
O desperdício histórico de dinheiro sempre foi uma regra nas obras construídas no Brasil. Nas estradas de ferro, vê-se isto, infelizmente, com muita clareza. A chamada Linha Auxiliar, em bitola métrica, construída no Estado do Rio de Janeiro, mostra isto.
Ela foi construída nos anos 1890 e aberta em 1898 pela Companhia Melhoramentos do Rio de Janeiro, uma empresa privada e comandada na época pelo Engenheiro Paulo de Frontin. Foi aberta em 1898 e ligava o centro do Rio de Janeiro, na estação Alfredo Maia (hoje desaparecida e não muito distante da estação D. Pedro II) até a cidade de Três Rios. Início e fim de três linhas nessa época: a da Central do Brasil (que já conntinauava com sua linha para Ouro Preto e Belo Horizonte), da Leopoldina (que já continuava de Três Rios até Ponte Nova) e da própria Melhoramentos.

Ou havia nessa época muita carga e passageiros para transportar, ou havia falta de conhecimento do potencial das três linhas. É verdade que entre a Leopoldina e a Central havia uma enorme diferença de percurso, embora início e final fossem os mesmos. Já o da Auxiliar, variava apenas na serra do Mar: subia a serra a leste da Central. Era, no entanto, a Auxiliar - que somente ganhou este nome em 1903, quando foi encampada pela estatal Central do Brasil - uma linha construída sem túneis e em subida mais suave que a da Central. A Leopoldina utilizava cremalheira, passando pela cidade de Petrópolis.

A encampação da Melhoramentos pela Central já denotava um problema de prejuízo na linha, dada a conceorrência. E, realmente, durante toda a sua vida útil, a Auxiliar esteve longe de utilizar sua plena capacidade. Com a desativação da linha da Leopoldina no trecho entre a Raiz da Serra e Três Rios, que passava por Petrópolis, em novembro de 1964, a Auxiliar passou a ser a linha por onde a Leopoldina subia e descia a serra. Já eram, porém, tempos de declínio das cargas ferroviárias.

A linha Auxiliar continuou a ser utilizada cada vez menos até 1996, quando houve a privatização. Após este ano, com concessão da FCA/Ferrovia Centro-Atlântica, passou a não servir para mais nada: vários trechos foram simplesmente abandonados. O maior deles, na serra, entre Paraíba do Sul e Japeri. Apenas o seu trecho de baixada - e, mesmo assim, não todo ele, pois entre Japeri e Tomasinho também foi largado às traças - seguiu e segue sendo utilizado pelos trens metropolitanos hoje da Supervia.

Laercio Tobias fotografou um desses trecho, na serra do Mar, entre as estações de Arcadia e de Vera Cruz. São cerca de 10 quilômetros. Ao constrário de outros trechos, este ainda tem a linha em boa parte dele, embora coberta de mato, e "protegida" pelas vaquinhas que pastam sem ter de se preocupar com qualquer trem que já por ali não passa há mais de dez anos.

Pois é: uma linha que ainda poderia estar sendo aproveitada, inclusive para transporte de passageiros regionalmente na região de Governador Portela, Pati do Alferes e Miguel Pereira, serve apenas para mostrar como se joga dinheiro fora neste país.

As fotografias foram tiradas por Laercio Tobias durante este mês de junho.