Mostrando postagens com marcador linha do centro da Leopoldina. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador linha do centro da Leopoldina. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

E. F. LEOPOLDINA: FIM DOS TEMPOS



O Brasil está mesmo num buraco sem fundo. As ferrovias, então, nem se fala, estão todas a caminho do fim. E, infelizmente, se não foram recuperadas até agora, não vai ser no atual momento que o serão.

Tanta gente, tantas instituições gostariam de ter o material das fotografias, mas a RFFSA não o fez nem sequer gerar dinheiro vendendo como sucata.

Os responsáveis, podem ter certeza, jamais serão punidos por isto. Além do mais, o que eles fizeram é crime ambiental.

Enfim: estas fotografias, tiradas por um cidadão de nome Anderson Fuscão (parece que foram tomadas há poucos dias) e postadas no Facebook há dois dias. Mostram vagões que estavam estacionados nos desvios da estação de Barão de Camargo e que teriam sido arrastados para o meio do mato, ou seja, no trecho de linha entre essa estação e a de Sinimbu, que não é utilizada já há pelo mesmo vinte anos.

O trem cargueiro com bauxita trafegou entre Barão de Camargo e Paraíba do Sul até 31 de agosto de 2015. Aí parou e alguém (concessionária?) teria arrastrado o material, tirando-o do pário da estação que fazia o carregamento (era Barão de Camargo) e levando-o para a linha que já estava abandonada.

Por que fez isto? Provavelmente para não ter de pagar pela remoção até algum depósito. Era melhor esconder.

Concordo que o material era antigo, provavelmente já era inservível, etc e tal. Mesmo assim, é muita cara de pau. Mas é assim que hoje funcionam (ou não funcionam) as ferrovias brasileiras (ou melhor, o que restou delas).

Em tempo: a ferrovia original era a da Leopoldina, Linha do Centro, que ligava Ubá a Além Paraíba, passando por Cataguases. Construída em 1877. Abandonada e sem tráfego desde 1996, com exceção do trecho Barão de Camargos-Além Paraíba, que acabou fechado há pouco mais de um ano atrás.

Tire suas conclusões. Veja o resto das fotos.



segunda-feira, 1 de outubro de 2012

AS VIÚVAS DA LEOPOLDINA

 O trem chega de Paraíba do Sul e passa pelo centro das ruas de Além Paraíba

Nesta manhã de domingo eu percorri a estrada que liga as cidades de Volta Grande e de Recreio, estrada de terra de cerca de 40 quilômetros que acompanha a antiga Linha do Centro da E. F. Leopoldina, no sul de Minas e próximo à divisa do estado com o Rio de Janeiro.

A linha ainda é utilizada hoje, entre Barão de Camargos (pátio e estação seguinte à estação e cidade de Cataguazes) e Além Paraíba e dali seguindo até a estação de Barão de Angra, seguindo a partir de Três Rios em linha de bitola mista. Em Barão de Angra, ao lado do km 179 da BR-393, rodovia que liga Além Paraíba a Volta Redonda e que, na prática, é a estensão da BR-116 entre essas duas cidades. Por toda a sua extensão, acompanha, de perto ou pouco mais de longe, o rio Paraíba do Sul.
A estação de Trimonte, abandonada
 
A linha somente transporta bauxita, minério de alumínio que literalmente parece terra comum e que, extraído em Barão de Camargos, segue pela antiga linha da Leopoldina - praticamente a única linha ainda ativa da velha e saudosa ferrovia em meio a uma antiga e extensa rede, até Três Rios, onde junta-se por linha de bitola mista à antiga linha do Centro da também finada Central do Brasil, que sempre teve ali bitola larga. Seguindo dali até a cidade de Paraíba do Sul, passa pelo centro desta cidade e segue até Barão de Angra, onde a bitola mista termina. Aí, há um maquinário que transfere a carga dos vagões de bitola métrica para os da larga, para transporte até além de São Paulo, passando dentro da estação de Luz e seguindo dando uma enorme volta, passando por Campinas, descendo até Mairinque e dali seguindo até a cidade de Alumínio,  pouco antes de Sorocaba, onde a CBA a transforma em metal.
Estação de Providencia, fechada
 
A linha da Leopoldina é muito antiga. Foi construída nos idos dos anos 1870 e até hoje tem basicamente o mesmo trajeto das suas origens, o que não permite grande velocidade aos trens, que corre no máximo a 30 km horários. Como ele pitorescamente percorre trechos dentro de cidades dividindo as ruas com os automóveis, como em Cataguases, Recreio e Além Paraíba, a velocidade cai mais ainda.
Estação de São Martinho, também fechada
 
As povoações que se formaram a partir das estações são hoje bairros rurais. Não progridem; quem mora ali é teimoso. Longe da sede do município de Leopoldina, três das quatro pertencem a ele. Têm poucas ruas, onde se vê gente simples. A miséria não parece acampar ali; ali somente mora quem tem alguma renda para se manter. A vida é calma, cada uma tem sua igreja e sua escolinha. São elas as viúvas da Leopoldina: Trimonte (esta, a única que pertence a Volta Grande), Providência, São Martinho e Abaíba.

Perderam o trem de passageiros nos anos 1970, cem anos depois de terem se formado exatamente pela sua passagem por ali. Na sua retirada, a linha cargueira somente sobreviveu pela existência da mina de bauxita ali perto. Em troca do trem suprimido, a promessa de que viria uma estrada asfaltada como compensação, comlinhas de ônibus. O asfalto não veio. Os ônibus sim, mas lentos e sacolejantes na estradinha cheia de buracos, poeira e pedras. Uma vergonha que o Brasil carrega: excesso de promessas e falta de cumprimento delas. Por que retiraram dali os trens, então?
A estação de Abaíba virou escola de corte e costura
 
Volta Grande e Recreio, sedes de município, têm seu asfalto. O de Recreio vem da BR-116 e acaba ali, depois de 13 km. Todos os outros acessos - não há poucos - são em terra. Volta Grande também tem seu acesso asfaltado, também saindo da BR-116 próximo a Além Paraíba, seguindo dali para Pirapetinga, Santo Antonio de Pádua e outras cidades, já dentro do Estado do Rio.
Sempre se acha pelo caminho uma velha sede de fazenda no caminho. À frente dela, palmeiras imperiais e a linha de trem
 
As vilas viúvas não pedem a volta do trem, porque sabem que ele não voltará. Os governos brasileiros detestam trens e não resistem ao lobby das empresas de ônibus. Ônibus que, na estradinha, vi passar um durante a uma hora em que a estive percorrendo ontem.
A estação de Recreio virou museu
 
As fotografias que acompanham o texto foram todas tiradas ontem por mim.