911, ela teve a bitola estreitada para métrica para servir como continuação da outra linha.

Ampliando o mapa, clicando sobre ele, dá para ver Sapucaia no alto e Anta, embaixo à esquerda (Google Maps, 2010) - Foto aérea tomada antes da construção da nova ponte

Em 1996, com a privatização das linhas da antiga Central do Brasil, o trecho da serra, entre Japeri e Paraíba do Sul, deixou de ter movimento dos cargueiros e foi abandonada. Vários quilômetros de trilhos nesse trecho já foram arrancados e boa parte roubados. Porém, o trecho final entre Paraíba do Sul e Porto Novo continua com tráfego, principalmente - ou somente - pelos trens de minério de bauxita que vêm de Cataguazes, mais especificamente de uma estação além, de nome Barão de Camargos. Na estação de Barão de Angra, em Paraíba do Sul, a carga é transferida para os trens de bitola larga da MRS e segue para São Paulo, até a estação de Alumínio, na antiga Sorocabana, passando pelas linhas das extintas Central, Santos-Jundiaí, Paulista, Fepasa (trecho do "corredor de exportação", entre Boa Vista e Mairinque) e Sorocabana.

Ampliando o mapa, clicando sobre ele, vê-se a velha ponte de Anta, à esquerda, depois de uma curva em ferradura (Google Maps, 2010) - Foto aérea tomada antes da construção da nova ponte

Na semana passada, mais uma modificação na velha linha Auxiliar: um trecho próximo ao rio Paraíba que deverá ser inundado pela represa de Simplício foi refeito mais londe do rio e agora passou a cruzar o rio não antes da estação de Anta, mas depois: foram-se os trens de Anta e logo, logo, deverão ir os trilhos, transformados por enquanto num curto ramal já abandonado. A velha ponte, creio, será ou desmontada ou inundada.

Ampliando o mapa, clicando sobre ele, vê-se o local onde foi construída a nova ponte de Anta, no centro, depois de uma curva em ferradura (Google Maps, 2010) - Foto aérea tomada antes da construção da nova ponte

Aliás, a existência da ponte é curiosa: de Três Rios, RJ, a velha linha Auxiliar parte e logo cruza o rio, entrendo no Estado de Minas Gerais. Acompanha o rio, passando pelo município mineiro de Chiador, até cruzá-lo novamente, em Anta, voltando ao estado fluminense, passando pela estação da sede do município de Sapucaia e logo depois cruzando novamente o rio para voltar a Minas, dando pouco depois em Porto Novo, município de Além Paraíba. Ali se liga com a velha linha do Centro da Leopoldina e segue para Cataguases, Ubá e Ponte Nova.

Agora, a nova ponte mudou o ponto de cruzamento, tirando a velha de uso.