segunda-feira, 19 de março de 2012

MITOS FERROVIÁRIOS

Os últimos dias do trem do sertão, que ligava Montes Claros a Monte Azul. Em vez de modernização, a extinção. Em vez de respeito pelos usuários, o descaso total (foto Gazeta Mercantil, 1998)

Existem muitos mitos sobre ferrovias no Brasil. Um deles é que "mineiro gosta de trens". Gosta mesmo?

Gostaria até que fosse verdade. Afinal, Minas deveria ter "trens bãos" circulando ainda por boa parte do seu Estado. Acontece, porém, que em Minas os trens foram exterminados com a mesma velocidade com que isso ocorreu nos outros Estados da federação.

Mas Minas Gerais, de fato, ainda tem um dos três únicos verdadeiros trens de passageiros do Brasil: o Vitória-Minas, desde 1942 tocado pela Vale (antes, desde 1904, a ferrovia foi privada e depois, do governo federal). Tem também quatro trens turísticos (grande coisa!), dois tocados pela iniciativa privada da ABPF e dois pela FCA. Extensão total destes últimos? Não chegam a cem quilômetros.

Mas e os velhos trens da Leopoldina? Da Central? Da "bitolinha" da Oeste de Minas? Da Mogiana? Da Sapucaí? Os três últimos trens mineiros foram extintos em 1996: o Barra Mansa-Ribeirão Vermelho, o Montes Claros-Monte Azul e o Xangai de Juiz de Fora, além do subúrbio Belo Horizonte-Rio Acima. Alguém reclamou? Apenas aceitaram passivamente, como o resto dos brasileiros fez na imensa maioria dos casos nos outros Estados desde 1960.

E olhe que (de novo, fora os atuais três trens de passageiros) os últimos trens de passageiros rodaram... em São Paulo, em 2001.

Lemos nos jornais, hoje, notícias pedindo a volta do trem São Paulo-Campinas, que qualquer idiota sabe que é algo bastante viável, uma necessidade e que nunca deveria ter parado (em 1998). Fala-se do Trem-Bala (que está virando piada, mas que ainda dele se fala, ah!, se fala!)... mas e Minas? Afinal, os mineiros não gostam tanto de trens?

Onde estão os mineiros reclamando de volta por seus trens? Não por ridículos e inúteis trens turísticos aqui e ali, mas por algo que os beneficie, como os antigos trens de passageiros que hoje não mais existem. Provem que não são lendas a sua veneração por trens.

Será que um trem BH-Rio, outro BH-São Paulo não é algo viável (aliás, este último nunca existiu). BH-Uberlândia? BH-Montes Claros? BH-Brasília? Serei tão estúpido em sugerir tudo isto? Não, eu acho que somos todos uns bobões em não exigir todos eles. E, claro, de uma forma moderna. Esqueçam os trens do passado; eles eram bons, mas tiveram seu tempo. Esqueçam as linhas atuais que sobrevivem em todos essas linhas sugeridas, que, se fossem utilizadas por eles hoje, inviabilizá-los-ia por causa de suas curvas e tempo de percurso.

Que voltem os "trens bãos", como trens bons mesmo.

5 comentários:

  1. Eu conheço tão pouca gente que usa o trem BH-Vitória. Queria fazer uma matéria a respeito e ver se ele está sendo bem utilizado, se existe demanda reprimida ou se as pessoas simplesmente não gostam de andar de trem. Eu mesma sempre quis fazer esse passeio, mas todos riem quando falo que vou ficar 12 horas no trem quando poderia gastar umas 8h de ônibus ou 1h de avião...

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    1. Kika, o movimento é grande, sim. E maior ainda ente BH e Ipatinga e também de muita gente que pega em estações no meio do caminho para ir a outra também no meio do caminho. Quanto ao tempo de viagem... bem, nada, mas nada, se compara ao conforto de uma viagem de trem. Foi isto que todos nós perdemos.

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  2. Eu viajei no trem BH-Vitória em janeiro de 2011. Aliás, fui do PR pra MG com dois objetivos: conhecer as cidades históricas de MG e viajar no trem da Vale. Quando cheguei em BH fui comprar a passagem e enfrentei uma longa fila. Pra minha sorte eu só viajaria 8 dias depois, pois para os próximos 6 dias as passagens estavam esgotadas. E não era por causa de turistas, mas sim da população que sua o trem normalmente. No dia da viagem, num trem enorme (não contei quantos carros tinha, mas era realmente grande) ainda conversei com um rapaz que sentou do meu lado e dizia que ia visitar os parentes numa cidadezinha que não recordo o nome e que não tinha dúvidas sobe preferir o trem ao ônibus, devido ao conforto, espaço e mesmo pelo simples prazer de andar de trem.
    A viagem transcorreu tranquila, com o trem sempre lotado de pessoas entrando e saindo nas paradas durante todo o trajeto. A única reclamação que presenciei foi de pessoas descontentes com a demora no serviço do carro lanchonete. Eu, como estava só passeando, nem liguei pra isso...

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  3. Sou um mineiro que gosta de trem. Porém não fico me iludindo em fantasias, imaginando e chorando os antigos trens de passageiros - aquilo "já era". Luto, praticamente só, para que se reconstrua a ligação férrea sul de Minas à região de Campinas (ferrovia de CARGA). Esta linha a se refazer também pode ser chamada de ligação direta BH/Campinas... Quem quiser entender tem que gostar de trens, de verdade. Sou um mineiro que gosta de trens do progresso.

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  4. A volta dos trens de passageiros em Minas é bastante viável sim, já que a malha ainda está aí (a maioria dela) e os carros de passageiros também, o problema é que a maioria das empresas privadas não gosta de investir no transporte de pessoas a longa distancia. Aliado ao fato de que a maioria prefere arriscar a vida numa rodovia selvagem metido dentro de seus carrinhos do que fazer uma viagem totalmente segura e confortável de trem. Falta mais consciência da parte do povo, que infelizmente não faz ideia do que perdeu.

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